Contraf/CUT
Nesta quarta-feira 9, pela manhã, o IBGE divulgou o IPCA de setembro, mostrando que a inflação acumulada dos últimos 12 meses caiu para 5,86%, ficando pela primeira vez no ano abaixo dos 6%. À noite, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou o quinto aumento consecutivo da taxa Selic, agora para 9,5% ao ano.
"É uma contradição inexplicável que desnuda a real intenção do Copom. Não existe o risco de uma inflação de demanda que justifique esse aumento da taxa básica de juros. Fica mais claro do que nunca que o objetivo por trás do discurso da necessidade de controlar a pressão inflacionária é na verdade atender os interesses das instituições financeiras, as principais detentoras da dívida pública", acusa Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.
"Esse aumento da Selic penaliza a atividade econômica e reduz o ritmo do crescimento, colocando em risco o emprego e a renda das famílias. Encarece o crédito e compromete a produção industrial do país, que depende de financiamento para viabilizar os investimentos", acrescenta Cordeiro.
Segundo o Ministério da Fazenda, o Brasil gasta 4,7% do PIB com juros. Para 2014, está previsto que 8% do Orçamento da União serão destinados ao pagamento de juros e encargos da dívida pública, ou aproximadamente R$ 190 bilhões. Somando-se ainda o que se gasta com a amortização da dívida e outras despesas financeiras, tem-se praticamente a metade do orçamento da União sendo destinada apenas ao pagamento da dívida pública, o que equivale a mais de R$ 1,1 trilhão.
Hoje, 38,2% dos títulos da dívida são remunerados pela Selic. Praticamente já foi neutralizado quase todo o esforço feito para baixar a taxa básica desde agosto de 2011.
De acordo com estimativas do Dieese, a cada 0,5 ponto percentual a mais na Selic a dívida cresce R$ 3 bilhões ao ano, recursos que acabam sendo transferidos, em grande parte, para os bancos, que detêm 27,8% desse estoque (equivalente a R$ 527 bilhões), segundo dados do Relatório da dívida pública elaborado pelo Tesouro Nacional em agosto último.
Outro fator importante é que os bancos têm grande interesse em que a taxa básica de juros aumente para desestimular a poupança e redirecionar recursos para os fundos de investimentos, cujas taxas de administração são altíssimas. Além disso, os depósitos compulsórios são também, em parte, remunerados pela Selic.
"Isso tudo mostra que mais uma vez o Copom e o Banco Central se acovardaram diante do terrorismo do mercado financeiro e dos especuladores. A transferência de bilhões de recursos públicos para as instituições financeiras, além de desestimular o crescimento, encarecendo o crédito e freando a geração de empregos e renda, ajuda a entender por que o Brasil, apesar de ser a sexta maior economia, está no vergonhoso ranking dos dez países com a maior concentração de renda no planeta", critica Carlos Cordeiro.
Leia também:
Greve nacional dos bancários arranca negociação com Fenaban nesta quinta