CUT
Socializar, compartilhar e construir saberes. Após sete módulos, intensos debates, troca de experiências e novos conhecimentos, chegou ao fim na semana passada a trajetória de estudos da terceira turma do curso de extensão universitária “Políticas e Sindicalismo Internacionais”.
Todo curso ocorreu nas dependências do Instituto Cajamar, histórico centro de formação político-sindical, hoje Cooperinca (Cooperativa dos Trabalhadores do Instituto Cajamar).
Voltado a dirigentes e assessores sindicais de entidades filiadas à CUT, o projeto é um convênio entre a Central e o Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho), do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Iniciaram o curso em agosto do ano passado 39 estudantes, sendo 19 mulheres e 20 homens, representantes de diferentes ramos de atividade e setores econômicos em que a CUT atua, contemplando a diversidade e a pluralidade do nosso País. Destes, 38 receberam o diploma de conclusão em solenidade realizada na última quinta-feira (27), na sede da CUT Nacional.
Na oportunidade, o secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício, ressaltou a importância histórica da formação da Central. Sobre o curso, assinalou que os/as dirigentes que dele participam saem mais preparados/as para enfrentar um cenário altamente complexo. As recentes e constantes transformações do capitalismo, onde o capital detém grande mobilidade e interação em vários países e em diversas formas, demanda uma organização da classe trabalhadora a nível internacional
Para o professor José Dari Krein, coordenador de pós-graduação na área social do trabalho no Instituto de Economia da Unicamp, essa relação com a academia qualifica o movimento sindical para intervir numa realidade cada vez mais complexa. “As transformações são de grande profundidade. Investir na formação sindical, em um curso como este, é fundamental para compreender melhor a natureza das transformações em curso, seja no local de trabalho, tipo de ocupação que é gerada, entender a dinâmica do capitalismo mais recente, quais as políticas econômicas que vão sendo adotadas, como é a forma que o país se insere no processo de globalização, quais são as estratégias dos grandes grupos econômicos internacionais, porque isso é a base para se pensar a estratégia sindical, as formas de organização e resistência dos trabalhadores, a forma de luta mais adequada para enfrentar esse mundo moderno”, disse.
José Celestino Lourenço, o Tino, secretário de Formação da CUT, falou sobre o protagonismo da Central na relação com os movimentos de outros países. “Durante a 102ª Conferência Internacional do Trabalho da OIT (Organização Internacional do Trabalho) – junho de 2013 – foi realizada a reunião da Comissão de Normas, onde as denúncias sobre as violações são tratadas pelas três bancadas (governos, trabalhadores e empresários). E neste espaço a CUT foi convidada a fazer a defesa dos trabalhadores dos países da África, o que reflete a nossa representatividade”, ponderou
Já o secretário-adjunto de Formação da CUT, Admirson Medeiros, o Greg, trouxe uma mensagem deixada pelo presidente da Central, Vagner Freitas, que não pode comparecer a solenidade por estar em compromisso no Rio de Janeiro.
Na carta, Vagner destaca o poder transformador da educação. “Por isso somos a Central que mais investe em formação. Tarefa ainda maior de nos prepararmos para os embates cada vez mais ferozes entre capital e trabalho.”
Conteúdo abrangente – neste curso de extensão universitária os alunos também são protagonistas. Qualquer formalidade e/ou burocracia acadêmica é deixada de lado.
Os dirigentes tomam conhecimento de teorias da economia, da política, da história mundial, do surgimento do movimento sindical e sua evolução e as relacionam com a luta cotidiana.
Entre os expositores e responsáveis pelas aulas, passaram pelo curso o sociólogo Emir Sader, o economista e professor licenciado da Unicamp Marcio Pochmann, o diretor executivo do Cesit Anselmo Luis dos Santos, o professor doutor do Instituto de Economia da Unicamp Eduardo Fagnani, o deputado federal Vicentinho (PT-SP) e dirigentes da CUT, incluindo o presidente Vagner
O curso foi divido em sete módulos trabalhados durante uma semana no mês. Cada módulo abordava uma temática, mas todos estavam interligados entre si: entender o capitalismo, sua lógica e efeitos na organização dos trabalhadores; o funcionamento da macroeconomia; a história do capitalismo durante o século XX; o desenvolvimento da América Latina e os principais problemas atuais; a economia brasileira e sua relação com o mundo do trabalho; o contexto da evolução do neoliberalismo; os instrumentos necessários para a atuação do sindicalismo internacional.
As aulas ocorriam no período da manhã e da tarde. Antes, os alunos divididos em três grupos participavam de uma monitoria para que pudessem se apropriar do conteúdo e facilitar no processo de compreensão e participação. Monitorias que eram coordenadas por Valter Palmieri Jr., economista e doutorando na área de desenvolvimento econômico no Instituto de Economia da Unicamp; Lucas Andrietta, também economista e aluno do mestrado em economia social e do trabalho no Instituto de Economia da Unicamp; e Ana Elisa, formada em ciências sociais e que recentemente concluiu seu mestrado na mesma área.
– Retomada do Instituto Cajamar fortalece a formação de novas lideranças sindicais
Após as aulas os integrantes do curso se reuniam novamente em grupos menores para discutir os temas mais relevantes do dia, um trabalho de sistematização. Ainda havia um espaço reservado para que os alunos debatessem e organizassem o trabalho de conclusão.
Durante os cinco primeiros módulos o curso foi coordenado pela economista e pedagoga social Rita Kallabis, doutoranda em economia social e do trabalho pelo Instituto de Economia da Unicamp, que por motivos pessoais precisou se afastar, sendo substituída pela companheira Marilane Teixeira, que está a concluir seu doutorado em economia social e do trabalho também na Unicamp.
Sujeitos da transformação – uma novidade nesta terceira turma foi à necessidade de apresentação de um trabalho final. Os alunos escolheram um tema e, em grupo, trabalharam durante seis módulos na construção do trabalho e de propostas para a CUT através de leituras, estudos e complementação das bibliografias.
Valter Palmieri acompanhou a realização de todos os três cursos. Em sua opinião, os grupos de trabalho foram de grande importância para que os alunos não apenas assimilassem o conhecimento da academia, mas que também fossem os sujeitos da transformação, de produção do conhecimento.
Novos frutos – Valter também observa um ponto em comum nos três cursos. A partir dele, vários alunos retomaram os estudos.
Caso do companheiro Admirson Medeiros, o Greg, que esteve na primeira turma e estimulado pelo projeto decidiu retornar à Universidade.
Outro exemplo vem da terceira turma. Raimunda Audinete, 55 anos, formada em filosofia, entrou no movimento sindical há apenas seis anos. Integra hoje a direção da Fittel (Federação Interestadual dos Trabalhadores de Telecomunicações), da CUT-RN e é suplente na CUT Nacional.
Em sua trajetória, destaca a importância da formação da CUT. Paralelo ao curso de Política e Sindicalismo Internacionais, Audinete iniciou uma pós-graduação em planejamento educacional e políticas públicas. “Quero contribuir com a formação da CUT no meu Estado. Inclusive, juntamente com os companheiros Eliete e Olinto (que também participaram do curso e são do RN), vamos procurar a Universidade Federal do Rio Grande do Norte para fazermos uma parceria”, relatou.
O professor Dari Krein aponta a necessidade de que todos os alunos que passaram pelo curso de Política e Sindicalismo Internacionais também tenham espaço de reflexão e atualização, “porque o conhecimento é algo permanente.”