Durante a visita do presidente Lula ao Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, representantes…
MST
Durante a visita do presidente Lula ao Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, representantes da Via Campesina Brasil que vivem há cerca de um ano no Haiti irão formalizar um pedido de solidariedade internacional para ajuda em caráter emergencial à população do Haiti, após o recente terremoto que devastou o país. A carta solicita do governo brasileiro articulação institucional e infra-estrutura para a realização de ações nas linhas de acesso à água, assistência agrícola e recursos humanos especializados.
Em entrevista coletiva, os integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), Sidevaldo Miranda e Carlos Roberto, respectivamente, conversaram sobre as iniciativas. Segundo eles, a produção de alimentos pelo próprio povo do país caribenho deve garantir a soberania e sobrevivência neste momento de calamidade. Para isso, os movimentos articulados na Via Campesina propõem em regime emergencial a doação de sementes prioritárias (milho, feijão, sorgo etc.) para a auto-sustentação da população, além do intercâmbio de 120 jovens haitianos em assentamentos no Brasil, para se formarem em cursos técnicos de agroecologia e retornarem o conhecimento ao seu povo.
Para o acesso à água, na situação de contaminação generalizada, está proposta a construção de açudes alternativos nas montanhas em áreas rurais, já que há um grande movimento de êxodo urbano após os tremores. Ainda propõem a construção de poços artesianos e a doação de 50.000 cisternas pelo Governo do Brasil (mil unidades já foram doadas pelo Governo da Bahia).
Por fim, a Via Campesina Brasil sugere o envio de um exército de ajuda humanitária, entre médicos, técnicos agrícolas e agrônomos, pedreiros, carpinteiros e outros profissionais para auxílio imediato, ações mais baratas que os R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) pagos pelo Brasil para manter por ano cada um dos 1.200 soldados. Quarenta camponeses da Via já irão no próximo dia 25/2. Ao contrário da truculência dos exércitos presentes na missão Minustah da Organização das Nações Unidas (ONU), o exército humanitário – que precisará da intervenção do Itamaraty para pousar aeroporto ocupado por mais de 12.000 soldados americanos – deve conduzir a solidariedade dos brasileiros ao país.Tudo será articulado com os movimentos campesinos do Haiti.
Também presente na coletiva cedida à imprensa durante o Fórum Social Mundial, o Secretário Geral da CUT, Quintino Severo, anunciou as linhas de ação da central para solidariedade ao povo do Haiti, já em andamento. Desde 19/1, a conta “SOS Haiti” está aberta para arrecadação de doações dos sindicatos da base filiada. Além da contribuição financeira, duas brigadas farão o serviço humanitário de emergência, com agentes de saúde, carpinteiros e pedreiros.
As organizações lá presentes há um ano já propunham, desde antes do terremoto, a construção de uma Escola Técnica Agrícola e um Centro Nacional de Produção de Sementes, bem como o reflorestamento no país como estratégia de sustentabilidade climática e potencial econômico-extrativista. O Haiti é um país com 27.650 km² e, segundo estudos da Via Campesina, uma população de nove milhões de habitantes, dos quais 60% estão no campo.