O coordenador reeleito para o Sindipetro-NF fala sobre os desafios da próxima gestão e avalia as lutas e conquistas dos petroleiros da Bacia de Campos







Após 21 dias de votação, realizados entre o dia 11 e 31 de maio, a categoria petroleira da Bacia de Campos, que é o maior pólo de produção de petróleo do Brasil, elegeu nova diretoria do Sindipetro NF. Com 2.696 votos a 2.124, a Chapa 1 – Unidade e Luta –  apoiada pela FUP, foi eleita. Foram às urnas 5.159 petroleiros, que representam mais de 60% dos filiados. A apuração contabilizou ainda 37 votos nulos, 14 votos em branco e 288 votos inválidos Os petroleiros deram uma grande mostra de organização, com elevada participação neste processo eleitoral. Nesta entrevista, o coordenador do Sindipetro NF, José Maria Rangel, fala sobre as principais lutas e conquistas do sindicato junto à categoria, nos últimos anos, parabeniza a organização dos trabalhadores, da FUP e da CUT, e cita as próximas bandeiras de luta da nova gestão do sindicato para este triênio. 

Nos últimos anos, o Sindipetro NF tem mostrado muita resistência e organização na luta pelos direitos à saúde e segurança dos petroleiros próprios e terceirizados da Bacia de Campos. Quais foram os principais enfrentamentos do sindicato e dos trabalhadores com a Petrobrás e as empresas do setor privado?

O primeiro grande enfrentamento foi em 2001, quando fomos a justiça para garantir a nossa participação na comissão de apuração do acidente da P-36 , onde morreram 11 companheiros nossos. O objetivo não era punir ninguém, e sim tirar lições para que novos acidentes como aquele não voltassem a acontecer. Com o passar dos anos, incluímos no nosso ACT, a garantia de participação nas comissões de apuração de acidentes, e hoje, já temos mais de 30 cláusulas no capítulo de saúde e segurança.

Também enfrentamos a Petrobrás ao colocar em cheque a sua política de segurança , quando mais de 30 plataformas e o terminal de Cabiúnas, relataram as pendências de segurança, que foram encaminhadas aos devidos órgãos de fiscalização (SRTE , ANP , MPT , etc).

Outro enfrentamento do sindicato à companhia e às empresas do setor aconteceu quando houve a interdição da P-33, e os mesmos desafiaram a Justiça do Trabalho e a Gerência da Bacia de Campos, afirmando que a plataforma tinha condições de operar. Foi aí que a categoria, formada por trabalhadores próprios e terceirizados, deu um sonoro NÃO para eles. Após este episódio, também houve a interdição das plataformas P-35, P-27 , PCH-2, Clyde Boudreaux(Noble),  e mais recentemente, a P-65.

São muitas lutas e um trabalho muito grande junto à categoria, para termos êxito. Posso dizer com toda tranqüilidade, que o Sindipetro NF, tem sido implacável na busca pelo direito ao trabalho seguro. 

O envolvimento do Sindipetro NF com os trabalhadores da Bacia de Campos foi grande, e diante disso, podemos constatar que em diversos momentos, os petroleiros tomaram a iniciativa de denunciar pendências em algumas unidades do Sistema Petrobrás. Como o Sindipetro NF avalia estas questões? É possível que num futuro próximo, a conscientização e o poder de mobilização dos trabalhadores possam mudar completamente esta situação?

O futuro está mais próximo do que se imagina e acreditamos nisso. Em 2001, quando ocorreu o acidente de P-36, o sindicato chamou a categoria a levantar as pendências de segurança nas unidades. Naquele momento, só cinco trabalhadores enviaram, no entanto, persistimos com os indicativos e mobilizações, até chegarmos ao número de 38 unidades em 2011, mais o terminal de Cabiúnas. A categoria tem visto o trabalho sério do sindicato, especialmente no tema segurança e saúde. Nesta trajetória, conseguimos construir o anexo 2 da NR-30, melhoramos as condições do transporte aéreo na Bacia de Campos , pactuamos um TAC(Termo de Ajuste de Conduta)  com o MPT, combatendo as subnotificações de acidentes de trabalho, tudo isso junto à categoria, aliando poder de mobilização com negociação que é a nossa marca. 

Como foi o enfrentamento do Sindipetro NF com a Petrobrás, quando a empresa proibiu o acesso dos diretores do sindicato ao saguão dos aeroportos de Macaé, onde normalmente acontecem as tradicionais conversas com os trabalhadores, no momento de embarque e desembarque.

Nem todo mundo está aberto ao recebimento de críticas. É muito mais fácil viver como Alice no país das maravilhas. Assim são alguns gestores da Petrobrás, que preferem se pautar por números maquiados de segurança, ao enxergar a realidade, que são as condições das nossas plataformas. Diante disso, fomos aos aeroportos, denunciar o equívoco gerencial na política de manutenção das plataformas, e dizer que algo deveria que ser feito naquele momento, antes que acontecesse uma nova fatalidade como a da P-36.

No entanto, ao invés destes gestores assumirem a sua culpa e o seu erro gerencial, preferiram impedir o nosso acesso ao saguão dos aeroportos de Macaé e do Farol de São Tomé. Foi ai  que decidimos impedir que todos os outros trabalhadores entrassem no saguão, até que a situação fosse normalizada, o que ocorreu após 3 horas de mobilização.

