Vermelho
O Reino Unido precisa de um novo regulador de mídia independente para eliminar uma subcultura de comportamento antiético que contaminou segmentos da imprensa do país, disse o juiz Brian Leveson nesta quinta-feira (29), ao fim de um inquérito de um ano de duração relacionado a infrações de um jornal.
Leveson afirmou que o novo órgão regulatório deveria ser estabelecido pela lei para evitar que mais pessoas sejam prejudicadas por um “comportamento da imprensa que, às vezes, pode apenas ser descrito como ultrajante”. Segundo ele, “o que é necessário é um sistema genuinamente independente e efetivo de autorregulação”.
O juiz divulgou um relatório de duas mil páginas ao final de uma investigação de ética na mídia desatada por revelações de escutas telefônicas usadas por um tabloide e ampliada para envolver figuras graduadas na política, na polícia e no império midiático News Corp., de Rupert Murdoch.
Suas propostas provavelmente serão bem recebidas pelas vítimas da intrusão da imprensa e por alguns políticos, que querem ver a insubmissa imprensa britânica controlada. Mas alguns editores e legisladores temem que qualquer novo órgão poderia prejudicar a liberdade de imprensa.
Leveson insistiu em seu relatório que os políticos e o governo não deveriam desempenhar nenhum papel na regulamentação da imprensa, algo que deveria ser feito por um novo órgão com poderes mais fortes do que a atual Comissão de Reclamações da Imprensa. Mas o juiz disse ser “essencial haver uma legislação para dar base ao sistema independente autorregulatório”.
Segundo ele, a nova instituição deveria ser composta por membros do público, incluindo ex-jornalistas e acadêmicos — mas sem editores e políticos em atuação. O organismo deveria ter o poder de ordenar correções nos jornais e emitir multas de até um milhão de libras (US$ 1,6 milhão).
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, estabeleceu o inquérito Leveson depois de revelações de grampos ilegais do agora extinto tabloide News of the World, de Murdoch, causaram a abertura de uma investigação criminal e uma onda de condenação pública.
O furor começou em 2011, quando se revelou que o News of the World grampeou as mensagens de voz do celular da estudante Milly Dowler , enquanto a polícia ainda procurava a adolescente de 13 anos pensando que ela ainda estava viva.
Murdoch fechou o jornal de 168 anos em julho de 2011. O braço britânico de sua companhia de jornais, a News International, pagou milhões em indenizações para dezenas de vítimas das escutas e enfrenta processos de outras dezenas, incluindo celebridades, políticos, atletas e parentes de vítimas de crimes cujas mensagens de voz foram invadidas na busca do jornal por furos.
Leveson ouviu provas de centenas de jornalistas, políticos, advogados e vítimas dos grampos durante meses de audiências que forneceram uma janela dramáticas e às vezes cômica sobre os trabalhos da mídia. Entre as testemunhas estiveram a autora de Harry Potter, J.K. Rowling, e o ator Hugh Grant — que reclamaram de terem suas vidas invadidas — e os pais de Dowler, que disseram que saber que a caixa de mensagens de sua filha tinha sido acessada lhes deu a falsa esperança de que ela estivesse viva.
O escândalo mexeu com a imprensa, a política e a polícia britânicas, que tiveram revelado um relacionamento frequentemente confortável em que bebidas, jantares e às vezes dinheiro eram trocados por influência e informação. Segundo Levenson, durante as últimas três décadas, os partidos políticos “tiveram ou desenvolveram um relacionamento muito próximo com a imprensa que não é de interesse público”.
O Parlamento terá de aprovar as mudanças legais que o relatório recomenda, e Cameron está sob forte pressão de ambos os lados. Ele também está manchado por seus próprios vínculos com figuras importantes no escândalo.