O presidente da CUT fala sobre mobilização nacional do dia 6 e as lutas e desafios de toda a classe trabalhadora







Em entrevista publicada originalmente no Jornal Brasil de Fato, o presidente da CUT Nacional, Artur Henrique, fala sobre Dia Nacional de mobilização, que será realizado no dia 06 de julho.

Segundo Artur Henrique, presidente da central, para esse dia de mobilização procurou-se construir unidade. Artur afirma que foram buscadas entidades com histórico de luta, mobilização, representatividade e, especialmente, com bandeiras de luta em sintonia com a plataforma que a CUT formula e pratica. Para o presidente da central, o objetivo é priorizar a unificação em torno de uma pauta comum entre as entidades dos movimentos sociais com essas características. Por isso, a CUT procurou o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Central de Movimentos Populares (CMP), a Marcha Mundial de Mulheres, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e outras entidades da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), que apoiaram a ideia e se incorporaram ao processo de mobilização e organização dessa ação unitária. Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o presidente da maior central  sindical do país fala sobre a atual conjuntura política e econômica do Brasil e afirma que “é tempo de ousar”. Para Artur Henrique, todos os setores da economia estão ganhando muito. “É hora de dividir parte desses lucros com os trabalhadores”. Portanto, segundo ele, é hora de mais ousadia nas campanhas salariais, exigindo a parte dos trabalhadores nestes ganhos.

 Confira a entrevista:

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) tirou resolução, em reunião da executiva nacional realizada em maio, afirmando que agora “É tempo de ousadia para ampliar ganhos reais”. O que efetivamente significa ousar? A central, a seu ver, não estava ousando nas lutas?

É uma resolução que vai na contramão daquilo que alguns analistas econômicos estavam tentando colocar no centro do debate político. Ou seja, de que salário causa inflação. Vimos várias notícias nos jornais dizendo que a pressão por aumentos salariais estava trazendo problemas com relação à inflação. Ou seja, de novo a tentativa de colocar o mito para a sociedade de que salário causa inflação. Nos últimos oito anos conquistamos aumentos reais de salários acima da inflação. No entanto, isto possibilitou ter crescimento econômico, distribuição de renda e inflação controlada. O que causa inflação é ganância, especulação. Especulação com alimentos como faz o agronegócio, com o petróleo, com as commodities no mercado internacional. Essa ousadia é justamente mostrar que a crise de 2008 – baseada numa especulação financeira, numa bolha imobiliária, de coisas que não são do mundo real, como produção, emprego, bens materiais ou alimentos – começou a migrar para cá. Começou a ser transferida na prática para uma especulação dentro dessa questão dos alimentos, em relação às commodities internacionais, trazendo inflação. E, junto a isso, a decisão de países como os EUA de colocar a maquininha para gerar dólar. Ou seja, a Casa da Moeda dos Estados Unidos imprimiu 50 bilhões de dólares e enxovalha o mundo com esses dólares. Esse dinheiro, normalmente, vai para os países não para aplicar na produção, mas para a especulação. Então, quando a gente fala de ser mais ousado é mostrar primeiro que é mentira que salário causa inflação. Segundo, precisamos ampliar a participação do trabalhador na renda nacional. Para isso, a melhor forma de fazê-lo é com muita mobilização, muita greve e muita pressão nas campanhas salariais, aproveitando inclusive, no caso brasileiro, o bom momento econômico que várias empresas estão atravessando. As empresas batendo recordes, lucros dos bancos como nunca se teve por conta da taxa de juros. E mesmo a parte do agronegócio vendendo muito, mantendo também seus lucros. Ou seja, todos os setores da economia estão ganhando muito. É hora de dividir parte desses lucros com os trabalhadores. Portanto, mais ousadia nas campanhas salariais, exigindo a nossa parte nestes ganhos.

E como a CUT pretende fazer essa ofensiva?

