Nem arrocho, nem golpe. Os trabalhadores não pagarão pela crise

Na edição de 13 de setembro, a Folha de São Paulo publicou editorial de capa que anuncia já no título – “Última chance” – a ameaça golpista. O jornal dá um ultimato à presidente Dilma: ou corta custos, investimentos e direitos sociais, ou abandona o cargo que ocupa! No dia seguinte, o governo anunciou mais um pacote de medidas recessivas, com cortes de R$ 26 bilhões para o orçamento de 2016, que retiram direitos e conquistas dos servidores públicos e afetam programas sociais, como o “Minha Casa, Minha Vida” e investimentos nas áreas da saúde e da agricultura familiar. 

Como já era de se esperar, a mídia e o mercado não se contentaram com os cortes anunciados. Exigem que o governo reduza ainda mais os “gastos” sociais, mas não aceitam uma reforma tributária justa, que taxe as grandes fortunas, o capital financeiro e os lucros empresariais, como já é previsto na Constituição.

A presidente Dilma não pode aceitar a chantagem dos golpistas e continuar refém de uma pauta que foi derrotada nas urnas. Para defender os princípios democráticos, o movimento deve ser justamente o contrário: mudar a política econômica e cumprir o programa eleito por 54 milhões de brasileiros. 

“Ao invés de privilegiar o ajuste fiscal recessivo, que não deu certo em lugar nenhum do mundo, o governo deveria discutir alternativas para a retomada do crescimento do país, com geração de empregos e distribuição de renda”, ressalta o presidente da CUT, Vagner Freitas. No ato unificado do dia 15, que reuniu na Avenida Paulista cerca de 10 mil trabalhadores de categorias em luta, inclusive os petroleiros, o recado foi claro: os trabalhadores não aceitarão a conta da crise, nem o golpismo. “O mandato da presidenta Dilma é legítimo, democrático e tem que acabar em 2018 para que o Brasil não tenha soluções ainda piores que esse pacote”, alertou Vagner.

Mídia chantageia, como fez em 64

O editorial da Folha de São Paulo, dando um ultimato a Dilma, não é muito diferente das ameaças feitas pela mídia a João Goulart, em 1964, às vésperas do golpe militar que mergulhou o país em duas longas décadas de ditadura, que o jornal tratou como “ditabranda”. Sob o comando da direita, os meios de comunicação também protagonizaram em 1954 uma campanha cerrada para derrubar Getúlio Vargas, o que resultou no suicídio do presidente. O golpismo, portanto, está no DNA da mídia brasileira.