A Petrobras acaba de entregar à Comissão Nacional da Verdade (CNV) um acervo com mais de 400 rolos de microfilmes, além de documentos textuais, que pertenciam à ASI/Petrobras. O departamento era uma divisão do Serviço Nacional de Informações (SNI) que, na ditadura militar, atuava no interior da empresa, fichando e monitorando os trabalhadores.
A expectativa é que a documentação traga novas informações sobre a severa repressão na estatal. Para avaliar o significado desta iniciativa, o coordenador da FUP, João Antonio de Moraes, fez um balanço sobre a importância da última década na vida dos trabalhadores. A entrevista foi originalmente publicada do Blog do Zé Dirceu.
Segue a entrevista:
João, qual a importância da transferência desta documentação agora?
É muito importante. Primeiramente, a instituição da Comissão da Verdade foi importante como um todo. Um país que não averigua e não olha sua história, procurando corrigir os erros, não tem futuro. Essa história de esquecer tudo não funciona. Nós já tínhamos pistas de que a ditadura havia atuado internamente na Petrobrás para atingir os trabalhadores de uma maneira muito contundente. Temos vários casos de companheiros que foram duramente perseguidos, os sindicatos foram fechados e tivemos várias ações violentas contra os trabalhadores petroleiros.
Cito o exemplo do meu sindicato, dos petroleiros em Mauá (SP), que em 1964 foi fechado, seus trabalhadores demitidos e muitos deles presos. Nós sempre tivemos, portanto, notícias que a ditadura investigava os trabalhadores. Os documentos confirmam isso. Eles mostram que as investigações aconteceram até 1985. São fundamentais porque nós teremos a oportunidade de confirmar os absurdos que foram cometidos naquela época. A FUP vai acompanhar e pedir à Comissão que nos passe o resultado dessas investigações.
Como você avalia a última década de PT no poder?
Eu estive no ato do PT nesta quarta-feira. Foi muito emocionante. Um momento importante para a militância se encontrar e se aliviar de toda essa carga pesada que vem sendo jogada, sobretudo por parte da imprensa que, hoje, praticamente, organiza-se como um partido político. E para fazer oposição a um projeto que tem dado certo e tem melhorado o nosso Brasil, e contribuído fortemente para melhorar a América Latina. O ato foi um momento importante também para que pudessemos analisar os dados que revelam o significado desses 10 anos de PT no país.
Na nossa avaliação, foi uma década de muito avanço e melhoria nas condições de trabalho na nossa categoria. Lembrem-se que a Petrobras vinha sendo destruída. De 2003 para cá, houve uma mudança: nós tivemos investimentos muito fortes e afirmo que foram eles que possibilitaram a confirmação da existência do pré-sal. Certamente, não fosse o PT no governo, não seria possível termos chegado ao pré-sal. E não estaríamos agora com essa riqueza que poderá significar uma mudança muito forte na nossa história.
Por conta dos investimentos?
Exatamente. O primeiro poço que confirmou a existência do pré-sal foi perfurado em 2006 e custou à Petrobras US$ 200 milhões. Se a empresa não tivesse tido investimentos fortes desde 2003 para cá, certamente aquele campo não teria sequer sido furado. É bom lembrar que a Petrobras estava intimidada antes do governo Lula. O ataque aos trabalhadores era também muito forte, a gente tinha vergonha de trabalhar em estatal. Isso mudou fortemente a partir de 2003.
Durante os anos do neoliberalismo, nós fomos uma das categorias que mais resistiram. A nossa marca histórica é a greve em 1995, de 33 dias, que foi fundamentalmente uma resistência contra o projeto neoliberal do governo FHC no nosso país. No governo do PT, nós continuamos na mobilização e na luta, obviamente, mas essa luta permitiu que tivéssemos muitas conquistas e que nos destacássemos nesse novo momento, sendo vanguarda na conquistas de novos direitos para os trabalhadores.
Em 2003, apenas para dar um exemplo em termos numéricos, nós éramos 33 mil trabalhadores na Petrobras. Hoje, nós somos 80 mil. Esse crescimento todo aconteceu nestes 10 anos de PT.