Na verdade nós já estamos fazendo isso desde o início do ano, apresentando dados, subsidiando e construindo junto com os nossos sindicatos fi liados. Ou seja, os sindicatos têm o papel de fazer a negociação – sindicato, federação e confederação. A cada mês temos milhares de datas-bases, e isso é um problema no Brasil, porque como nós não temos contrato coletivo nacional, a negociação é descentralizada. A cada mês você tem milhares de mesas de negociação dos nossos sindicatos com os patrões, seja na área de serviços, indústria, comércio. Então, essa ousadia, essa disputa nós já estamos apresentando aos trabalhadores. Fazemos o que nós chamamos de campanha salarial unificada. A do primeiro semestre está acabando agora, com resultados positivos – a maioria dos nossos acordos teve ganhos reais acima da inflação. E nós vamos entrar no segundo semestre, que é um semestre que normalmente o resultado das campanhas salariais é muito positivo, porque envolve categorias com mais poder de mobilização e organização sindical de base, como os metalúrgicos, bancários, eletricitários, químicos. São categorias que têm uma capacidade maior de organização sindical, estão mais concentradas nas empresas. Não são como no comércio, onde há uma dificuldade grande porque é muito espalhada. Então, nós faremos no segundo semestre uma grande campanha salarial unificada, incentivando os sindicatos e os trabalhadores a lutarem pela ampliação de seus direitos.

A CUT fala em campanha para combater a criminalização da luta dos trabalhadores. Como tem se dado essa criminalização?

Infelizmente ainda há no Brasil uma criminalização do movimento social e do movimento sindical, que vem de várias frentes. A primeira e mais drástica é essa que nós assistimos recentemente, os assassinatos de dirigentes sindicais, de líderes e trabalhadores rurais, do movimento de sem-terra, de camponeses, trabalhadores do campo que lutam por terra, por reforma agrária e que denunciam madeireiros que desmatam, vendem madeira ilegal ou estão descumprindo a legislação. A segunda frente de criminalização se dá através do que a gente chama de falta de legislação de práticas antissindicais. No Brasil não temos uma lei que proíba as empresas e os setores empresariais de fazer campanha e prática antissindical. Uma quantidade grande de dirigentes sindicais são demitidos todos os dias, sendo que eles têm estabilidade no emprego para poder exercer a função de brigar com o patrão, para exercer seu papel na luta de classes, constituir sindicatos para ficar mais fácil “negociar”. A luta de classes no Brasil não acabou, muito pelo contrário, está cada vez mais acirrada. Os empresários contam com os grandes meios de comunicação para criminalizar a luta dos trabalhadores. Quando aparece uma luta, greve, mobilização você nunca vê na grande imprensa uma visão do lado dos trabalhadores. É sempre: nós atrapalhamos o trânsito, atrapalhamos as pessoas e a liberdade de ir e vir, ou somos um bando de vândalos que acaba prejudicando a maioria da sociedade.

Nesse contexto, como você vê papel da grande mídia neste processo?

Aqui no Brasil normalmente a imprensa, a grande mídia, utiliza do poder de monopólio e do poder que tem – que é uma concessão – para fazer juízo de valor e colocar em horário nobre imagens, reportagens que estabeleçam critérios de criminalização, queimação, banalização e diminuição da importância do movimento social e sindical. O papel da grande imprensa hoje é bater no movimento social e sindical.

Como você analisa a atual política econômica do governo federal?

Continuamos criticando a política econômica, principalmente no modo como se enfrenta a questão da inflação, apenas aumentando a taxa de juros. Há pelo menos cinco anos a CUT havia solicitado – desde o governo Lula – que era preciso alterar e democratizar o Conselho Monetário Nacional, ampliando para a participação de trabalhadores e empresários. Ou seja, ter também a representação do setor produtivo para se ter outra visão dentro do Conselho, que não apenas a do mercado financeiro. A velha mídia, que citamos acima, logo após as eleições fez uma tentativa de implementar a agenda negativa perdedora nas eleições. Uma semana depois da eleição de Dilma já estavam colocando que era preciso diminuir os gastos públicos, diminuir o papel do Estado, controlar a inflação. E que para controlar a inflação é preciso aumentar os juros. Nos jornais do início desse ano, eles já decidiram quanto vai ser a taxa de juros do final de dezembro de 2012! Já tomaram a decisão. E ficam falando: segundo avaliações do mercado a inflação está saindo do controle, nós precisamos ter uma taxa de juros… Que mercado? Mercado financeiro! Eu sou presidente de uma central sindical que tem 7 milhões de trabalhadores associados aos sindicatos, e nunca fui procurado por nenhum especialista em pesquisa de mercado para saber o que estamos achando da economia brasileira. Eles só ouvem donos de bancos, investidores, pessoal da bolsa de valores. E esse pessoal, evidentemente, quer aumentar a taxa de juros para ganhar mais, investir mais dinheiro nos títulos do governo e ter ganho rápido, alto, em curto espaço de tempo. Aumentar a taxa de juros freia o consumo, o desenvolvimento do país, não gera emprego, e acaba se transformando num tiro no próprio pé. Quando não tem crescimento econômico, não tem aumento do consumo, não tem aumento da renda. Se as pessoas não compram, a indústria não produz, o comércio não vende. Portanto demitem. Então volta para o círculo vicioso.

