Os discursos dos líderes na votação do impeachment na Câmara

Na abertura da votação pela admissibilidade do processo de impeachment, os líderes dos partidos na Câmara dos Deputados discursaram, orientando os votos dos membros de suas bancadas. A maioria dos partidos se posicionou a favor do impeachment, mas houve outros que liberaram os deputados para votarem como desejarem e alguns que, mesmo opositores ao governo, se posicionaram contrários ao impedimento da presidente Dilma Rousseff.

O primeiro a falar foi Leonardo Picciani, líder do PMDB, ele disse que a bancada optou pelo voto favorável ao processo de impedimento. “O PMDB jamais agiu como pólo ativo nesse processo. Mas exerceremos hoje a nossa responsabilidade”, disse. Ele informou que parte dos deputados não acompanhariam a decisão da liderança, e disse que respeita a condição  de cada um deles.

Em seguida, foi a vez do deputado Afonso Florence, líder do PT na Câmara. Evidentemente, o partido do governo se posicionou contrário à admissão do processo de impeachment. O líder disse que o relatório do deputado Jovair Arantes deixa claro que não há crime de responsabilidade nos decretos assinados pela presidente e nas pedaladas fiscais. “Por isso a voz das ruas repercute hoje que impeachment é golpe. E a cada momento deputados e deputadas indecisos e que pretendiam votar sim, revelam que vão votar não porque querem rechaçar o risco para o futuro do Brasil de derrota da democracia.

O terceiro a falar foi o deputado Antonio Imbassahy, líder do PSDB. Ele rechaçou as acusações de corrupção contra membros da comissão do impeachment, da oposição e mesmo membros da mesa diretora, dizendo que “Corrupção não se compara, corrupção se pune”. O deputado fez questão de se referir ao povo brasileiro apenas como “aqueles brasileiros que estão lá fora”. “Que Brasil vocês acham que os brasileiros que estão lá fora merecem? O Brasil do Mensalão, do Petrolão, dos Pixulecos, de uma organização criminosa infiltrada no Estado?”, questionou. E disse que todos os deputados do PSDB votariam sim pelo processo de impeachment.

O deputado do PP Aguinaldo Ribeiro, disse, então, que o partido tinha uma posição única para a questão e que todos os membros votariam pela admissibilidade do processo de impeachment. “Obriga-me a consciência fazer um breve registro. Como todos sabem, fui honrado em 2012 pela indicação do meu partido para fazer parte do primeiro governo da presidente Dilma, na posição de ministro das Cidades. Não é porque vamos dizer sim hoje que podemos dizer não ao ontem. Isso seria oportunismo. Durante todo o tempo que exerci a função de ministro do governo Dilma pude atestar inúmeras qualidades da senhora presidente, que é obstinada, determinada e fiel. Porém, não estamos julgando a pessoa da presidente, estamos julgando politicamente o governo”.

Depois dele, Aelton Freitas, do PR, disse que o partido decidiu pelo não, mas que não haveria “patrulhamentos por questão de divergência”. Ele afirmou que a legenda não via legalidade no processo e que o ordenamento de impedir a presidente da República sem prova de crime de responsabilidade só é admitido em um regime parlamentarista. “O PR é um partido que tem linha, que tem atitude, que não se esconde da verdade e assume compromisso de papel passado. O direito à divergência está preservado. Mas isso não quer dizer que alguém adotou uma postura de ocasião para dar o voto contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A decisão foi consignada pela maioria do partido”, explicou.

Rogério Rosso, do PSD, falou em seguida. Ele disse que cada um dos 513 deputados eleitos foram legitimados pelo voto de 96 milhões de brasileiros. “Não fui eu quem ratificou os trabalhos da comissão do impeachment e sim o STF, que ao analisar diversos mandatos de segurança, não deu provimento a nenhum”, lembrou. “Quem julgará a presidente da República será o Senado Federal. Estamos tão somente tratando da admissibilidade da denúncia. E o relatório do deputado Jovair Arantes é cristalino, é claro, está à luz do direito. Portanto, devemos sim admitir a denúncia e encaminhá-la para o Senado, onde a presidente possa se defender”.

O deputado Fernando Coelho Filho, do PSB, falou, então, que o partido se manteve fiel ao governo nos momentos difíceis. “Fomos solidários quando os indicadores econômicos já prenunciavam o momento que estamos vivendo hoje”, mas disse que a presidente perdeu a autoridade e a credibilidade para liderar uma agenda mínima para tirar o país dessa situação. E orientou os deputados da legenda a votarem sim pelo impeachment.

