No G20, Brasil busca diálogo para enfrentar posição imperialista dos EUA

Enfrentamento e diálogo. A julgar pelas declarações feitas pela presidente eleita Dilma Rousseff e pelo presidente Lula, este deve ser o tom da linha a adotada pelo Brasil…





Vermelho

Enfrentamento e diálogo. A julgar pelas declarações feitas pela presidente eleita Dilma Rousseff e pelo presidente Lula, este deve ser o tom da linha a adotada pelo Brasil na cúpula do G20, que começou nesta quinta-feira (11) em Seul, na Coreia do Sul. “A política do dólar fraco faz com que o ajuste americano fique na conta das outras economias”, criticou Dilma. Lula, por sua vez, declarou que "dialogar é melhor que brigar".

O foco desta quinta reunião das 20 principais economias mundiais, que se encerra na sexta-feira (12), será a guerra cambial que tem sido travada de maneira unilateral pelos Estados Unidos. A posição do imperialismo norte-americano ficou explícita após decisão do Federal Reserve, o banco central do país, de injetar US$ 600 bilhões na economia nos próximos oito meses, mantendo baixas taxas de juros. O aumento da quantidade de dólares no plano internacional resulta na apreciação das moedas nos países de câmbio flutuante, como ocorre no Brasil, e gera desequilíbrio na economia mundial.

A saída adotada pelo BC norte-americano, na opinião de Dilma Rousseff, “gera um protecionismo camuflado”. “Acho que é grave para o mundo inteiro a política do dólar fraco”.

No mesmo sentido, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu que deve haver uma reforma no sistema financeiro mundial para que a economia não se baseie apenas no uso do dólar nas transações comerciais.

Segundo ele, o ideal é definir uma nova ordem no sistema financeiro mundial a partir da multimoeda, ou seja, a adoção de outras referências além do dólar – como o yuan (China) ou o euro (União Europeia) – para balizar as transações internacionais, evitando que as nações fiquem reféns de uma moeda instável.

Mantega também apontou que as economias desenvolvidas devem adotar medidas de estímulo para o mercado interno. A tônica geral da posição brasileira tem sido a condenação às ações isoladas e protecionistas, que penalizam em especial as economias emergentes, com consequências sobre a estrutura produtiva e o balanço de pagamento.

Uma das saídas imediatas adotadas pelo governo a fim de tentar amenizar os efeitos da guerra cambial em território brasileiro foi o aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para as aplicações em renda fixa no país provenientes do exterior. A medida é frágil; o cerne do problema está na manutenção de uma política de câmbio flutuante, juros altos e total liberdade quanto à entrada e saída de capitais.

Do G7 ao G20

O G20 foi criado em 1999, no rastro da crise asiática e da Rússia, pelos próprios países imperialistas que se reuniam no G7. O objetivo era “educar os países emergentes” nas boas normas financeiras. “O novo grupo foi criado dentro do mesmo arcabouço institucional da ordem financeira de Bretton Woods. Seus documentos iniciais faziam profissão de fé nos dogmas dessa ordem e juravam fidelidade a essas instituições, nomeadamente FMI e Banco Mundial”, lembra o secretário de Comunicação do PCdoB, José Reinaldo Carvalho que, como observador, tem acompanhado a evolução do contexto econômico mundial especialmente após a queda do Muro de Berlim.

A criação do G20, no entanto, não significou uma ruptura dos emergentes com essa ordem, mas precisamente o contrário, representou a tentativa das grandes potências econômico-financeiras do G7 de ganhar os emergentes para sua causa e evitar uma debandada.
A partir da crise financeira de 2007-2008, o G20 passa a desempenhar papel mais ativo; os emergentes conquistam mais espaço, mas o G20 continua reafirmando a legitimidade e o papel das instituições financeiras internacionais do sistema de Bretton Woods. Com esse novo papel, passaram a reunir-se os chefes de Estado e não mais apenas os ministros da fazenda e presidentes de bancos centrais.

“O G-20 pretende jogar papel no gerenciamento da crise e na chamada governança global, pretende exercer um papel no amortecimento das tensões. Mas, as tensões internacionais são objetivas, derivam da profundidade e gravidade da crise do sistema capitalista imperialista, do predomínio do capital monopolista-financeiro sobre todas as relações econômicas, sociais e políticas”, avalia Carvalho.

Quanto à governança global, diz, “é uma ilusão porquanto na prática predomina o unilateralismo das decisões da potência maior, o imperialismo norte-americano. Por outro lado, é positivo que os países emergentes lutem no âmbito do G20 contra esse hegemonismo”.

Como reação a este hegemonismo, milhares de pessoas protestam, em Seul, contra a cúpula do G20. Algumas organizações manifestantes acreditam que as decisões devam ser tomadas por todos os países que compõem a Organização das Nações Unidas (ONU) – inclusive pequenos e médios – e não apenas por um grupo restrito de 20 nações. "Nós nos opomos ao G20, que traz mais dor aos trabalhadores e ao povo pobre", disse o ativista Lee Tae-ho. "G20, pare de fazer o povo pagar pela crise", diziam os manifestantes em um de seus gritos de ordem.