Nunca foi tão necessário o legado deixado por Fidel

Em meio a tantas dificuldades e desafios que afligem a classe trabalhadora no mundo todo, quis o destino que 2016 fosse marcado também pela partida de Fidel Castro, o último grande líder revolucionário socialista do século passado que ainda convivia entre nós.

Viveu 90 anos lutando contra a opressão do capital e do imperialismo, tornando-se com o seu exemplo uma figura quase que lendária para as gerações de jovens que se inspiraram nos ideais da revolução cubana.

Mais do que nunca, o legado de Fidel se faz imprescindível. Acreditar na justiça e igualdade social não é utopia. É o combustível que nos faz seguir adiante, resistindo aos golpes que tentam ceifar nossos sonhos.

Reafirmar a identidade de classe como trabalhadores em luta permanente contra o opressão do sistema capitalista é levar adiante o exemplo que Fidel Castro e tantos outros revolucionários nos deixaram como inspiração e legado.

“Os homens passam, os povos ficam; os homens passam, as ideias ficam”.

Hasta la vitoria siempre, comandante! 

Federação Única dos Petroleiros

Fidel pelo olhar do escritor uruguaio, Eduardo Galeano

Seus inimigos dizem que foi rei sem coroa e que confundia a unidade com a unanimidade.

E nisso seus inimigos têm razão.

Seus inimigos dizem que, se Napoleão tivesse tido um jornal como o Granma, nenhum francês ficaria sabendo do desastre de Waterloo.
E nisso seus inimigos têm razão.

Seus inimigos dizem que exerceu o poder falando muito e escutando pouco, porque estava mais acostumado aos ecos que às vozes.
E nisso seus inimigos têm razão.

Mas seus inimigos não dizem que não foi para posar para a História que abriu o peito para as balas quando veio a invasão, que enfrentou os furacões de igual pra igual, de furacão a furacão, que sobreviveu a 637 atentados, que sua contagiosa energia foi decisiva para transformar uma colônia em pátria e que não foi nem por feitiço de mandinga nem por milagre de Deus que essa nova pátria conseguiu sobreviver a dez presidentes dos Estados Unidos, que já estavam com o guardanapo no pescoço para almoçá-la de faca e garfo.

E seus inimigos não dizem que Cuba é um raro país que não compete na Copa Mundial do Capacho.

E não dizem que essa revolução, crescida no castigo, é o que pôde ser e não o que quis ser. Nem dizem que em grande medida o muro entre o desejo e a realidade foi se fazendo mais alto e mais largo graças ao bloqueio imperial, que afogou o desenvolvimento da democracia a la cubana, obrigou a militarização da sociedade e outorgou à burocracia – que para cada solução tem um problema –, os argumentos que necessitava para se justificar e perpetuar.

E não dizem que apesar de todos os pesares, apesar das agressões de fora e das arbitrariedades de dentro, essa ilha sofrida mas obstinadamente alegre gerou a sociedade latino-americana menos injusta.

E seus inimigos não dizem que essa façanha foi obra do sacrifício de seu povo, mas também foi obra da pertinaz vontade e do antiquado sentido de honra desse cavalheiro que sempre se bateu pelos perdedores, como um certo Dom Quixote, seu famoso colega dos campos de batalha.

(Do livro “Espelhos, uma história quase universal”)