Em conversa por telefone com o jornalista Paulo Henrique Amorim, nesta quarta-feira (24), o representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobrás, Deyvid Bacelar, condenou o PLS 131, de autoria do senador José Serra (PSDB-SP), que permite às petrolíferas estrangeiras explorar o pré-sal. “Espero que os senadores tenham atenção aos perigos da aprovação desse projeto de lei, que vai colocar em xeque a soberania nacional”, declarou.
O conselheiro eleito também criticou o Governo Federal por se afastar da gestão da Petrobrás. Deyvid explicou que a ala conservadora de gerentes e diretores assumiram funções e postos estratégicos dentro da companhia. Ele citou como exemplo Solange Guedes, diretora de Exploração e Produção da Petrobras, e os danos causados pelas mudanças na condução da estatal.
“Hoje a engenharia da Petrobras não tem mais a possibilidade de construir as grandes plataformas para o pré-sal porque a decisão da diretora é afretar plataforma e sonda de perfuração no mercado internacional, prejudicando a indústria, a engenharia nacional, e a geração de emprego e renda no país”, declarou o petroleiro. Veja a íntegra da entrevista:
Deyvid, por que você concorre a essa reeleição para ser o representante dos trabalhadores do Conselho da Petrobras?
Aceitei essa desafio ofertado pela categoria petroleira e também pelo movimento sindical, principalmente devido à atual conjuntura pela qual a empresa passa, e que demanda assim um esforço dos trabalhadores e trabalhadoras para ajudá-la da melhor maneira possível.
E, nesse ano que estamos infelizmente enfrentando uma série de ameaças, tanto para com a categoria petroleira como também para com a empresa, é de fundamental importância que nós tenhamos no Conselho de Administração pessoas que possam defender os petroleiros, as petroleiras, a Petrobras e a soberania nacional.
Qual é o papel de um representante dos trabalhadores no Conselho da Petrobras? Ele consegue ser ouvido? Ele consegue mudar alguma coisa?
Sem dúvida alguma. Vai depender muito da representatividade que esse representante tenha. Não adianta ter apenas um bom conhecimento técnico dos assuntos que são debatidos no Conselho, sem que tenha por trás desse representante pessoas e entidades que estejam apoiando o seu mandato.
Então o nosso mandado tem sido manifestado dessa maneira, com o apoio dos petroleiros e petroleiras, dos Sindpetros do Brasil, das Federações que representam também os trabalhadores e trabalhadores que atuam na Petrobras. E, devido a isso, não é ali o representante dos trabalhadores, o Deyvid Bacelar, que fala. Mas, sim, toda essa representação que está por trás dele. Devido a isso, sim, nós conseguimos ser ouvidos em determinados temas principalmente. É claro que aqueles que são de cunho mais ideológico, e que atingem principalmente os interesses representados hoje pelo Governo, que tem indicados 7 conselheiros – mas que são infelizmente são profissionais de mercados – aí ficamos em minoria. Mas obtemos essas informações para municiar a categoria e o movimento sindical, os movimentos sociais, para enfrentar as adversidades que estão postas pelo próprio Conselho de Administração.
O que você acha dessa decisão do Senado de ontem de manter a urgência para votação da urgência do processo do Serra?
Sem dúvida alguma um pleno absurdo. O senador José Serra já pela segunda vez tenta fazer isso e, infelizmente, consegue ontem a noite quando esse regime de urgência é aprovado, apesar do requerimento ter sido assinado por uma quantidade suficiente de senadores que não estavam presentes no momento da votação. Então de uma forma muito açodada infelizmente esse projeto de lei PLS 131 está na pauta de hoje e deve começar a ser discutido. Esperamos que os partidos da base aliada do Governo e os senadores e senadoras tenham atenção com relação aos perigos que nós temos com a aprovação desse projeto de lei, que vai colocar em xeque a soberania nacional. Entregar um recurso tão estratégico que tem sido disputado com guerras, por exemplo no Oriente Médio, para as petrolíferas multinacionais estrangeiras.
Deyvid, você já trabalha nessa função de representante dos trabalhadores do Conselho da Petrobras há um ano, porque o seu mandato é de um ano, se não me engano, não é isso?
Exatamente. O mandato acaba em abril, um mandato muito curto e que nós tentamos implementar algumas mudanças significativas no Conselho.
Ontem, no debate no senado, o senador Requião – que foi autor da proposta de retirar a urgência da discussão do projeto do Serra – disse que a atual diretoria da Petrobras é neoliberal. Você acredita que o Requião está sendo justo? A atual diretoria da Petrobras é neoliberal?
Infelizmente eu tenho que concordar com o senador Roberto Requião, que tem sido um exemplo de senador para a maioria daqueles que estão lá no Senado. Infelizmente o Governo Federal se afastou da gestão da Petrobras. Então aquela ala conservadora e reacionária – que sempre existiu dentro da empresa, desde os governos militares, neoliberais e até infelizmente nesse Governo popular democrático – essa ala conservadora de gerente e diretores tem se manifestado, assumindo novamente funções e postos estratégicos dentro da companhia, como diretoria. E aí temos principalmente a diretoria de E&P (Exploração e Produção), representada por uma diretora, sim, neoliberal. E, infelizmente, também os próprios conselheiros de administração…
Como se chama essa diretora?
A diretora é a Solange Guedes, hoje diretora de Exploração e Produção da Petrobras, e que tem desmontado tudo que foi construído ao longo desses anos. Hoje a engenharia da Petrobras, por exemplo, não tem mais a possibilidade de construir as grandes plataformas para o pré-sal porque a decisão da diretora é afretar a plataforma, afretar a sonda de perfuração no mercado internacional, prejudicando a indústria, a engenharia nacional, e a geração de emprego e renda no país.
É a disputa que está posta hoje. É a Petrobras com o seu papel social ou a Petrobras que serve apenas para dar retorno aos investidores dessa grande empresa. Sim, tenho que concordar com o senador Roberto Requião: diretoria formada por neoliberais. Infelizmente o Governo se afastou dos processos decisórios da empresa, inclusive no Conselho de Administração da Petrobras.
Quando é a eleição e quem são os eleitores?
A eleição começou no dia 20 de fevereiro e vai até o dia 28 de fevereiro, no próximo domingo. Os petroleiros e petroleiras da ativa – ou seja, aqueles empregados e empregadas da Petrobras – estão aptos a votar. E esperamos que aqueles que receberam os nossos informativos e viram a nossa atuação nesse ano possam dar novamente um voto de confiança e nos reconduz para esse posto, agora com o companheiro Artur Ragusa, o Bob Ragusa. Esperamos que os trabalhadores e trabalhadoras entendam esse nosso momento crucial para a Petrobras. E nós não podemos permitir, em hipótese alguma, que a gestão da empresa – que infelizmente tem sido representada por neoliberais – ocupem um espaço que é do trabalhador e da trabalhadora.
Então esperamos que a chapa 1010 possa vir a ser eleita, trazendo de fato a representação daqueles que vendem a sua força de trabalho a essa grande empresa, que é a Petrobras, e que precisa ser defendida e que precisa, sim, ir ao encontro dos interesses da população brasileira e do nosso país.
Fonte: FUP, com informações do blog Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim