O coordenador da FUP, João Antônio de Moraes, fala sobre a greve unificada dos trabalhadores próprios e terceirizados da Petrobrás. A greve começa no primeiro minuto desta segunda-feira, 23, nas refinarias, plataformas, campos terrestres de produção e terminais de distribuição de petróleo e gás. Além dos petroleiros dos 11 sindicatos que compõem a FUP, a greve contará também com a participação dos trabalhadores das bases do Rio Grande do Sul, Litoral Paulista, São José dos Campos, Rio de Janeiro e Sergipe/Alagoas, cujos sindicatos não são filiados à Federação. A greve unificada terá duração de cinco dias, com reavaliação na sexta-feira, 27.
Quais os motivos que levaram os petroleiros à greve?
A greve tem quatro eixos de luta: garantir os postos de trabalho nas empresas contratadas pela Petrobrás; acabar com a precarização das condições de trabalho e os acidentes que matam constantemente os trabalhadores, principalmente os terceirizados; restabelecer o pagamento das horas extras dos feriados trabalhados, o chamado extraturno ou dobradinha; e garantir o regramento e pagamento justo da PLR (Participação nos Lucros e Resultados).
A Petrobrás, no entanto, só se pronunciou sobre um destes pontos, a PLR, e, mesmo assim, através de uma proposta que absolutamente não atende às necessidades dos trabalhadores. A empresa teve um aumento de 66% em seus lucros e, no entanto, apresenta uma proposta reduzida de PLR, que está sendo rejeitada massivamente pelos trabalhadores. O que a Petrobrás está fazendo é reproduzir o que tem sido a prática de muitas empresas pelo mundo afora: tentar repassar para os trabalhadores os ônus de uma crise que pertence ao mercado.
Outra situação gravíssima é a redução de postos de trabalho nas empresas contratadas pela Petrobrás. Essa situação agrava ainda mais a já crítica condição de segurança na empresa. Nos últimos dez anos, 165 petroleiros morreram em acidentes de trabalho na Petrobrás, dos quais 134 eram terceirizados. Ao reduzir seus efetivos de trabalhadores, essas empresas terceirizadas aumentam a sobrecarga de trabalho e precarizam ainda mais as condições de segurança. Essa economia burra tem conseqüências gravíssimas, pois multiplica os riscos de acidentes, perdas de vidas e prejuízos ao meio ambiente.
A greve unificará todos os sindicatos petroleiros do país. Qual o impacto desta unidade para a categoria e para a Petrobrás?
A FUP nasceu para unificar a categoria petroleira nacionalmente. A participação nesta greve dos sindicatos que não são filiados à FUP é uma construção política muito importante para a categoria e que reflete a atual gravidade deste enfrentamento que travamos com o capital. Há muito tempo não tínhamos este tipo de unidade entre os petroleiros. A unificação da greve fortalece a categoria e, se a direção da Petrobrás tiver responsabilidade com a nação, buscará abrir a negociação contemplando os quatro pontos reivindicados.
E quanto ao calendário de luta da CUT, CTB, Conlutas e demais centrais, que estão unidas para impedir que os trabalhadores sejam prejudicados pela crise? Os petroleiros também participarão desta agenda unidos?
Esta é uma luta classista e os petroleiros estarão unidos nas mobilizações do dia 30 de março, chamada pelas centrais. Entendemos que a tentativa das empresas de se utilizarem da crise para se apropriarem ainda mais da renda dos trabalhadores e das nações é um ataque que tem que ser combatido por todos. O que as empresas estão buscando é lucrar com a crise e se aproveitarem dela para se reestruturarem, aumentando a concentração de renda e fragilizando ainda mais as nações. Essa crise foi criada pela especulação financeira internacional, mas, se avaliarmos de forma mais ampla o que está acontecendo, vemos que esta crise é fruto também da redução do valor do trabalho em todos os continentes. Portanto, não podemos permitir uma nova onda de flexibilização e precarização das condições de trabalho e direitos arduamente conquistados pela classe trabalhadora. A FUP estará presente nas mobilizações do dia 30, construindo um calendário unificado com todos os sindicatos de petroleiros, para deixar claro que os trabalhadores não pagarão pela crise.
Os trabalhadores terceirizados são os que mais sofrem com os cortes e reduções de direitos. A greve pode reverter esta situação na Petrobrás?
Historicamente, a melhoria das condições de trabalho sempre foi fruto da organização e capacidade de luta da classe trabalhadora. Um dos objetivos centrais da terceirização, que não é revelado pelas empresas, é a fragmentação dos trabalhadores. A terceirização busca destruir a identidade de classe e a unidade das categorias e, assim, precarizar as condições de trabalho sem resistência. À medida em que os trabalhadores conseguem construir movimentos unitários, trazendo para a luta trabalhadores próprios e terceirizados, estaremos inviabilizando esse objetivo central da terceirização. Pressionadas pela unidade e sentimento classista dos trabalhadores, as empresas são obrigadas a negociar e a avançar no atendimento das reivindicações de seus empregados. A Petrobrás tem plenas condições de exigir contratualmente das empresas terceirizadas o respeito aos direitos trabalhistas e a manutenção dos postos de trabalho. Para isso estamos indo à luta, unidos.