Por Divanilton Pereira*
O sistema midiático acorda-me, alimenta-me e me faz dormir abastecido com seu prato preferido. Apresentam-me um cardápio velho, mas que em democracias novas provocam congestões que potencializam poderosas ameaças. Seus efeitos colaterais atingem inúmeras consciências, criando um ambiente como se fosse de uma peste epidêmica. Para isso, prescrevem um remédio, que com seu prazo de validade vencido, não busca tratamento e sim dizimar o suposto e único foco que lhes convém.
Tal como na medicina, também na gastronomia, mesmo que as aparências tentem contrariar, a receita não é inodora, insípida ou incolor. Sua gênese vincula-se a pequenos círculos, mas com força para adquirir aceitação entre os consumidores. Esse restrito núcleo, seleto e rico, não saboreia sua própria culinária, pois ele conhece os riscos que recaem sobre quem inadvertidamente a consome.
Com uma parcela predefinida a ser atingida, os seus grandes chefs – muito bem remunerados e incrustados na vasta rede instalada em todo o país – são os responsáveis pelo preparo de todo o menu a ser oferecido. Dele, um em especial, é sempre o escolhido e transformado em novidade nutricional: aquele que provocando náuseas e intoxicações induz a parte de sua clientela a não discernir que é vítima de uma antiga franquia ameaçada. Este seleto grupo, contra a perda de sua exclusividade histórica, busca eliminar o novo conglomerado concorrente e responsabilizar quem o lidera.
Esta metáfora simboliza a luta política travada pelo consórcio elitista e reacionário que não admite a sua quarta derrota eleitoral consecutiva. Em torno disso manobram, e além do midiático, escandalosamente acionam o seu poder paralelo – inclusive o policial e o judiciário – emulando a desestabilização política. Tentam a todo custo provocar ligações que semeiem a conspiração contra a ordem democrática que reelegeu a presidenta Dilma Rousseff.
Polarização política, agenda permanente
A crescente polarização política no Brasil entrou numa fase em que sua agudez não mais se restringe aos períodos dos calendários eleitorais. Ela se desenvolveu historicamente e como tal não haverá trégua, fará parte de nosso cotidiano. Uma nova circunstância que trará reflexos sobre todas as relações sociais no país.
O ingrediente em curso, a “novidade nutricional”, a corrupção, novamente orienta os discursos e a agenda oposicionista. Uma réplica usada todas as vezes que projetos democráticos e populares assumem a Presidência da República. A senha foi anunciada pelo candidato a vice na chapa de Aécio Neves, Aloysio Nunes. Com sinônimos, ele anunciou para hoje a velha tática lacerdista de 1950, originalmente dita: “O Sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”.
Sem tergiversações e com as singularidades atuais, eis o nível da luta política no Brasil. Sem compreendê-la, incorremos em surtos particularistas.
E contra os fatos?
A abordagem sobre a corrupção ora enfrentada no país, particularmente na Petrobras, deve estar contextualizada dentro dessa grande batalha política. Sem essa referência, admitiríamos ser possível equidade entre os valores e os interesses das classes sociais que disputam os destinos do Brasil..
No entanto, isso não elimina a nossa repulsa e combate a essa chaga, como também à impunidade. É uma prática condenável e mais impregnada em sociedades, como a do Brasil, em que os valores de troca são meros intercâmbios monetários. A sua dissipação integra a luta nobre por um padrão civilizacional que vá além desses parâmetros mercantis.
Além disso, o Brasil só há pouco retomou uma agenda desenvolvimentista. Estão em curso grandes obras de infraestrutura e através da Petrobras, pelo pré-sal, a execução do maior programa empresarial do mundo, que prevê investimentos de U$ 236,7 bilhões em cinco anos. Essa agenda estratégica para o país, infelizmente, também tem atraído a sanha do lucro fácil, da locupletaçãoe as indevidas ingerências.
A Petrobras, integrante de um Estado ainda viciado, revelou-se estruturalmente e gerencialmente frágil para proteger-se desses ataques. O seu desafio, com forte foco na tecnologia, agora ganha novas dimensões. Além de resgatar o orgulho nacional, terá que executar uma governança pública, democrática e transparente. Nessa direção não basta o necessário rigor com a escolha de seus novos gestores.
Exige-se com proeminência o alargamento da consciência política coletiva, destacadamente do seu sistema diretivo. Um valor indispensável para reafirmar a Petrobras perante o povo brasileiro e não apenas com o mercado. Essa diretriz é também um ajuste de contas com a tese, ainda prevalecente, de que o modelo de gestão assentado exclusivamente na tecnocracia meritocrática seja a panaceia da modernidade administrativa. Essa corrente de opinião foi frontalmente atingida.
“Eu acredito é na rapaziada”
Ao escrever essas opiniões e sobre suas circunstâncias políticas, reflito como estejam as mentes e os corações da força de trabalho que concretamente produz a riqueza petrolífera. Neste momento de vossa leitura, a sua inteligência coletiva e abnegação profissional estão em plena atividade.
É uma cadeia produtiva que atua de forma ininterrupta, que submete seus técnicos às mais complexas e difíceis situações laborais, incluindo o risco de suas próprias vidas. São os que de fato fazem a diferença.
Esses profissionais que se deparam diariamente com a farra midiática alimentada pelos “feitos” de uma minoria tecnocrática corrupta, de dentro e fora da empresa, sentem os efeitos dessa grave avaria. A indignação, a revolta, mas também a tristeza ocupam o sentimento nessa rapaziada.
No entanto, quem com dignidade construiu esse patrimônio nacional não se deixará abalar pelos acontecimentos em curso. Saberemos separar o joio do trigo e transformaremos esta situação em desafio a ser superado. A índole coletiva das trabalhadoras e dos trabalhadores da Petrobras continua firme.
Ao mesmo tempo, exigimos a mais rigorosa apuração e condenação dos culpados, “não deixando pedra sobre pedra”, como anunciou a presidenta Dilma Rousseff.
Também reafirmamos que a atual política de contratação de serviços e a desregulada terceirização, além de ameaçarem a vida dos trabalhadores, criam fragilidades perante a prática corrupta e corruptora. Por isso, reivindicamos à presidenta reeleita que instale uma mesa nacional para tratarmos esses grandes temas.
As petroleiras e os petroleiros não farão coro com aqueles que historicamente sempre foram os inimigos da Petrobras. Quem enfrentou o neoliberalismo tucano e impediu a privatização do maior patrimônio nacional continua vigilante contra quaisquer inciativas que visem inviabilizá-la, seja em seu protagonismo com o desenvolvimento brasileiro, ou de seu papel no atual marco regulatório.
À luta sempre!
Mãos à obra.
Divanilton Pereira é técnico de petróleo pleno
Membro do Comitê Central do PCdoB
Secretário de Relações Internacionais da CTB e
Diretor da Federação Única dos Petroleiros e do Sindicato dos Petroleiros do Rio Grande do Norte