Paula Quental / Do Brasil Debate
Os problemas atualmente enfrentados pela maior empresa brasileira, a Petrobras, são imensos e se refletem em igual proporção na economia do país. Basta citar que o estudo divulgado no último dia 21 pela Secretaria de Política Econômica, segundo informação da Agência Brasil, concluiu que a redução em quase 40% do plano de investimentos da empresa em 2015, de US$ 37,1 bilhões em 2014 para US$ 25 bilhões, será responsável por pelo menos 2 pontos percentuais da contração do Produto Interno Bruto (PIB).
Entre as causas principais estão a queda de quase 50% no preço do barril do petróleo do ano passado para cá e as investigações de corrupção envolvendo funcionários e dirigentes da empresa, empreiteiros e políticos pela Polícia Federal, na célebre Operação Lava Jato.
Para discutir a crise e também o papel da Petrobras como agente de desenvolvimento do Brasil – portanto, como geradora de emprego, tecnologia e crescimento – foi promovido em São Paulo, dia 19, o debate “Petróleo e desenvolvimento”, o terceiro da série Diálogos sobre Conjuntura Econômica, realizada pela Fundação Friedrich Ebert (FES), Plataforma Política Social e o Brasil Debate.
Site Diálogo Petroleiro
Segundo Pedro Rossi, professor de economia da Unicamp e coordenador do Brasil Debate, dentro dessa discussão sob a ótica de que a Petrobras é a grande ferramenta de desenvolvimento do país se situa o projeto do site Diálogo Petroleiro, iniciativa do Brasil Debate e do Sindipetro-NF apresentada durante o encontro, definida por ele como “uma construção coletiva de pontes entre a academia, os sindicalistas e a discussão pública” sobre o tema.
Bons fundamentos
Palestrante convidado, o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli, à frente da empresa por sete anos (2005 a 2012), situou a crise em que se encontra a Petrobras: “Do ponto de vista empresarial, do ponto de vista dos fundamentos da empresa, a Petrobras não vive uma crise”, afirmou.
Ele explicou que isso se dá por algumas razões. Uma delas é o volume alto de recursos e reservas – hoje estimados em 15 bilhões de barris de reservas provadas e quase 30 bilhões de barris de reservas potenciais, o que, “com uma produção de 800 e poucos milhões/ ano (barris de óleo equivalente, boe) nos dá 30 anos de produção sem adicionar um só barril a mais”.
Outras razões são a tecnologia disponível, a capacidade de produção e logística que a empresa tem no setor de derivados (principalmente gasolina e diesel), considerando ainda que o mercado brasileiro de derivados um dos que mais crescem no mundo, de acordo com Gabrielli.
O problema da Petrobras, portanto, seria de reputação (Lava Jato) e financeiro, causado basicamente pela queda na cotação internacional do petróleo, a política de preços adotada pelo governo federal e a alta do dólar. “A empresa tem compromissos de curto prazo, para pagar entre 2015 e 2017. Dos R$ 500 bilhões de sua dívida, no mínimo 20, 25%, algo em torno de R$ 125 bilhões, vencem em curto prazo. É preciso alongar essa dívida, mesmo que saia mais caro”, disse.
Célula-tronco
Diretor do Sindipetro-NF (Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense), Tadeu Porto afirmou que o debate sobre a Petrobras é de grande importância porque a empresa “é uma célula-tronco do Brasil”. “Defender a Petrobras é defender o Brasil”, resumiu, lembrando que a crise política que vivemos é como um “ringue de disputa ideológica” no qual não faltam grupos defensores da privatização total da empresa, hoje uma sociedade de capital aberto em que o governo brasileiro detém a maioria das ações.
A defesa da empresa, porém, de acordo com Tadeu, não significa deixar de lado as questões da sustentabilidade e da precarização do trabalho dos petroleiros – que têm muito a perder com o avanço de propostas que pregam, ao invés da melhoria nas condições dos terceirizados, a piora da situação dos contratados diretamente.
“A Petrobras está numa curva de mudança muito importante, saindo de uma empresa com reservas provadas de 15 bilhões para ser uma empresa com provavelmente reservas provadas de mais de 100 bilhões. E não queremos que a nova cara da Petrobras seja a de uma empresa que busca o lucro a qualquer custo”, afirmou.
Os anéis, não os dedos
Trazendo o ponto de vista acadêmico, Giorgio Romano, professor da UFABC (Universidade Federal do ABC) fez uma apresentação mostrando o cenário do setor de petróleo e gás no mundo, de maneira a inserir a discussão dentro de uma perspectiva de geopolítica. Ele chamou a atenção para a importância mundial da descoberta das reservas do Pré-sal e o fato de ser acompanhada por um profundo desconhecimento da população brasileira sobre o tema.
Para ele, como forma de enfrentar sua crise financeira, a Petrobras até pode prosseguir nos planos anunciados de se desfazer de ativos, dentro da ideia de “dar os anéis para não perder os dedos”, desde que “não se perca o filé mignon, que é ter o controle e a exploração do Pré-sal”.
Romano disse ser imprescindível que o país decida em um planejamento de longo prazo o que se quer da Petrobras e do setor de petróleo e gás, partindo do princípio de que não se trata apenas de uma empresa, mas de um vetor de desenvolvimento que envolve interesses de todo o povo brasileiro.
Também estiveram presentes ao encontro Clemente Ganz Lúcio, André Cardoso e Fernando Souto (Dieese), Ana Luíza Matos de Oliveira (Fundação Perseu Abramo e Brasil Debate), Marco Antonio Rocha (Unicamp), Júlio Sergio Gomes de Almeida (Unicamp, ex-diretor do IEDI e ex-auxiliar de Guido Mantega no Ministério da Fazenda), Gilberto Cervinsky (Movimento dos Atingidos por Barragens, MAB), José Augusto Gaspar Ruas (Facamp), Edson Carlos Rocha da Silva (CNM/CUT), Gustavo Codas (UFABC), Joaquim Palhares (Carta Maior), Leonardo de Jesus Jr (UFBA), Mayra Juruá (CGEE) e Gonzalo Berrón (FES).