Em entrevista ao Portal do Mundo do Trabalho, o coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antonio Moraes, saudou a decisão da Direção Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), “em sintonia com a solicitação da categoria”, pela “imediata retirada da Chevron do Brasil”, diante da irresponsabilidade no vazamento do petróleo que ocasionou o grave acidente ambiental no Rio de Janeiro. “A expulsão da Chevron é questão de dignidade e soberania nacional”, enfatizou Moraes. O próprio diretor da multinacional norte-americana, Luiz Pimenta, admitiu perante a Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados que a multinacional instalou apenas uma das duas sapatas (fundação) previstas para o sistema de contenção e vedação do poço de Frade, na Bacia de Campos. Conforme descoberto pela Policia Federal, consumado o estrago, a multinacional ainda tentou jogar areia para que o petróleo desaparecesse nas profundezas e o crime fosse encoberto.
Leia a íntegra da entrevista:
A última reunião da Direção Nacional da CUT se posicionou pela imediata retirada da Chevron do Brasil. Qual o significado desta decisão?
O ocorrido com a Chevron comprova que estávamos corretos ao lutar contra os leilões e defender o monopólio estatal do petróleo, pois este é um setor estratégico e delicado que não pode ficar à mercê dos interesses do lucro fácil. A Chevron mentiu diversas vezes ao governo, à sociedade e ao país, desde o tipo de perfuração que se comprometeu a fazer – pois disse que ia operar em águas rasas e tentou aprofundar, chegando a sete mil metros de profundidade, com o claro objetivo de chegar ao pré-sal. Depois, tentou esconder o vazamento, com todas as graves consequências disso para o meio ambiente. Mentiu novamente ao dizer que tinha 10 navios fazendo o combate à emergência, quando havia um único. Conforme havia conversado com o companheiro Artur, presidente da CUT, para a FUP, a expulsão da Chevron é uma questão de dignidade e soberania nacional.
A multinacional já demonstrou que tem compromisso zero…
Não há compromisso nenhum e isso está evidente. Os fatos são gritantes. Até a operadora da Chevron, que faz os trabalhos de perfuração no Campo de Frade, é a Transocean, exatamente a mesma que operava a plataforma da British Petroleum, que explodiu no Golfo do México em 2010, causando o maior desastre ambiental da indústria do petróleo. Precisamos denunciar o mais amplamente possível este crime para que a Chevron receba uma punição exemplar. Isso é fundamental para que tais práticas não sejam repetidas por outras empresas. No nosso entendimento, a legislação precisa urgentemente dar mais e melhores instrumentos para que o povo brasileiro possa fiscalizar e controlar a sua riqueza.
O presidente da Chevron para a América Latina e África, Ali Moshiri, chegou a ironizar a cobrança das autoridades brasileiras, dizendo que a “reação foi exagerada” e que nunca havia visto “um vazamento tão pequeno gerar tamanha reação”. Para completar, ainda mandou recado, falando que “se alguém acha que esse tipo de incidente não vai se repetir, eu gostaria de conversar com ele”.
As declarações que falam por si e mostram que tipo de empresas foram beneficiadas com a abertura da indústria brasileira de petróleo nos anos 90, durante o governo FHC, período em que iniciaram os leilões dos campos exploratórios, muitos deles entregues por valores irrisórios a multinacionais. A forma de produção da Chevron é altamente predatória, se utilizando de muito trabalho terceirizado, precário, na operação das plataformas. Precisamos colocar um ponto final nestes abusos.