A CUT tem sido alvo de crítica de setores da esquerda, acusada de manter alinhamento com o governo federal, o que, segundo eles, coloca a central numa omissão frente às lutas. Como você analisa essas críticas?

No começo do governo Lula havia um conjunto de analistas da chamada esquerda no Brasil que dizia que poderia acontecer aqui o que havia acontecido em vários países: quando se tem um governo democrático e popular apoiado por uma central sindical, a tendência é essa central perder muita força ao longo dos anos, perder sua capacidade de mobilização e perder inclusive sindicatos. Os números demonstram o contrário. A CUT é a central que mais cresceu nos últimos 8 anos. Saímos de uma representatividade de 34% no Brasil e atingimos no ano passado 38%. A segunda central, a Força Sindical, tem 13% – e não é de esquerda. A terceira, que também não é de esquerda, a União Geral dos Trabalhadores (UGT), tem 7%. A quarta central é a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), ligada aos partidos comunistas, que tem 6%. E por fi m há outras duas centrais sindicais. As chamadas esquerdas que diziam que nós iríamos sucumbir, que acusavam a CUT de chapa branca, ligada ao governo, têm menos de 1% de representatividade. Então, alguma coisa está errada neste discurso. Neste momento é preciso ter uma unidade muito grande do movimento sindical para enfrentar o que nós chamamos da disputa de modelo de desenvolvimento que está colocado para o país. Esse posicionamento de querer crescer criticando ou tentando desqualificar outra central sindical não ajuda na proposta de quem quer construir um movimento social que tenha condição de estabelecer uma disputa de modelo. Me chama atenção essa visão de que não vão participar de nenhuma negociação porque negociar com o patrão ou com o governo é fazer o jogo do capitalismo. Ora, vivemos num mundo capitalista, somos central sindical. É a confusão entre central e partido político. Papel da central sindical é negociar. Negociar com o patrão, e o patrão é capitalista, seja do setor privado, seja um gestor público, que está defendendo os interesses do Estado que é capitalista. Estou do outro lado, defendendo os interesses do trabalhador, interesses de classe. O pior é que acabam fazendo um discurso tão radical à esquerda que acabam fazendo o jogo da direita. Ou seja, quando somente atacam e apostam no quanto pior melhor, acabam fazendo o jogo da direita. É só ver o que está acontecendo nos países hoje que estão sofrendo com as crises. A Europa inteira está sendo arrastada por uma visão de direita. O que está colocado é uma disputa. E a direita está vencendo essa disputa na medida em que se estabelecem programas de diminuição do papel do Estado, ataques às liberdades de direitos democráticos. Quando se tem uma esquerda que absolutamente não consegue unificar a sua luta ou o seu projeto, ela está dando um tiro no pé. Esse é um problema. Nós perdemos uma grande chance na esquerda brasileira.

Aliás, a esquerda brasileira não tem conseguido se unificar em bandeiras importantes, como por exemplo, a redução da jornada de trabalho.

