Por Dary Beck Filho, diretor da FUP e do Sindipetro-RS
O Brasil foi sacudido em junho por uma série de manifestações em dezenas de cidades. Com uma pauta que no início tratava do valor das passagens do transporte urbano acabou incorporando uma gama variada de reivindicações, inclusive contraditórias, como pedir por melhor educação e saúde pública e redução de impostos. Um comentarista político chegou a caracterizar uma das marchas como um mural do Facebook nas ruas.
Houve de tudo nas ruas, desde agressões físicas de neonazistas contra militantes de esquerda a manifestações contra a aprovação da "cura gay". Por isso qualquer avaliação, inclusive essa, que se faça será limitada. Ainda existem elementos obscuros, como por exemplo quem pagou o helicóptero com propaganda que apareceu na quinta-feira durante a manifestação na praça da Matriz.
Agora algumas questões necessitam de reflexão: a violência policial contra manifestações não é mais aceita, pois o gatilho que disparou o crescimento das marchas foi a repressão absurda feita pela PM de SP contra a manifestação do Movimento Passe Livre. As imagens da PM paulista agredindo gratuitamente aqueles jovens levou a uma onda de solidariedade que acabou se espalhando e levando mais pessoas para as ruas.
Houve uma tentativa de aparelhamento das marchas pela direita do país, incluindo pautas que não estavam nas primeiras manifestações, transformando um movimento que era "apartidário", isto é, por fora e além dos partidos, em "antipartidário", que visava a destruição dos partidos, proposta claramente fascista e antidemocrática. Houve quem pedisse o retorno da ditadura militar. Esse movimento acabou denunciado e perdeu força, mas fica o alerta da existência dessa organização e de seus objetivos.
A velha mídia(Globo, RBS, Estadão e Folha de São Paulo) também operou, dando destaque as bandeiras que ela defendia, visando basicamente desgastar o governo federal e poupar seus aliados nos estados e municípios. Por outro lado as manifestações acabaram botando uma pressão grande pra cima dessa mídia, já que a partir de certo momento seus repórteres foram expulsos das ruas e as matérias passaram a ser feitas de helicópteros e tetos de prédios.
As redes sociais mostraram seu poder de mobilização e organização, pois levaram pessoas as ruas e também desfizeram dos movimentos oportunistas.
A população teve uma vitória, pois foi através de sua demonstração de sua força obrigou governos dos mais diversos partidos a reverem os aumentos do transporte, Disseram um basta a essa espoliação diária. Mas ainda não avançaram no lucro dos empresários das concessionárias, pois a redução se baseou em isenção de impostos. Também pediu por mais direitos, mais educação, mais saúde e criticaram aqueles que querem retrocessos, como o Pastor Feliciano. Colocaram em cheque a atual estrutura de representação política do país.
Abre-se agora um novo período na história, com importantes debates sobre os mais diversos temas e cada um e cada uma deverá se posicionar para a construção do futuro. Fique atento e conheça bem cada proposta que for apresentada, pois nesse momentos de ebulição política é comum aparecerem "salvadores da pátria" com suas propostas mágicas.
Nós, trabalhadores e trabalhadoras organizados, temos que fortalecer essas manifestações levantando as nossa demandas para melhorar o Brasil. Temos que defender uma reforma política que acabe com a doação de empresas para partidos e candidaturas e que amplie a participação da população. Combater a PL-4330, que pretende precarizar de vez as condições de trabalho no país. Suspender os leilões de petróleo e o retornar o monopólio da Petrobrás, para que o máximo da riqueza do pré-sal fique para o nosso povo.
O mais importante é que o povo perdeu o medo de se manifestar, sente que tem o poder em suas mãos. Que suas opções a partir de agora desenharão o futuro do nosso país, e que quem ficar contra a ouvir essa voz pagará o preço.