Trabalho x Mercado: imprensa como arma de disputa pela Petrobrás

Manchetes focam na diminuição dos lucros da companhia no ano passado, mas omitem que todas as grandes petroleiras tiveram queda nas suas receitas devido ao contexto geopolítico

[Por Rodrigo Alves de Araújo*]

Os anos entre 2003 e 2013 nos mostraram de forma clara e objetiva, que a Petrobrás é um dos principais mecanismos de alavancamento econômico de toda a sociedade brasileira. A questão que temos que levantar é: a quem esse mecanismo atende?

Durante a década mencionada anteriormente, a categoria petroleira conviveu no seu dia a dia laboral com planos de investimentos do Sistema Petrobrás que serviram à classe trabalhadora. Isso ocorreu por meio de massivos concursos públicos, que agregaram à companhia trabalhadores qualificados e, consequentemente, contribuiram para o avanço tecnológico da própria empresa e do país. O melhor exemplo é o fato da Petrobrás ter se tornado vanguarda na exploração de águas profundas durante esse período.

Além disso, os investimentos nesses 10 anos foram responsáveis pela contratação de milhares de trabalhadores terceirizados, aquecendo diversos setores. Desse modo, toda a sociedade brasileira, de forma direta ou indireta, sentiu o aumento da qualidade de vida, já que quando um trabalhador ganha, o mercadinho do bairro ganha, a vendinha, o restaurante, a pizzaria, a lojinha… Todos ganham.

Em contraponto ao cenário descrito, a partir de 2014, a Petrobrás foi atingida em cheio em meio à ofensiva contra o campo democrático. A opinião pública foi bombardeada por meio dos constantes ataques das mídias burguesas (quem não se lembra dos dutos com a marca BR jorrando dinheiro em horário nobre?), culminando no enfraquecimento dos trabalhadores, destruindo cadeias de emprego e arrochando salários e benefícios – pra além das reformas trabalhista e previdenciária e o teto de gastos sociais.

A partir desse novo período, dentro dos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, todos deixaram de ganhar, menos os grandes, ou melhor dizendo… “os gigantes ricos”,  que tiveram seus interesses garantidos, como no caso dos repasses de 100% dos dividendos da Petrobrás para seus acionistas.

Posta esta introdução, entramos no assunto que interessa às movimentações sociais nos dias de hoje. A gestão atual tem se declarado com o compromisso de atender a toda sociedade brasileira e, principalmente, o projeto de soberania do país.

Com isso, abandona a política de repasse integral dos dividendos pras mãos de “meia dúzia” de acionistas e retém parte dos lucros e dividendos pra reinvestimento na empresa e no país. Com isso, os trabalhadores do Sistema Petrobrás já sentem no dia a dia de trabalho, e na qualidade social e econômica de sua vida, o aumento qualitativo. E, como frisamos anteriormente, nessa conjuntura ganha toda a sociedade, pra além dos trabalhadores dentro do sistema.

Ainda assim, as manchetes dos jornalões insistem em destacar uma posição negativa, fazendo verdadeiros malabarismos retóricos pra destacar aquilo que lhes convém. É o caso de um grande jornal paulista que, no dia 7 de março, destacou em sua manchete: “Lucro da Petrobras cai 33,8% em 1º ano de Lula“. Com isso, parece estar cumprido seu objetivo, já que culturalmente nem todos têm acesso ou mesmo interesse em ler a notícia na íntegra.

O problema é que, lendo a reportagem, veremos que, se de fato a Petrobrás teve queda em seu lucro, a americana Exxon Mobil também registrou uma queda de 35%, a inglesa Shell de 36%, a francesa Total Energies de 31% e a americana Chevron de 40%. Observando esses dados, poderemos chegar a conclusão que a queda no lucro da Petrobrás está associada a um movimento estrutural dentro do ramo do petróleo e não, como a manchete induz, a decisões da atual gestão ou do atual governo.

É importante frisar que essas informações estão dentro dessa mesma reportagem, mas a esses dados a reportagem não dá destaque e tampouco ganham destaque essas informações nos programas televisivos ou nas redes de internet.

Poderíamos ainda explorar o fato de que o lucro atingido em 2023 é o segundo maior da história da Petrobrás e que isso está sendo propositalmente omitido! Mas vamos focar na retórica daquilo que de fato foi escrito.

Por isso se faz necessário que essas questões sejam colocadas dentro de um contexto geopolítico e discutido com a categoria petroleira, para que cada um de nós possa se apropriar da verdade e, no limite, fazer a defesa ideológica da Petrobrás e do projeto que atende aos interesses de cada trabalhador brasileiro.

Defender a Petrobrás é defender o Brasil!

*Rodrigo Alves de Araújo é trabalhador da Transpetro, subsidiária integral da Petrobrás, e diretor do Sindipetro Unificado