Na década de 1980, mesmo com bastante diferença entre nós, tínhamos claramente qual era a luta. Luta pela democracia, contra a ditadura, pelas liberdades democráticas. Acabamos com a ditadura, recompusemos a democracia – temos uma democracia muito jovem – mas do ponto de vista da democracia no Brasil ampliou-se a pauta. Hoje temos 400 itens de pauta. E não conseguimos concentrar em questões absolutamente centrais, como reforma agrária, a PEC do trabalho escravo, a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais etc, como o debate do modelo de democracia, de Estado, de país, de desenvolvimento. Assim, perdemos a chance de avançar. A crise de 2008 derrubou o modelo, as ideias que deram base ao neoliberalismo foram desmontadas – não que o neoliberalismo tenha acabado – e nós não conseguimos implementar nada no lugar. Temos algumas experiências positivas como a tentativa de criação da Alba, da Unasul. Mas ao invés da esquerda ter unidade para construir esses espaços e outros, acaba emperrada.

Você acha que a esquerda brasileira não soube aproveitar melhor o governo Lula – e agora o governo Dilma – para avançar nestas questões importantes para o país?

Não soube. Conseguimos avançar nos dois mandatos do governo Lula em coisas absolutamente fundamentais: aumentou a geração de emprego com carteira assinada, tiramos 23 milhões de pessoas da miséria e da pobreza, as pessoas alcançaram um nível de cidadania e chegaram ao chamado mercado de consumo. Tudo isso é positivo. Agora, qual é a ideologia, a visão destas 23 milhões de pessoas do ponto de vista de projeto de país? É simplesmente entrar para o mercado de consumo, ser mais um consumidor de carro zero, casa, apartamento – essas coisas são necessárias para a qualidade de vida? Vamos reproduzir para essas pessoas a mesma visão que a sociedade capitalista, que se baseia no consumismo, ou vamos discutir qualidade de vida, outro modelo de sociedade? Temos vitórias importantes, não tem comparação. E por isso defendíamos na época da eleição que havia uma disputa de projeto. A disputa entre o retrocesso, que seria a volta do PSDB e do DEM, a falta de diálogo, a criminalização – para um outro modelo, de diálogo, negociação.

E neste contexto, qual é o papel da central sindical?

O nosso papel é pressionar para aprofundar as mudanças. A Dilma não foi eleita para fazer as mesmas coisas que o governo Lula fez. Nós precisamos pressionar para que as mudanças sejam aprofundadas. É positivo lançar um programa para acabar com a miséria no Brasil, que são 17 milhões de pessoas. Mas volto no ponto anterior. Essas 17 milhões vão se juntar aos 23 ou 30 milhões que o governo Luta tirou da miséria. Vamos ter algo em torno de 50 milhões de pessoas no Brasil que saíram da miséria e que entraram no chamado mercado de consumo, como dizem os capitalistas. Mas estas pessoas têm consciência de que estamos tentando transformar o Brasil rumo a uma mudança na sociedade? Ou elas vão apenas entrar no mercado de consumo e vão virar uma classe média que só se interessa em consumir?

Então, a seu ver, a esquerda não conseguiu avançar para um modelo alternativo de sociedade.

Não conseguiu montar um projeto. Nós precisamos ter mais qualidade de vida, ter mais tempo para a família, tempo para lazer e para a cultura, para a qualificação profissional. Para isso é preciso reduzir a jornada de trabalho. As pessoas vão entrar no mercado da classe média – hoje são milhões de pessoas trabalhando 16, 18 horas por dia, plugados no computador, notebook, no celular. As pessoas estão vivendo para trabalhar ao invés de trabalhar para viver. São inversões de valores. Valores como o individualismo, competição, que foram implementados em nossa sociedade e no mundo todo pelo neoliberalismo e pelo capitalismo. E a esquerda não conseguiu mudar esses valores para a solidariedade, comunidade, unidade. Eu temo que esses 23 ou 30 milhões de pessoas que saíram da pobreza entrem numa concorrência absolutamente desleal, sanguinária com a pessoa do lado em nome de aumentar o seu poder de consumo. É para isso que estamos transformando a sociedade? É para isso que nós criamos o PT, a Frente Sandinista de Libertação Nacional? Ou seja, a esquerda, principalmente na América Latina, deveria estar com um programa, um projeto de país e de continente para fazer frente ao modelo capitalista. A revolução não vai acontecer na semana que vem, tenho clareza disso. Mas precisamos criar as condições para alterar a correlação de forças no Brasil para reconstruir um outro modelo.

