O que esperar da CUT


Artigo originalmente publicado na Revista Caros Amigos

Nestes tempos de crise e de intensa disputa política, algumas ações recentes do movimento sindical cutista ganham relevância. Nossa conduta tem se pautado sempre por princípios históricos que deram origem à Central Única dos Trabalhadores, mas é exatamente nos momentos de maior dificuldade que nosso papel é mais cobrado e, se respondemos à altura de nossas responsabilidades, é quando mais destaque tem.

No final do ano passado, quando não havia mais nenhuma dúvida de que a crise chegaria com intensidade ao Brasil, a CUT desempenhou com bravura sua tarefa de defender os interesses e os direitos da classe trabalhadora. O primeiro passo foi produzir uma plataforma de propostas, intitulada "Os Trabalhadores e Trabalhadoras não Pagarão Pela Crise", que tem guiado nossas ações. Essas propostas foram levadas ao governo federal e ao Congresso, numa mobilização que reuniu mais de 35 mil trabalhadores em passeata por Brasília, na companhia das outras centrais, em dezembro.

No início de janeiro, a CUT se opôs de forma enérgica a uma proposta da Fiesp, endossada por parte do movimento sindical não-cutista e docemente embalada pela grande mídia, de cortar salários dos trabalhadores de todos os setores, de forma indiscriminada, com o argumento chantagista de que, se assim não fosse, a outra saída seria demissões em massa – 3 milhões de brasileiros nos quinze dias que se seguiriam, segundo os mentores do tal acordo.

Nossa oposição implodiu a proposta patronal. Começamos então uma ofensiva, em todas as regiões do país através de nossos sindicatos, para denunciar que a imensa maioria das empresas e todos os setores haviam acumulado excedente de capital nos anos de crescimento econômico e que, portanto, deveriam usar essa gordura para achar outras alternativas às demissões. Essa ofensiva incluiu centenas de paralisações e greves por todo o país, em empresas pequenas e em multinacionais, grandes mobilizações de rua e intensa panfletagem. Conseguimos barrar muitas demissões.

Embalados por essa mobilização de base, trabalhamos intensamente para cobrar governo e empresários a adotar medidas que protegessem os empregos e os salários, sabidamente as maiores armas para o fortalecimento do mercado interno e a consequente superação da crise.

Algumas dessas propostas, já adotadas, mostram resultados. Uma delas, é a de que todo o incentivo fiscal ou investimento público só sejam realizados mediante exigência explícita de manutenção do nível de emprego nas empresas ou setores beneficiados. No setor automotivo, submetido a essa exigência, estamos observando contratações e recordes de venda. A mesma exigência foi estendida às fabricantes de motocicletas. Estamos cobrando que essa medida, que batizamos de contrapartidas sociais, sejam estendidas a todo o investimento produtivo com recursos públicos.

Nossa postura em defesa da Petrobras e de uma nova lei do petróleo, que acabe com os leilões das jazidas, que garanta a soberania nacional sobre a camada pré-sal e que destine os recursos que dela vão se originar para políticas públicas que eliminem a dívida social do país, é outro exemplo recente de nossa luta.

Nós, nossa FUP (Federação Única dos Petroleiros) e diversas entidades filiadas puxamos uma primeira grande mobilização, nas ruas do Rio de Janeiro no dia 21 de maio, que deu origem a outras 16, em grandes capitais. Um dos aspectos mais impressionantes dessa luta é a unidade com os movimentos sociais e com as principais centrais, algo que se repete nas campanhas pela reestatização da Embraer e da Vale.

Em meio à crise, em consonância com o que já vínhamos fazendo antes, pressionamos o governo a manter o compromisso de reajustes e de reestruturações de carreira dos servidores federais, contra todas as pressões de setores conservadores e de setores do próprio governo.

Podem estar certos de que a CUT estará sempre pronta a ir às ruas, junto com os movimentos sociais, e a também ter a maturidade de saber encaminhar proposições e negociar. É essa CUT que sairá, ainda mais fortalecida na disputa pela hegemonia, do nosso 10º Congresso Nacional, que acontece de 3 a 7 de agosto, em São Paulo, com a presença de quase três mil delegados. Lá, nosso principal desafio será consolidar nossa estratégia para, nos próximos anos, construir o cenário pós-crise, em que novos instrumentos e políticas enterrem definitivamente os resquícios neoliberais não só no Brasil mas, com a unidade das esquerdas, também em nosso continente.