Poderíamos dar muita risada, em conversas de bar, sobre as manifestações recentes da nossa “cívica e engajada” burguesia. Basta imaginar os animadores profissionais contratados pelo movimento “Cansei”, a gritar “Agora! Todo mundo! Chacoalhando as jóias!”. Mas o tema, infelizmente, é muito mais sério.
Como se sabe, a burguesia “cansada” tenta se organizar a partir da “cientificamente neutra” OAB/SP, sob o patrocínio “politicamente neutro” de entidades patronais e empresas (dentre as quais Fiesp, Febraban e Philips “da Holanda”), com bandeiras que se comparam às da “Marcha da família com Deus”, que antecedeu a Ditadura. O cinismo, pelo menos, é o mesmo.
Apontam o “caos aéreo” como o principal problema do país, e se apresentam como aptos ao “concerto” de tudo (“endireitamento” seria mais sincero). Mas estes “cansados” são exatamente os mesmos que se lambuzaram com a privataria, o maior assalto aos cofres públicos da nossa história. São os mesmos que apóiam a “Emenda 3”, para tornar patrões e empregados juridicamente iguais, e acabar com a CLT e o Direito do Trabalho no Brasil (aliás, a “líder” da campanha é a própria OAB/SP). São os mesmos que se beneficiaram com a destruição da educação e da saúde pública, ganhando dinheiro ao transformar direitos humanos em mercadoria.
Na mesma semana em que surgem os “cansados”, roda a Internet um vídeo com um diretor da Globo, e “celebridades” da burguesia carioca e paulistana, a jogar ovos em pedestres, de um mega apartamento na Praia de Ipanema (fazer busca por “ovos ipanema” em www.youtube.com).
A relação entre uma coisa e outra? O completo desrespeito pelo “outro”. Se esse “outro” é um “pobre”, um “qualquer”, não precisa de hospitais, escolas, nem nada que custe dinheiro e impostos aos “cansados”. Ele pode ser alvo de ovos podres que isso é divertido. Afinal, o destino de sua vida é mesmo “servir” aos cansados.
