No mês de prevenção ao suicídio, petroleiros realizam ato na RLAM, nesta quarta

O mês de setembro é dedicado à prevenção ao suicídio, um tema que ainda carrega muitos tabus, mas que, segundo os especialistas em saúde mental, deve ser discutido, pois conversar sobre ele nos círculos familiares, de amigos e laboral é uma forma de evitar que o suicídio aconteça, dando oportunidade para que as pessoas falem de suas angústias e seus medos e que possam contar com ajuda profissional em casos mais graves, inclusive no ambiente de trabalho, que tem se transformado em um importante fator desencadeador de doenças mentais.

No ano de 2020, de acordo com a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, 576,6  mil pessoas foram afastadas do trabalho, através da concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, proveniente de transtornos mentais e comportamentais.

São vários os fatores que podem afetar a saúde mental no ambiente laboral, entre eles a sobrecarga de trabalho, a pressão, o assédio moral, medo do desemprego e falta de reconhecimento do trabalho do empregado, por parte da chefia.

Há um ano, os trabalhadores da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, passaram por um grande trauma. Em 22/09/2020, eles perderam um colega de trabalho, muito querido por todos. Neste dia, ENBB (iniciais do nome do trabalhador) cometeu suicídio em uma das unidades da RLAM.

A partida trágica de ENBB deixou sua família arrasada. A esposa ficou sozinha com dois filhos pequenos. Hoje, ela revela o desejo de contribuir para que não aconteçam mais casos como o de seu marido “e famílias não passem pelo que estou passando”.

Os colegas e amigos do trabalho também ficaram muito abalados com a perda, restando a eles apenas a lembrança de um companheiro atencioso, que costumava levar um pão quentinho para a sua equipe, todas as manhãs.

Investigação de caso na RLAM

As prováveis razões do suicídio do trabalhador foram apontadas pelo Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador (Cesat) e pela Auditoria Fiscal do Trabalho, após minuciosa investigação da causa da morte do empregado feita nas dependências da refinaria.

Os técnicos e os auditores fiscais do trabalho analisaram as áreas das diversas unidades da refinaria, as atas da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), os documentos que foram solicitados à Petrobrás e ainda coletaram informações com os colegas de trabalho do empregado, que exercia a função de Coordenador Técnico Operacional (CTO). Também conversaram com a esposa e com os chefes do falecido, que trabalhava na estatal há 12 anos. Os dois órgãos ainda se pautaram na análise da literatura correlata e da legislação vigente.

Durante a investigação, foi detectado que “um cenário mais amplo de tensões sociais se desencadeava entre os trabalhadores, desde o anúncio da venda da empresa. Houve também “relatos detalhados dos problemas enfrentados na Unidade 13 nos dias que antecederam o óbito e que tinham como contexto uma situação de elevada sobrecarga de trabalho imposta ao CTO, devido à redução do quantitativo gerencial em sua unidade industrial”.

Ao finalizar as investigações, a conclusão dos técnicos do Cesat e dos auditores fiscais do trabalho foi que “as mudanças no contexto laboral da RLAM /Petrobras tiveram contribuição decisiva para o sofrimento psíquico do trabalhador, seguido de ideação suicida com desfecho fatal”.

Os relatórios deixam claro que “o suicídio decorreu de uma doença mental desencadeada ou agravada em função das condições em que o trabalho era realizado. A inexistência de ações que pudessem mitigar eventos relacionados ao sofrimento mental, no período, concorreu para o não afastamento do trabalhador da atividade laboral”, que permaneceu em atividade “ainda que com sinais evidentes de um quadro de transtorno mental em curso”.

Os órgãos aplicaram seis autos de infração à Petrobrás e sugeriram várias medidas de melhorias da organização, das condições de saúde e da segurança no trabalho.

Apesar disso, um ano após o suicídio de ENBB, a gerência da refinaria ainda não fez o suficiente para acolher e identificar os trabalhadores em sofrimento psíquico, e encaminhá-los para atendimento médico adequado. Depois de todo este tempo, a refinaria conta apenas com um psicólogo transferido e uma assistente social admitida.  Na época, a gerência da RLAM contratou uma empresa para realizar um workshop, abordando o tema da convivência após o suicídio e se comprometendo a comunicar o resultado do trabalho, mas até hoje este resultado não foi divulgado.

O Sindipetro quer saber como está a saúde mental dos trabalhadores da RLAM após esta tragédia e  também se a Petrobrás vem prestando apoio aos familiares da vitima.

Lembrança e cuidado

Em honra à memória de ENBB e como prevenção ao suicídio, o Sindipetro Bahia realiza o ato na quarta-feira (22), às 7h, em frente à RLAM. Não haverá manifestação, nem carro de som, apenas o silêncio, para que todos possam refletir sobre a necessidade de cuidar um do outro, de exigir da empresa a atenção imprescindível nestes casos e de procurar ajuda, quando necessário.

Uma em cada 100 mortes ocorre por suicídio, revela OMS

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o  suicídio continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo, ultrapassando as mortes por  HIV, malária ou câncer de mama – ou guerras e homicídios. Em 2019, mais de 700 mil pessoas morreram por suicídio: uma em cada 100 mortes, o que levou a OMS a produzir novas orientações para ajudar os países a melhorarem a prevenção do suicídio e atendimento. As informações constam no relatório “Suicide worldwide in 2019”, publicado pela OMS  no dia 17/09/2021.

Para apoiar os países em seus esforços, a OMS lançou uma orientação abrangente para a implementação de sua abordagem “LIVE LIFE” para a prevenção do suicídio. As quatro estratégias desta abordagem são:

  • limitar o acesso aos métodos de suicídio, como pesticidas e armas de fogo altamente perigosos;
  • educar a mídia sobre a cobertura responsável do suicídio;
  • promover habilidades socioemocionais para a vida em adolescentes; e
  • identificação precoce, avaliação, gestão e acompanhamento de qualquer pessoa afetada por pensamentos e comportamentos suicidas.

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 Procure ajuda

Se você conhece alguém que está passando por sofrimento psicológico ou se você estiver passando por isto, a orientação é  a procura imediata de ajuda médica, como a de um psiquiatra que pode orientar e medicar o paciente. Para obter ajuda há também serviços gratuitos como o do CVV,  um serviço voluntário de prevenção do suicídio que presta apoio emocional a todas as pessoas,  atendendo voluntária e gratuitamente todos  que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail e chat 24 horas,  todos os dias. O atendimento é feito por telefone, através do número 188 (sem custos) ou pelo www.cvv.org.br via chat, e-mail ou carta. 

[Da imprensa do Sindipetro Bahia]