Brasil de Fato
Onze dias depois do assassinato do militante Cícero Guedes, 48 anos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), outra trabalhadora rural ativista sem-terra foi executada: Regina dos Santos Pinho, 56 anos, no assentamento Zumbi dos Palmares, em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, mesma cidade onde o corpo de Cícero foi encontrado.
Sem contato com a vizinhança desde domingo (3), seu corpo foi encontrado seminu, em sua casa, com um lenço vermelho amarrado no pescoço, na quarta-feira (6).
“É um crime bárbaro. Queremos ressaltar o nível de barbaridade deste assassinato e que as motivações sejam elucidadas. Em princípio, não vemos relação direta com a luta pela terra e com o assassinato de Cícero. Mas não podemos descartar nada e nem afirmar nada”, afirmou a dirigente do MST, Marina dos Santos.
Segundo relatos de integrantes do movimento, Regina e Cícero eram muito próximos e ambos eram referência em agroecologia no assentamento Zumbi do Palmares.
“Foi uma morte brutal. Ainda não temos mais informações, mas indica que foi crime de violência sexual. No entanto, se trata de uma perda irreparável e este crime deve ser investigado com todo rigor”, consta em uma nota divulgada pela secretaria estadual do movimento.
Conforme o delegado da 146ª DP, Carlos Augusto Guimarães, está descartado o crime de latrocínio (roubo seguido de morte), já que foram encontrados dinheiro e pertences de valor na casa da vítima. Guimarães considera as hipóteses de que tenha ocorrido um crime sexual ou que a morte tenha sido motivada por disputa pela terra.
“Não descartamos crime sexual e a questão envolvendo o problema da terra. Não há sinais de luta, nem marca de sangue próximo ao corpo, que estava em adiantado estado de decomposição”, afirmou.
Regina atuava no MST há uma década. A polícia foi acionada por vizinhos que estranharam a ausência da militante na missa de Sétimo Dia de Cícero, ocorrida na segunda-feira (4). Ela foi vista pela última vez no domingo, quando retornou ao assentamento de carona em uma moto. O motociclista ainda não foi identificado. Segundo os vizinhos, a assentada morava sozinha e não tinha inimigos.
“Fui informado de que ela voltou de uma praia no domingo de carona com um homem, ainda não identificado, e teria oferecido o combustível em troca da carona. Ninguém aqui o conhece e nem tem informação sobre a moto, nem de que praia foi essa, mas vamos investigar tudo”, disse o delegado Guimarães.
O local do crime foi periciado e o laudo da polícia técnica, com o apontamento da causa da morte, deverá ficar pronto nos próximos 15 dias.
Cícero Guedes
No dia 26 de janeiro, Cícero Guedes foi assassinado com mais de dez tiros em uma estrada de terra, próxima à BR-356, que liga Campos dos Goytacazes a São João da Barra, no estado do Rio de Janeiro. O funcionário público José Renato Gomes de Abreu, de 45 anos, foi preso em 1º de fevereiro, acusado pelo assassinato da liderança. A Polícia Civil informou que ele pretendia assumir a liderança do assentamento, com apoio de traficantes que atuam nas imediações.