O Coordenador da FUP, Hélio Seidel, fala sobre a importância da descoberta do Campo de Tupi e a necessidade urgente de profundas alterações na legislação do setor petróleo. Ele convoca os petroleiros e demais trabalhadores a juntarem-se à FUP, à CUT e demais entidades na luta contra os leilões das bacias petrolíferas brasileiras realizados pela ANP. Nesta entrevista, o coordenador da FUP faz uma ampla análise desta questão:
Qual a importância da preservação das reservas brasileiras de petróleo para a soberania do país?
A história do petróleo no Brasil tem significado muito além da questão energética, mas, acima de tudo, significa a vitória da autodeterminação do povo brasileiro e de sua capacidade de vencer desafios.
A descoberta do campo de Garoupa na Bacia de Campos tem um marco histórico na empresa e no Brasil, determinou que nosso caminho do petróleo não estivesse na terra, como sonhou Monteiro Lobato, mas no mar, em nossa plataforma continental e, com isso, novos desafios tecnologicamente mais complexos e desafiadores: o de explorar petróleo em águas profundas.
Essa descoberta impõe para a sociedade brasileira a necessidade de rediscutir sua política de hidrocarbonetos e coloca o país em outro patamar no cenário internacional energético. Uma das primeiras providências do presidente Lula foi chamar o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) para rediscutir a 9ª Rodada da ANP – Agência Nacional do Petróleo. A posição do presidente e de parte do Ministério era o da suspensão do leilão, no entanto, no decorrer da reunião, a posição tomada foi a da retirada apenas dos blocos relativos à área do Pré-sal, que abrange os limites
O modelo regulatório brasileiro, sob a modalidade de “concessão” já foi abandonado em todos os países com alguma capacidade petrolífera e substituída pelo modelo de partilha da produção, na qual o governo fica com parte da produção do campo, variando esse percentual de país a país e conforme o tamanho dos campos petrolíferos. O modelo de concessão impõe às empresas o pagamento de royalties e impostos como todas as demais atividades produtivas. Esse modelo de royalties, muito pouco utilizado entre os países que produzem petróleo, era uma coisa com o petróleo a U$ 13, na segunda metade dos anos 90 quando a lei 9478 foi votada e implementa contra a nossa vontade. Hoje, o petróleo chegou a U$ 100 dólares; alguma coisa mudou!
Qual a importância dos atos que a FUP tem realizado para cobrar a suspensão dos leilões de petróleo?
Historicamente, a FUP tem estado à frente deste processo, organizando manifestações e atos políticos em defesa da soberania do país. Tem sido assim desde antes da quebra do monopólio, quando criamos na década de 80 o movimento em defesa do Sistema Petrobrás, quando fizemos a greve de 95 e depois, quando continuamos indo para as ruas junto com a CUT exigir a suspensão dos leilões realizados pela ANP. Este mês, a FUP, junto com os sindicatos filiados, o MST e o Sitramico, realizou um grande ato no último dia 13 em frente à sede da Petrobrás, que reuniu mais de 400 petroleiros de várias regiões do país, cobrando a suspensão dos leilões de petróleo. Novamente, estaremos com a CUT e demais entidades, participando do ato conjunto que será realizado no dia 22, no Rio de Janeiro, em frente à Candelária, reforçando a necessidade de suspensão da Nona Rodada. Nossa forma de pressionar o governo e o Congresso Nacional sobre a importância deste debate é estarmos nas ruas mostrando para a população que leilão é privatização e que o destino das nossas reservas de petróleo deve ser decidido pelo povo brasileiro.