A CUT tem sido uma permanente defensora do Mercosul e de seu papel como motor no processo de integração econômica, comercial e política da América do Sul. Defendemos que esse seja o eixo da estratégia da política externa brasileira, porque acreditamos que a formação de um bloco permitirá que o Brasil tenha uma inserção mais forte e soberana no cenário mundial, como vêm acontecendo.
Neste sentido, concordamos e defendemos a entrada da Republica Bolivariana da Venezuela no Mercosul, ato que significa um grande passo rumo ao projeto da integração sul-americana. Além disso, a participação do governo venezuelano tem contribuído para o aprofundamento do Mercosul e ampliação de sua agenda, com a inclusão de temas voltados para os problemas sociais e políticos.
Não podemos entender e muito menos aceitar a oposição a essa adesão que tem sido manifestada pelo DEM, o PPS e o PSDB. A posição manifestada por esses partidos no debate ocorrido na Comissão de Constituição e Justiça –CCJ, na data de 21/11/07, é contra os interesses brasileiros e só se explica pela oposição ideológica desses partidos aos êxitos da política externa brasileira praticada pelo governo atual. Além disso é contraditória, pois foi o governo FHC quem primeiro propôs à Venezuela uma aproximação com o Mercosul.
É importante que se diga que nossa defesa de ter a Venezuela como sócia do Mercosul não está baseada apenas em retórica, mas sim em fatos concretos, tendo em vista os interesses do Brasil. Além dos aspectos de estratégia política já mencionados, há reconhecidas vantagens econômicas e comerciais. Vejamos alguns dados concretos:
- O Mercosul adiciona hoje 25% ao Brasil em termos de potencial de mercado. Este ganho com o ingresso da Venezuela chegaria a 40%;
- O país possui o segundo maior saldo comercial da América Latina (US$ 33 bilhões), depois do Brasil, mas o déficit comercial não petrolífero mais que dobrou entre 2003 e 2005;
- Os EUA participam com 31% das importações da Venezuela, a ALADI com 34%, Mercosul com 11,4%;
- O Brasil apresentou um saldo comercial próximo a US$ 3 bilhões com o parceiro andino em 2006 (5º maior superávit do Brasil),
- O saldo do setor industrial foi de US$ 2,9 bilhões (2006) e o saldo do setor agrícola cresceu 602% (2001-2006);
- O Brasil já figura como o maior fornecedor da Venezuela, à frente de México e China, perdendo apenas para Colômbia e Estados Unidos. EUA e México têm sido crescentemente deslocados neste mercado por Brasil, Colômbia e China, ainda que com especificidades setoriais;
- Os investimentos externos diretos oriundos do Brasil para a Venezuela passaram de US$ 40 milhões em 2001 para US$ 149 milhões em 2005. Entre 2001 e 2005 cresceram cerca de 370%, enquanto os investimentos gerais cresceram 56%;
- As importações venezuelanas do Brasil são diversificadas, concentradas nos setores de maior valor agregado. Representam: 10% das nossas exportações totais de medicamentos; 8% no caso das máquinas e material elétrico, 7% para automóveis e 6% no caso de preparações alimentícias diversas;
- O setor produtivo paulista é quem tem mais se beneficiado do mercado venezuelano com exportações industriais de US$ 1,6 bilhão e agrícolas de US$ 200 milhões;
- O pólo de Manaus aparece como 3º maior fornecedor no Brasil para a Venezuela, e vem crescendo rapidamente. É o pólo de exportação para a Venezuela com o maior valor agregado (125 US$/kg); a Bahia também merece destaque, ocupando o 6º. lugar em termos de exportações para aquele país;
- Várias empresas brasileiras estão engajadas em fornecer serviços, equipamentos, navios e investimentos para o setor petroleiro, químico e petroquímico venezuelano;
- Parte desses projetos se desdobra para o Norte e o Nordeste brasileiros sob a forma de refinarias, indústrias de transformação e gasoduto.
Para nós a equação é simples: mais vendas externas significa mais produção , o que significa mais e melhores empregos e salários.
Foi por esta razão que há cerca de duas semanas os governadores do Norte e Nordeste do Brasil, bem como vários parlamentares das duas regiões, mandaram uma carta ao Congresso pedindo que fosse aprovada a adesão da Venezuela e, no mesmo sentido importantes empresários, que investem e vendem na região também têm se manifestado a favor, contrariando a resistência inexplicável de algumas de suas entidades corporativas.
A CUT, assim como as demais centrais sindicais do Brasil e dos demais países do Mercosul defendemos que o processo de integração de aprofunde e se amplie, para que seja de fato um instrumento de promoção do desenvolvimento econômico e social de nosso país e região. Por isso saudamos o resultado da votação na CCJ e seguiremos trabalhando junto aos deputados e senadores para que aprovem o mais breve possível a entrada da Venezuela no Mercosul.
* Dados e informações obtidas no estudo "Avaliação do Potencial Econômico da Relação Brasil – Venezuela " , da série Papéis Legislativos (n.5, set. 2007) elaborado por Ricardo Sennes Diretor-Executivo da Prospectiva Consultoria e Alexandre de Freitas Barbosa Doutor em Economia pela Unicamp