É uma brutal violência à saúde da mulher e muitas vão morrer por falta de acesso à saúde pública, diz a presidente da Comissão Intersetorial Saúde da Mulher do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Helena Piragibe
[Por André Accarini, da redação da CUT]
No mês em que a toda a sociedade se une em torno da Campanha Outubro Rosa, uma ação de conscientização sobre a prevenção e o tratamento do câncer de mama, o governo de Jair Bolsonaro (PL) anuncia cortes de recursos para 2023 em áreas essenciais como a saúde que impactarão de forma severa os programas relacionados ao câncer, a segunda doença que mais mata no País.
Entre os vários cortes feitos para ‘garantir’ os R$ 19,4 bilhões do Orçamento Secreto para deputados e senadores gastarem como quiserem, sem controle nem transparência, estão os recursos destinados a tratamentos e combate ao câncer, que cairão de R$ 175 milhões para R$ 97 milhões – um corte de 45%. Além de prejudicar a distribuição de medicamentos para o tratamento da doença, o corte afetará a manutenção e reforma de equipamentos, ambulatórios e centros de referência de alta complexidade em oncologia.
Até laboratórios, essenciais para o diagnóstico, e serviços de referência em tratamento do câncer de mama e do colo de útero sofrerão com os cortes.
Entre as mulheres, o câncer de mama é o que tem mais incidência no Brasil, com 30% dos casos. E, sem os recursos para o funcionamento do sistema público, afirma a presidente da Comissão Intersetorial Saúde da Mulher do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Helena Piragibe, haverá dificuldades em se obter o diagnóstico e muitas mulheres vão morrer.
Esse corte de recursos representa uma brutal violência à saúde da mulher. E significa que muitas vão morrer por falta de acesso à saúde pública
“É um presente que ele está dando pelo ódio que tem pelas mulheres, pelo machismo, pela sua misoginia. Ele [Bolsonaro], tem ranços históricos. Não gosta negros, de LBGT´s, de mulheres e isso temos que ter muito claro em nossa consciência”, ela diz.
Mais uma vez serão as mulheres as mais atacadas pela política da morte de Jair Bolsonaro, “uma política de desprezo à vida, em especial das mulheres mais pobres”, acrescenta a secretária de Saúde do Trabalhador da CUT, Madalena Margarida Silva.
São essas mulheres as que mais precisam desses recursos que mantêm o fornecimento dos medicamentos e materiais para o uso no tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS). “Os cortes nas políticas de saúde da mulher e de combate ao câncer dificultarão ainda mais a oferta e acesso ao serviço em todas as regiões do país, sobretudo nas regiões mais distantes dos grandes centros, já que a grande parte dos mamógrafos, por exemplo, se encontra nas capitais e polos regionais”, complementa a dirigente, que ressalta: “O direito à vida é prioridade e deve ser garantido através de políticas públicas de saúde”.
A finalidade do Outubro Rosa é justamente levar informação e conscientizar todas as mulheres para que o diagnóstico seja precoce, ou seja, para que tão logo se percebam os primeiros sinais, a mulher procure o tratamento. É nessa fase que ela pode ser curada, evitando a evolução do câncer de mama que pode levar à morte.
De acordo com a presidente do CNS, há uma demanda reprimida em atendimentos a casos de câncer de mama, ocasionada pela pandemia da Covid-19 (veja ao final desta matéria), o que pode, nos próximos anos, causar a mortalidade de muitas mulheres. E ao invés de mais investimentos, que é mínimo que o governo deveria fazer para salvar vidas, corta recursos da área.
É uma tragédia humanitária, um genocídio
Outubro Rosa
A prevenção ao câncer de mama, tipo de câncer diagnosticado em mais de 66 mil mulheres no Brasil somente em 2022 é meta da campanha Outubro Rosa, que acontece no Brasil desde 2002, quando um grupo de mulheres ativistas pela causa, iluminaram o Obelisco do Ibirapuera, em São Paulo, para chamar a atenção da sociedade para o tema.
