Comemorado em 25 de julho, o Dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural merece um destaque ainda maior em 2014, Ano Internacional da Agricultura Familiar Camponesa e Indígena, instituído pela Organização das Nações Unidas como uma forma de destacar a importância do setor e fortalecer a luta por mais direitos.
Os agricultores familiares são responsáveis por 70% da produção de alimentos consumidos no Brasil, sendo fundamentais para a segurança alimentar. Os grandes latifúndios concentram monocultura – com destaque para soja, eucalipto e cana, utilizados para produzir combustível, papel e ração –, e se baseiam na precarização do trabalho.
Para o CUTista Aristides Veras, Secretário de Finanças e Administração da Contag, é preciso lembrar os grandes avanços conquistados na área, sem esquecer dos desafios à frente. “Nos anos 90 nem entrávamos no banco. Crédito era para os grandes empresários. Muitos nos chamavam de pequenos agricultores, como se fôssemos menores em importância. Lutamos para conquistar o nome de ‘agricultores familiares’, como forma de desconstruir essa visão. E, hoje, temos o PRONAF, temos a previdência social, e mesmo programas de redistribuição de renda, como Bolsa-Família, são extremamente benéficos para os rurais”.
Aprofundar as conquistas
Mesmo com o aumento das políticas públicas em relação ao passado, há diversas demandas do movimento agrário. Entre elas, a bandeira histórica da Reforma Agrária e políticas públicas para impedir o êxodo da juventude rural para áreas urbanas.
“O êxodo rural foi bem pior em outros períodos”, afirma Aristides. “Mas, ainda assim, hoje os programas para a juventude do campo são tímidos”. Segundo o dirigente, parte da culpa pelo êxodo é o modelo de Educação, que valoriza pouco a Agricultura e afirma que a cidade é boa, enquanto o campo, nem tanto. Para superar essa condição, segundo ele, é preciso quebrar as barreiras do preconceito e investir em infraestrutura no campo.
Marcos Rochinski, coordenador geral da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (FETRAF-BRASIL), concorda que mesmo com todos os avanços dos últimos anos, ainda há muito a ser feito, com destaque para a infraestrutura do campo.
“Precisamos de mais políticas públicas que tornem o meio rural adequado a manter os jovens ali. Apesar da média de renda ser maior no espaço rural, a juventude está deixando o campo. Isso também é culpa da forma de ver o campo pelas prefeituras, que veem o âmbito rural como um local de atraso”, afirma o coordenador.
Meio ambiente
Quando o assunto são os benefícios da agricultura familiar para o meio ambiente, o coordenador geral da Fetraf-Brasil a compara com os grandes latifúndios. ”Os agricultores têm práticas que ajudam a preservar o meio ambiente, até porque preservam a mata, os rios, não usam grande quantidade de agrotóxicos, têm relação próxima com o ambiente em que vivem. É diferente da grande propriedade, em que os donos vão visitar de avião, não dependem daquilo para sobrevivência, e sim para o lucro”.
Ao ser perguntado sobre os desafios futuros, Rochinski destaca o Plano Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário (PNDRSS), entregue à presidenta Dilma Rousseff em maio. O plano traz um conjunto de políticas, que incluem políticas de lazer, comunicação, acesso à Internet, pontos de cultura, valorização do espaço rural, buscando quebrar a visão preconceituosa do campo como lugar de atraso. E fala, ainda, sobre a Reforma Agrária. “A questão da reforma agrária é central, é estratégica. E não apenas distribuição de terras, mas construção de infraestrutura para os mais diversos perfis de família. Precisamos considerar ribeirinhos, indígenas e pequenos produtores, que, em sua essência, são agricultores familiares”.
Fonte: CUT Nacional