Recentemente os movimentos sociais e sindicais sofreram uma derrota no Congresso Nacional com a aprovação do projeto do deputado Aldo Rebelo, que altera o Código Florestal. E o projeto foi aprovado com votos de parlamentares da base alinhada do governo, inclusive de petistas. A que você atribui essa derrota?

Havia algumas análises no começo do governo Dilma que diziam que agora ia ficar melhor porque a Dilma tem maioria no Congresso. Eu dizia: primeiro, maioria quem, cara pálida? Quem tem maioria é o governo, não somos nós do movimento social. Segundo, será que tem maioria? Porque quando a gente fala que tem maioria, tem maioria quando os assuntos são de interesses deles. E aí os interesses são iguais aos do governo. Porque quando os interesses são conflitantes – o Código Florestal foi o exemplo prático disso – esses deputados não estão nem aí para quem está no governo, vão defender seus interesses corporativos, de classe e vão disputar dentro do Congresso Nacional. Isso nos remete a uma discussão central que é a reforma política. Ou mudamos o sistema político-partidário no Brasil e implementamos o único e exclusivo financiamento público como forma de financiar as campanhas eleitorais ou vamos continuar tendo bancos, empreiteiras, grandes empresas, grandes empresários do setor do agronegócio financiando candidaturas de todos os partidos. Quando essas pessoas são eleitas com financiamento de interesses do capital – seja de grandes setores financeiros, grandes empresas, grandes latifundiários – vão exercer seus mandatos tendo compromisso político de defender quem os financiou. Então, é preciso mobilização e pressão para a reforma política, para garantir o financiamento público de campanha e democracia direta. Ou seja, regulamentar o artigo 14 da Constituição, estabelecendo novas formas de participação direta da população e da sociedade nas grandes decisões. Precisamos eliminar os obstáculos que existem para plebiscitos, referendos, mudar a forma como esses projetos entram no Congresso. Hoje, para se ter ideia, se monta um partido com 500 mil assinaturas. Mas para um projeto de iniciativa popular para emendar a Constituição precisamos de 1.500.000 assinaturas! E, mesmo assim, o projeto entra no Congresso e fica parado. Essas coisas nós queremos debater.

Mas, sobre o Código Florestal, não faltou uma pressão maior dos movimentos sociais e sindicais para alterar essa correlação de força?

Acho que sim. Nós acreditávamos – pelo menos uma parte do movimento social e sindical que fez a campanha contra o relatório do Aldo Rebelo – que o governo iria junto com a chamada base aliada ou parte da base aliada, propor mais discussão. Há três meses estávamos discutindo a necessidade de fazer grandes audiências públicas para discutir o tema. O Código estava sendo discutido por agricultores, ambientalistas e por parte do movimento social e parte dos proprietários rurais, mas não era um assunto da sociedade como um todo. Infelizmente não conseguimos fazer com que o tema fosse espraiado na sociedade. Na minha opinião, o governo errou ao fazer as mudanças a partir de uma negociação com a chamada base aliada e com os líderes dos partidos. O governo deveria ter dito: não vamos negociar isso agora, não vamos colocar isso agora em votação, precisamos de mais tempo para debater essa questão com a sociedade.

O escândalo envolvendo o ministro Palocci influenciou nesta questão?

É lógico que tem influência. Os debates acontecem de forma em que se privilegia a disputa pelos cargos do segundo escalão do governo – e o Palocci tinha papel fundamental como chefe da Casa Civil. E, na medida em que enfraquece o Palocci, ao mesmo tempo o PMDB tenta ampliar a participação na decisão política ou no núcleo político do governo. O PMDB, como maior partido no Congresso, influencia a base aliada do próprio PT neste debate. Não tenho dúvida que tem relação de uma coisa com a outra. E o governo fragilizado não conseguiu fazer aquilo que nós avaliávamos que poderia ser feito. Tem um erro de análise nossa de não jogar tanto peso quanto poderíamos jogar.