O petroleiro e presidente da CUT/PR fala das mais importantes bandeiras de luta dos sindicalistas, incluindo a campanha de mudança da lei do petróleo





A conjuntura nacional coloca uma série de desafios ao movimento sindical e impõe uma agenda intensa de lutas que unificam o conjunto da classe trabalhadora. A redução da jornada de trabalho, a garantia de negociação coletiva no serviço público e o fim das demissões imotivadas são exemplos do que os sindicalistas têm pela frente. O presidente da Central Única dos Trabalhadores do Paraná, Roni Anderson Barbosa, analisa o cenário e adianta “a disputa está colocada e a união de classe é fundamental para o enfrentamento do projeto capitalista”.

A 6ª Marcha Nacional da Classe Trabalhadora, realizada no último dia 11, em Brasília, reuniu aproximadamente 50 mil pessoas e mostrou o poder de mobilização do operariado brasileiro. A que você atribui o sucesso dessa iniciativa das centrais sindicais?

A partir de 2003, quando da realização da 1ª Marcha, as centrais sindicais brasileiras entenderam que para avançar nas conquistas é necessária a unidade de classe. O movimento sindical se esforçou para superar as divergências político-organizativas e começou a construir uma integração a fim de colocar na pauta do poder público as reivindicações dos trabalhadores. Foi um processo gradual que culminou na grande mobilização da 6ª Marcha. Porém, há que se destacar que a iminência da votação no Congresso Nacional da Proposta de Emenda à Constituição 231/97, que prevê a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, sem redução de salários, foi um fator que ajudou muito no sucesso da nossa marcha.

O que justifica a redução da jornada?

O aumento expressivo da produtividade da indústria não significou vantagens ao trabalhador. As indústrias não repassaram seus ganhos aos funcionários, muito pelo contrário, reduziu o número de trabalhadores e houve queda nos salários. Dados do Dieese apontam que a produtividade da indústria nacional cresceu 84% de 1988 a 2008, o que já é um indicativo expressivo sobre o excedente de capital acumulado pelo setor.

Outro fator que motiva nossa luta pela redução da jornada é o potencial de geração de aproximadamente 2,2 milhões de novos empregos. A ideia é esta mesmo, trabalhar menos para que todos trabalhem com qualidade e tempo para a qualificação profissional e o lazer.

Está em andamento uma jornada mundial pelo trabalho decente. Quais são as ações e reivindicações feitas no Brasil?

Fizemos uma grande mobilização em 07 de outubro, dia de referência da jornada, em Brasília. Estávamos em cerca de 300 dirigentes de todo o Brasil, representando diversas categorias e ramos de atividade econômica, para pressionar os parlamentares para que votem a favor de projetos de interesse da classe trabalhadora. Além disso, aconteceram manifestações alusivas à jornada em diversas capitais.

A redução da jornada é uma das lutas inseridas nesta campanha, mas existe um rol de reivindicações para tornar o mundo do trabalho mais humanizado. Dentre elas, destaco a campanha em defesa da soberania nacional sobre o petróleo, com um novo marco regulatório que garanta a utilização dos recursos para o resgate da dívida social do país, com investimento em habitação, saneamento, saúde, educação, entre outros. Também está nessa jornada o combate à precarização das relações de trabalho, a aprovação das convenções 151, que garante a negociação coletiva no serviço público, e a 158, sobre o fim das demissões imotivadas, da Organização Internacional do Trabalho.

Já que você abordou o tema soberania nacional sobre o petróleo, discorra sobre o pré-sal e sua importância estratégica para o desenvolvimento do país.

Pré-sal é a área no litoral brasileiro que vai do Espírito Santo até Santa Catarina, onde foram descobertas as maiores reservas de petróleo do Brasil. As estimativas variam de 80 a 200 bilhões de barris de petróleo. Se calcularmos o valor do barril na atual cotação, cerca de US$ 70, chegaríamos a constatação de que a exploração do pré-sal pode gerar cerca de US$ 14 trilhões.

Essa riqueza tem que ser utilizada para resgatar a dívida social brasileira, com a educação, a saúde, a reforma agrária, a moradia, entre outros, através do Fundo Social Soberanos, que deve ser criado com a nova Lei do Petróleo. Dessa forma, o povo brasileiro poderá tirar o melhor proveito possível dessa riqueza, que é de todos nós.

Qual será a estratégia do movimento sindical cutista nas eleições de 2010?

Assim como temos feito nos últimos processos eleitorais, vamos apresentar para os candidatos uma plataforma de compromissos para com os trabalhadores e eles irão decidir se vão ou não aderir ao documento. Desta forma, o eleitor vai conseguir identificar quem são os candidatos que têm compromisso com a classe operária. Isso é imprescindível, pois os dois projetos políticos para o país, o neoliberal e o popular, estarão em disputa pelo poder. O problema é que os neoliberais durantes as eleições costumam esconder as suas verdadeiras intenções, ou seja, fazem o discurso populista e quando chegam ao poder retomam as privatizações e a redução de direitos dos trabalhadores, enfim, mazelas que enriquecem alguns poucos privilegiados e relegam à maioria a condição de pobreza. Por isso, nós, da CUT, compreendemos que temos o dever de esclarecer os eleitores sobre as posições políticas dos candidatos e a plataforma dos trabalhadores vem para cumprir com esse objetivo.