Pauderney Avelino, do DEM, disse que o relatório de Jovair Arantes atende aos preceitos constitucionais preliminares e disse que Dima “Feriu a lei de responsabilidade fiscal, feriu o orçamento federal, e a pena é o impedimento”. Ele não deixou de fazer uma homenagem à imprensa brasileira, e leu em plena tribuna um trecho de um editorial do Estadão. Também fez menção ao juiz Sérgio Moro e ao STF. Não falhou tampouco em fazer uma auto-homenagem à Câmara dos Deputados porque “falem o que falarem, mas é aqui que os brasileiros em crise e desesperados encontram guarida”. Orientou, então, que todos os deputados da legenda votassem no sim.

O deputado Márcio Marinho, do PRB, disse que “há pouco tempo o partido participava desse governo”, mas “Nós logo tomamos a decisão de desembarcar desse governo, mas de cabeça erguida”, e garantiu que os 22 deputados da legenda votariam pela admissibilidade do processo de impeachment.

Depois dele, Wilson Filho, do PTB, disse que era preciso reconhecer que o PT fez bem à democracia. “Foi bom ver um partido de esquerda deixar a posição cômoda da crítica para trabalhar pelo destino do nosso país. O PT fez bem ao entrar. E fará um bem ainda maior ao sair. Por maiores que sejam as virtudes na política, elas não podem justificar os erros do grupo que agora de despede”, afirmou revelando que o partido votaria sim pelo impedimento.

O deputado Weverton Rocha, do PDT, disse então, que a carta constitucional não poderia ser rasgada e que se estivessem vivos, homens como Ulysses Guimarães e Leonel Brizola não admitiriam um processo de impeachment como esse que está sendo realizado. “Não vai ter vencedor e não vai ter vencido. Porque todos nós já perdemos”, lamentou.O partido foi orientado a votar não e o deputado disse que em 2018 eles lançarão Ciro Gomes como candidato da legenda.

O deputado Genecias Noronha, do SD, falou em seguida. Ele afirmou que crimes foram sim praticados, e que chamar o que está acontecendo de golpe é “lorota”. “Insistem em atacar o vice ou o presidente desta casa. Como se isso inocentasse a senhora presidente”, afirmou, e disse que a bancada votaria sim pelo impeachment “para livrar o país da República da Jararaca. Tchau querida”.

Ele convidou o presidente do partido, deputado Paulinho da Força, a usar o tempo que lhe restava. Paulinho aproveitou a oportunidade para entoar uma versão do clássico Para não dizer que não falei das flores, que dizia. “Dilma vai embora que o Brasil não quer você. E leve o Lula junto e os vagabundos do PT”, nesse momento, papéis coloridos foram estourados sobre sua cabeça.

A deputada Renata Abreu, do PTN, disse que o partido votaria sim, “pelo impeachment e pelo Brasil”. “Estamos diante da oportunidade de passar a limpo o Brasil, de respeitar as leis e ouvir as vozes que vêm das ruas. A oportunidade de banir de vez a cultura da corrupção, que pune cada um de nós brasileiros”, afirmou.

Daniel Almeida, do PC do B, disse que a situação é surreal. “Uma presidenta sobre a qual não pesa qualquer denúncia, tem o seu mandato ameaçado por uma conspirata de corruptos liderada por vossa excelência Eduardo Cunha”, relatou.  “Querem transformar esse plenário em um colégio eleitoral. Ele não é um colégio eleitoral. Não estamos no parlamentarismo, não há voto de desconfiança”, ele disse que a agenda ilegítima do governo que assumiria no lugar de Dilma seria a do retrocesso.

O líder do PSC disse que o partido votaria pelo impeachment, assim como os líderes do PPS, PHS, PV, PROS e PSL.

O deputado Ivan Valente, do PSOL, disse que a bancada votaria contra o impeachment, e citou matéria da Revista Exame desta semana que afirma que Cunha recebeu propina de R$ 52 milhões em 36 vezes. “Ele continua balançando a pança e comandando uma massa de deputados que segue a sua orientação”, acusou.

Alessandro Molou, da Rede, disse que a bancada está dividida e cada parlamentar foi liberado para votar de acordo com sua consciência. Mas disse que todos concordam que um processo dessa gravidade “não poderia ser presidido por um réu por corrupção, por lavagem de dinheiro, como o deputado Eduardo Cunha. O que prova que isso que está acontecendo aqui não tem nada a ver com combate à corrupção”.

Silvio Costa, do PT do B, foi mais longe, disse que quem está tentando assumir o poder é o PCC, o Partido da Corja do Cunha. “Esse canalha já devia estar preso. Que país é esse? Onde um bandido, um homem que devia estar na cadeia, quer tirar o mandato de uma mulher honrada, de uma mulher digna. Que país é esse?”.

O deputado Junior Marreca, do PEN, afirmou que o relatório do processo de impedimento não tem embasamento jurídico nenhum e que se forem destituir uma presidente por impopularidade, seria necessário destituir muitos governadores e prefeitos, assim como muitos deputados.

Fonte: Jornal GGN com  e colaboração de Cíntia Alves