O movimento surgiu em 1997, nos Estados Unidos, quando vários estados se uniram para realizar ações relacionadas à doença.
No Brasil, a data é celebrada todos os anos, com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre a doença, além de proporcionar maior acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento e contribuir para a redução da mortalidade. O Instituto Nacional do Câncer (INCA), órgão subordinado ao Ministério da Saúde, participa do movimento promovendo eventos técnicos, debates e apresentações.
Com os cortes, fica comprometido todo esse trabalho de prevenção, que de 2003 a 2015, nos governos do PT recebeu mais de R$ 4,5 bilhões em investimento para prevenção do câncer de colo de útero e mama.
O que é o câncer de mama?
Trata-se de uma doença causada pela multiplicação anormal das células da mama, que forma um tumor maligno. Se descoberto no início, tem cura. Ataca o tecido mamário e é um dos tipos mais comuns, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Caso esse tipo de câncer seja diagnosticado precocemente, as chances de cura aumentam em 95%, de acordo com o Instituto Oncologia.
O diagnóstico da doença é realizado por meio de exames específicos, como o de imagem ( o ultrassom e mamografia ) e a biópsia. No entanto, é importante que as mulheres observem suas mamas sempre que se sentirem confortáveis para tal. Pode ser no banho, durante a troca de roupa ou em outro momento da rotina.
Para fazer o chamado autoexame, a mulher precisa colocar uma das mãos atrás da cabeça. Usar os dedos da outra mão para tocar a mama. Também precisa fazer movimentos circulares iniciando no mamilo e estendendo-se até a axila. É importante destacar que o autoexame não substitui a visita ao médico e o exame clinico.
O período ideal para realizar esse ‘autoconhecimento’ é de sete dias após a menstruação (para as mulheres que mestruam) ou escolher sempre o mesmo dia do mês (para as que não menstruam). O autoexame das mamas não é um procedimento preventivo. É apenas um autoconhecimento do corpo e que poderá evidenciar alguma alteração palpável.
Quando um nódulo é descoberto pelo toque, geralmente já está avançado (acima de 2 a 3 cm) e quanto mais avançado menores são as chances de cura.
É importante lembrar que os exames de imagem mamária (mamografia e ultrassonografia) são indicados para identificar os nódulos não palpáveis, diagnosticados precocemente sem que a paciente apresente sintomas.
Causas podem ser:
- Obesidade e sobrepeso após a menopausa
- Sedentarismo
- Alcoolismo
- Exposição frequente a radiação (raio X, mamografia e tomografia)
- Primeira menstruarão antes dos 12 anos
- Não ter tido filhos
- Menopausa após os 55 anos
- Uso de contraceptivos por tempo prolongado
- Reposição hormonal pós-menopausa, em especial por mais de cinco anos
- Histórico familiar de casos7
Sintomas e sinais principais que devem ser investigados:
- Pele da mama avermelhada
- Pequenos módulos, como caroços, além de inchaço e dor constante no seio ou axila
- Mamilo puxado ou com mudança de posição ou forma
- Secreção no mamilo
- Vermelhidão ou erupção no mamilo ou em seu entorno
Detecção
O diagnóstico é feito por meio de exame clínico da mama, realizado por médicos ou profissionais de enfermagem, em que se observa e apalpa as mamas na busca dos nódulos.
Mulheres entre 50 e 69 anos devem fazer o exame a fim de prevenir o câncer de mama.
No serviço público de saúde, as mulheres devem ir às Unidades Básicas de Saúde para encaminhamento ao médico especialista.
Em todo o país, foram realizados em 2019, cerca 3,5 milhões de mamografias. Durante a pandemia, o número caiu para 2 milhões em 2020. Já em 2021, as mulheres voltaram a buscar os exames e o SUS realizou 2,937 milhões.