O coordenador do Sindipetro NF ressalta a importância de intensificar a luta por uma nova política de saúde e segurança na Petrobrás


A Bacia de Campos historicamente tem sido a unidade da Petrobrás com maior incidência de acidentes de trabalho. A que se deve isso?

Atualmente, a Bacia de Campos conta com mais de 40 plataformas e cerca de 20.000 trabalhadores diretos e indiretos, que são transportados por 30 aeronaves, nos aeroportos de Macaé e Farol de São Tomé. São 97 vôos diários. Os números são grandiosos, como tudo na Bacia de Campos. Diante disso, também é grande o risco na atividade off-shore. No entanto, a política de SMS da Petrobrás contribui de forma decisiva para o aumento do risco a que são submetidos os trabalhadores. Isso porque os pontos que servem para medir a eficiência da política de segurança são deixados de lado, para que se possa produzir cada vez mais. Estou falando das diretrizes de SMS, que hoje só servem para ficarem penduradas nas molduras das salas dos prédios da Petrobrás. Recentemente, o   Sindipetro NF realizou uma enquete, através do seu site, fazendo algumas indagações sobre as diretrizes de SMS da empresa, e a resposta que obteve mais pontuação foi que as diretrizes são deixadas de lado quando a produção é posta em risco.Um grande exemplo disso ocorreu na greve pelo dia de desembarque, quando a Petrobrás embarcou os pelegos em helicópteros no meio do mato, operou as unidades com efetivo reduzido, além de outras barbaridades praticadas pela empresa.

As atuais condições de trabalho dos petroleiros aumentam a exposição ao risco?

Sim. O risco é cada vez maior, visto que hoje o efetivo da empresa está totalmente defasado. Apesar da constante luta do movimento sindical por um estudo do efetivo, o assédio moral é cada vez maior nas unidades marítimas, atingindo, principalmente, os trabalhadores terceirizados, que são as maiores vítimas de acidentes fatais de trabalho. Além disso, as plataformas transformaram-se em verdadeiros canteiros de obras, construídos em áreas de plena operação, que necessitam de reparos, mas nunca são feitos, devido à  produção que nunca pode parar. As unidades novas também se encontram com sérios problemas, inclusive erros de projetos (vide PRA-1 e P-53).

Como têm reagido as gerências de SMS da Petrobrás aos acidentes ocorridos?

Não demonstram muita preocupação, pelo menos aparente. Para exemplificar, posso citar dois casos: em PRA-1, houve vazamento de gás seguido de explosão, em uma interligação de dreno aberto com dreno fechado (lembrando a P-36) e os gerentes da empresa disseram que o acidente foi moderado. A P-53, recém chegada à Bacia de Campos, é motivo de preocupação de pilotos e passageiros, pois no heliponto é gerada uma turbulência enorme na hora dos pousos e decolagens. Os gerentes da empresa dizem que não há erro no projeto, apesar do navio ficar amarrado por rebocadores a cada operação de troca de turma.

Quais são as principais questões da agenda de negociação do Sindipetro-NF com o SMS da Petrobrás?

Em nossas idas aos embarques dos trabalhadores para a Bacia de Campos, falamos aos petroleiros que este ano todas as nossas ações estarão voltadas para a saúde e segurança. A agenda vai, desde as subnotificações à mudança na política de SMS da empresa.

A FUP e os sindicatos insistentemente têm cobrado mudanças estruturais na política de segurança da Petrobrás. Este, no entanto, continua sendo o ponto de pauta que menos avança na negociação com a empresa. Por que há tanta resistência da Petrobrás em atender às reivindicações dos trabalhadores?

De todos os capítulos do nosso ACT, de fato o de saúde e segurança é aquele que menos avança no sentido de mudanças estruturais, pois a empresa sabe que hoje este tema ainda não mobiliza a categoria e também pode colocar em risco a sua máxima de produzir a qualquer custo. A FUP e os sindicatos serão duros para mudar esta realidade

Além da segurança, há também a questão da saúde ocupacional, que pouco avanço tem tido na mesa de negociação…

A Petrobrás, como a maior empresa do país, deveria dar o exemplo no reconhecimento da aposentadoria especial, visto que hoje chegamos ao absurdo de tratarmos iguais os diferentes. Ou seja, um trabalhador de plataforma tem o mesmo tratamento que um trabalhador do administrativo e a empresa se esconde atrás do governo para agir desta forma. A resistência da empresa em reconhecer doenças mentais, problemas crônicos na coluna e LER/DORT como doenças ocupacionais acaba levando o trabalhador a enfrentar anos de luta judicial para garantir um direito que é seu.Tudo isso é fruto do descaso com o trabalhador, que é o seu maior pratimônio, como diz a  Petrobrás.

O Direito de Recusa é uma conquista da categoria que a FUP e os sindicatos têm desenvolvido campanhas incentivando os trabalhadores a fazerem valer este direito. Que impactos o Direito de Recusa têm para o trabalhador e a empresa?

Ao tomar uma atitude com conhecimento técnico de não realizar uma atividade onde os riscos são maiores que os habituais, o trabalhador está preservando a sua integridade física e a de seus companheiros. Na Bacia de Campos, os trabalhadores se utilizam desta cláusula do ACT para não embarcar em aeronaves Super Puma L2, bem como em vôos que vão avançar o horário do por do sol. Costumo dizer que os trabalhadores precisam dar um duro danado para conquistar a cláusula e depois devem lutar para fazer valer o que está escrito. O  Direito de Recusa não pode e não deve ser apenas mais uma entre as cento e tantas cláusulas do nosso ACT. Por isso, a FUP e os sindicatos têm realizado campanhas esclarecendo e incentivando os trabalhadores a utilizarem o Direito de Recusa em defesa da vida.   

Que outras ações a FUP e os sindicatos estão desenvolvendo para pressionar a Petrobrás a rever sua política de SMS?

O envolvimento da categoria é fundamental neste processo. E isso é um grande desafio para nós.  O que pretendemos fazer é continuar conscientizando os petroleiros de que lutar por saúde e segurança é tão ou mais importante do que lutar por salários e vantagens. Por isso, precisamos continuar chamando os trabalhadores (próprios e contratados) para as  ações e mobilizações com foco na segurança, na saúde e no meio ambiente, pois se não for desse jeito, a Petrobrás vai continuar se sentindo muito à vontade para fazer de conta que a sua política de SMS, apesar de mutilar e matar, continua maravilhosa como tenta pintar a empresa em suas apresentações.