Sindipetro-NF
O Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) vem a público para reafirmar que a Petrobras tem uma infraestrutura aérea sobrecarregada, que não consegue acompanhar a demanda por voos na Bacia de Campos, e que essa situação é um dos principais motivos para os inúmeros problemas com aeronaves, que culminaram com 83 ocorrências graves ou acidentes desde 2003, provocando as mortes de 20 trabalhadores neste período. Este dado é suficientemente grave e a Petrobras não deveria insistir em comunicados burocráticos e publicitários, com tons ufanistas, com afirmações como a que daria conta de que a empresa “ostenta o menor índice de acidentes por hora voada no Brasil, e um dos menores do mundo dentre as operadoras de petróleo”.
O Sindipetro-NF desafia a companhia a apresentar estes dados das demais empresas de petróleo. Além disso, questiona: que bons resultados são estes, com 20 mortes desde 2003? Os cadáveres, ao menos, a empresa não tem como esconder.
A verdade é que a Petrobras, por vários anos, mantém uma infraestrutura subdimensionada para embarques e desembarques e só saiu da inércia de forma momentânea para reagir aos acidentes com vítimas fatais nos anos de 2003, 2004, 2008 e 2011 (quadro de acidentes com vítimas fatais abaixo).
Após o acidente de 2004, a empresa implantou o programa que supostamente dotaria de excelência o seu transporte aéreo, que não conseguiu evitar o acidente com vítima fatal em 2008. E, depois de novo acidente, com quatro mortes, em 2011, a companhia implantou um Fórum de SMS (Saúde, Meio Ambiente e Segurança), que também não apresenta resultados satisfatórios.
Em nome da transparência com que trata o seu relacionamento com a imprensa e com a sociedade, o sindicato esclarece que eventuais diferenças nos dados apresentados pela entidade, em relação aos sustentados pela Petrobras, se devem ao fato de que a companhia adota uma política sistemática de amenizar ocorrências graves, ora tratando-as como pequenas falhas, ora não as contabilizando. Este comportamento faz com que a empresa desconsidere todo o potencial letal das ocorrências e os danos, inclusive psicológicos, causados aos trabalhadores.
O exemplo mais recente é justamente o do acidente com o helicóptero cargueiro da Líder, na quarta-feira da semana passada (27/03), que o sindicato chamou de “queda”, enquanto a companhia preferiu o termo “pouso controlado”. O Sindipetro-NF mantém o seu entendimento de que se esta ocorrência fosse um “pouso controlado”, o co-piloto não teria ferimentos na perna, fato omitido pela Petrobras em suas notas. Além disso, se havia controle dos pilotos sobre o “pouso”, estes teriam preferido realizá-lo na plataforma que estava próxima, a P-07, e não no mar.
A Petrobras também omitiu que um dos tripulantes resgatados estava com princípio de hipotermia, e que as vidas destes trabalhadores só puderam ser salvas em razão do resgate feito pelo bote de resgate da P-07 — que passou a ficar de prontidão apenas após atuação do Sindipetro-NF e da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE).
Na nota de “esclarecimento” postada nesta semana no blog Fatos e Dados, enviada ao programa Bom Dia Brasil, da TV Globo, a Petrobras omitiu informações ao público, referindo-se somente aos dois acidentes com mortes dos últimos cinco anos, deixando de informar ao veículo de comunicação diversos acidentes graves ocorridos nesse período.
Foram ignoradas pela empresa várias situações registradas como acidentes ou ocorrências graves pelo sindicato. Exemplos: em 07 de abril de 2008, uma aeronave SuperPuma da BHS despencou violentamente após levantar voo de uma altura de dois metros no helideck do Navio Plataforma P-31; em 15 de maio de 2008, um defeito no trem de pouso forçou um mecânico a corrigir o problema com a aeronave voando sobre sua cabeça no aeroporto de Macaé; em 29 de dezembro de 2008, um incêndio foi identificado em um helicóptero logo após a decolagem do aeroporto de Macaé, o que quase terminou em tragédia para os sete passageiros e dois tripulantes a bordo.
Nos anos seguintes, o levantamento do sindicato mostra outros acidentes omitidos pela empresa. E mais recentemente, em 21 de outubro de 2011, uma aeronave desceu de modo brusco, girando, em SS-37, quando se dirigia para P-33, aparentemente para evitar entrar em parafuso, e só não caiu no mar porque a rede de cordas do heliponto impediu; em 01 de dezembro de 2011, em P-40, uma aeronave decolou com chamas em uma das turbinas e, em outro exemplo recente, em 06 de junho de 2012, uma aeronave nova da OMNI, que estava sendo preparada para iniciar a operação, tombou na pista logo após pousar no aeroporto de Macaé.
O motivo de a Petrobras não apresentar estes dados em seu “esclarecimento” é óbvio. As informações omitidas conflitam com o final da nota da empresa, que diz: “Entre as ações preventivas adotadas pela companhia, nos últimos anos, podemos destacar, também: o treinamento permanente das equipes, auditorias e inspeções regulares, estrito atendimento a todas as normas nacionais e internacionais, adoção de práticas reconhecidas internacionalmente pelas melhores operadoras do mundo, com acompanhamento rigoroso de indicadores de segurança de processos. Esse elenco de providências, em constante aperfeiçoamento, demonstra claramente a importância conferida pela Petrobras às questões de segurança e à busca da excelência operacional em seus serviços de transporte aéreo.”
O sindicato tem todo o interesse de que a excelência passe a ser uma realidade no transporte aéreo da Bacia de Campos, e é por isso que destaca e denuncia os problemas que chegam ao seu conhecimento, lembrando que isso é uma parte do total de ocorrências, pois nem todos os casos são informados pelos trabalhadores.
É dessa forma, e não omitindo fatos e dados, que chegaremos à tão almejada excelência. Tanto no transporte aéreo quando na honestidade das informações para a sociedade.
Registro do Sindipetro-NF de casos de ocorrências ou acidentes com mortes desde 1996 no transporte aéreo na Bacia de Campos:
Macaé, 03 de Abril de 2013
Diretoria Colegiada do Sindipetro-NF