O secretário geral da CUT convoca os trabalhadores para a a V Marcha Nacional, em Brasília, no dia 03 de dezembro


Garantia de emprego e do poder de compra dos salários são fundamentais para o combate à crise

Em entrevista ao Portal do Mundo do Trabalho, o secretário geral da CUT, Quintino Severo, faz um balanço da reunião da executiva nacional, realizada nos dias 5 e 6 de novembro em São Paulo, e sublinha a importância da mobilização da base e da opinião pública para a afirmação de medidas que garantam o poder de compra dos salários e o emprego, contrapartidas sociais para todo e qualquer recurso público que venha a ser liberado a empresas em dificuldades, e investimentos no fortalecimento do mercado interno, para fazer frente aos impactos da crise. Entre as medidas emergenciais, a CUT defende, como há muito tempo, o fim do superávit primário, canalizando os recursos drenados à especulação para o investimento no desenvolvimento, nas áreas sociais e na infra-estrutura.

Um rápido balanço da reunião da executiva nacional cutista.

Neste momento da conjuntura, o que está colocado em primeiro lugar é os trabalhadores se protegerem da crise, ou seja, termos ações e iniciativas para que a classe trabalhadora brasileira não pague pela crise financeira mundial. As resoluções que tiramos na executiva nacional vão no sentido de proteger os trabalhadores para que não sofram o impacto da crise, para que mais uma vez não sejam os principais afetados por uma crise gerada pelo capital especulativo. A CUT sai com uma plataforma bastante importante no sentido de garantir a manutenção do emprego e do poder de compra dos trabalhadores, com a continuidade do desenvolvimento em nosso país, por meio dos investimentos na produção e na infra-estrutura. Defendemos que o governo, o Estado, garanta mecanismos a fim de que todo apoio dado às instituições financeiras ou não-financeiras que precisem de apoio para que a crise não as afete ou agrave sua situação tenham retorno para os cofres públicos e que venham acompanhados de contrapartidas sociais.

Um retorno à sociedade dos investimentos públicos no socorro…

Exato. Garantia de emprego, garantia de direitos e que haja um retorno de fato destes investimentos para a sociedade. Por isso que a CUT no centro de sua resolução reivindica sempre contrapartidas sociais como forma da sociedade ser beneficiada pelo socorro vindo do dinheiro público. Lembramos que a CUT aprovou em sua resolução final iniciativas de estender essa compreensão para todo o país e que seja de fato não só divulgada, mas aplicada em todo o país.

A CUT vai colocar pressão desde a base.

Queremos que ao longo do mês de novembro, construindo a Marcha Nacional da Classe Trabalhadora de 3 de dezembro, ir construindo a mobilização com nossas propostas, fazendo com que chegue à base, mas sobretudo à opinião pública. Vamos realizar debates e atos públicos nos Estados para apresentar nossas propostas, denunciar a especulação financeira e exigir que não haja demissões, pois os trabalhadores não podem pagar pela crise.

Diante da necessidade de ampliar investimentos, os juros altos e o superávit primário não vêm na contramão do desenvolvimento?

Este tema foi mais uma vez tema do nosso debate e a CUT reafirma a sua luta pelo fim do superávit primário e pela redução dos juros, porque acreditamos que todo e qualquer recurso neste momento tem que ser voltado para mais investimentos na produção e na infra-estrutura, justamente para garantir a ampliação e fortalecimento do mercado interno, defendendo os empregos . Para isso precisamos de políticas públicas que garantam ampliação de direitos e, acima de tudo, garantam salários para o trabalhador poder consumir e fazer gerar esta engrenagem: mais consumo, maior produção; maior produção, mais empregos. É nesta perspectiva que vemos a necessidade de fortalecer o mercado interno como vacina contra os impactos da crise.

Há uma disputa pelo Estado, pelo papel que o setor público deve cumprir no combate à crise. Como a CUT vê e se posiciona diante dos que querem agora socializar os prejuízos?

A CUT reafirma a importância do papel do Estado. É curioso ver que existem setores que até recentemente defendiam o afastamento do Estado da sua função social e principalmente da sua responsabilidade de conduzir e desenvolver a economia e, para nossa surpresa, vários desses setores acabam defendendo a importância do Estado para socorrer instituições financeiras. Na nossa opinião, é preciso que o Estado seja o motor do desenvolvimento. Socorrer instituições quebradas não é papel do Estado. Ao contrário, o Estado precisa ter capacidade de investir no desenvolvimento, capacidade de ter bancos fortes estatais, instituições financeiras capazes.  Refutamos todo tipo de tentativa de privatização, de enfraquecimento do Estado.

Agora, é colocar peso na Marcha…

Esta é a principal tarefa do movimento sindical cutista nos próximos dias, nas próximas semanas: mobilizar fortemente a sua base, mobilizar milhares de trabalhadores para que na Marcha não só apresentemos uma pauta estratégica da classe trabalhadora, estruturante, como demonstre o rechaço, a rejeição, a qualquer política que venha para retirar direitos em função da crise econômica.