O que falta aos gestores da Petrobrás é encarar o tema saúde e segurança como prioridade e parar de tratar esta questão como propaganda. Desde o mês de setembro de 2010, estamos esperando a realização de um fórum sobre o tema, com o presidente da empresa, diretores e gerentes executivos, porém, parece faltar agenda para eles cumprirem o acordado com o movimento sindical. Enquanto isso, no mundo real do Sistema Petrobrás, acontecem mais mortes, mutilações, adoecimentos de trabalhadores e interdições de plataformas.   

Em 2010, a assinatura do Acordo Coletivo de Trabalho foi condicionada à suspensão das punições geradas após a greve nacional de 5 dias, realizada em 2009, pelos trabalhadores do Sistema Petrobrás. Essa questão foi  deliberada pela I Plenária Nacional da FUP e referendada pela categoria nas assembléias. A empresa mostrou resistência às mobilizações dos petroleiros?

A empresa não contava com a solidariedade da classe trabalhadora e esqueceu que nós não deixamos companheiros feridos pelo caminho. Nós condicionamos a assinatura do ACT à retirada das punições, o que ocorreu de fato. Mais uma vez, parabénizo os trabalhadores pela consciência política, a FUP pela brilhante condução do processo, e aos sindicatos da FUP, que compraram uma briga que era do Sindipetro NF. 

Como tem sido a adesão dos trabalhadores terceirizados na organização sindical? E quais foram as principais campanhas e conquistas do setor privado?

Hoje pactuamos acordos coletivos com mais de 23 empresas, temos mais de 700 filiados e realizamos recentemente, greves vitoriosas na Perbrás e Halliburton. Os acordos pactuados tem garantias acima do previsto na legislação. Ainda temos muito o que avançar, como igualar as jornadas dos petroleiros próprios com terceirizados, por isso, penso que esta questão deve ser prioridade neste momento. As 40 horas semanais para o pessoal administrativo, e 14 x 21 para os off-shore taambém estão na nossa pauta, da CUT e FUP. Por isso, vamos aliar mobilização com negociação para sermos vitoriosos.  

Qual  foi a plataforma política da Chapa 01 – Unidade e Luta, durante processo eleitoral realizado no mês de maio, nas bases do Sindipetro NF?

A nossa plataforma política foi baseada em falar a verdade, e não vender ilusões, como fizeram nossos opositores. Durante a nossa campanha, também tivemos como referência a CUT e a FUP, entidades construídas por nós, com muita luta.  Diferente de nossos opositores, que esconderam da categoria que eram do PSTU. A defesa da vida também continuou fazendo parte das nossas propostas. Nossos opositores sempre criticaram as nossas políticas de combate ao caos da política de segurança da Petrobrás, e das empresas do setor, e por isso, até colocaram na chapa um médico que subnotifica acidente de trabalho. O Sindipetro NF defende e continuará lutando por um plano de previdência justo, e nossos opositores defendem que a base da pirâmide pague os altos benefícios do topo. Também revisitamos o PCAC, não com o caráter eleitoreiro dos nossos opositores, mas sim enxergando que a Petrobrás vai ter os seus profissionais assediados pelas operadoras que estão chegando, por isso, entendemos que esta revisão é urgente. A luta pelo terceirizado na sua plenitude (direitos, regime, jornada, salários) também é grande prioridade durante toda a nossa jornada de lutas. Diferente dos nossos opositores, que vêem nestes companheiros apenas como mais um voto. Para concluir é o olho no olho, é estar presente.

Como foi a participação dos trabalhadores durante as eleições? Os petroleiros novos conseguiram entender a importância do processo eleitoral para o sindicato e para os trabalhadores?

Olha, foram vinte e um dias de eleição, vinte e seis postos de coleta de votos, mais de cinco mil votantes, que representam 60% de filiados. A apuração aconteceu em tempo recorde, e com transmissão ao vivo pela Rádio NF. Só uma entidade bem administrada, consolidada e respeitada politicamente consegue tal feito.  Os petroleiros do NF estão de parabéns.  

As principais bandeiras de luta do sindicato para o próximo triênio também será focada na resolução das questões de saúde e segurança dos trabalhadores?

Vamos continuar fazendo uma política voltada para integridade dos trabalhadores, investindo na sua qualificação, com a realização de seminários, palestras e congressos sempre voltados para o tema segurança e saúde. A política de parceria com os órgãos de fiscalização (SRTE, ANP, MPT )  também se mostrou correta, então vamos investir em  novas auditorias, chamando a categoria para realizar levantamentos das pendências de segurança, buscando sempre  o fortalecimento e a credibilidade nos órgãos de fiscalização, pois isso representa a presença do estado fazendo cumprir as leis. 

Qual a visão do Sindipetro-NF em relação à atual organização sindical?

Levando em consideração que a luta capital x trabalho vai sempre existir e que o capital está sempre a procura de novos meios de combate à organização dos trabalhadores, penso que o movimento sindical tem que buscar novas formas de organização e de mobilização, combater com firmeza as práticas antissindicais, entender que nos dias atuais não se faz mais sindicalismo só com palavras de ordem, mas fazendo greves que davam resultado há 20 anos atrás. Os tempos mudaram, uma geração muito nova está entrando no mercado de trabalho, com aspirações e anseios completamente diferentes de 10 anos atrás. Ou nós, sindicalistas, entendemos isso e fazemos algo inovador, diferente, ou aqueles que só querem se valer da máquina sindical, sem compromisso com a categoria e com discurso fácil , conquistarão cada vez mais espaço.