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Aos 95 anos de idade, Nelson Mandela deixou para a humanidade um dos maiores legados de luta em defesa da liberdade e por uma sociedade sem segregações. Em meio às homenagens que o mundo inteiro tem feito ao líder sul-africano, a mídia repercute e enaltece apenas o perfil pacifista e conciliador de Mandela, omitindo fatos fundamentais de sua trajetória como revolucionário socialista.
Sua luta política foi muito além do combate ao apartheid, o regime de segregação racial que por 45 anos negou os mais elementares direitos humanos ao povo negro da África do Sul. Ele lutou por uma nação livre e igualitária. Mas, com a anuência dos Estados Unidos da América, da Inglaterra, de Israel e de outros governos imperialistas, Mandela foi condenado à prisão perpétua, acusado de terrorismo e de “atuar para promover os objetivos do comunismo”. Viveu 27 anos confinado em uma cela de pouco mais de quatro metros quadrados, de onde só foi libertado em 11 de fevereiro de 1990, aos 72 anos de idade.
Mais do que um pacifista e um conciliador, o líder sul-africano foi um lutador revolucionário, que iniciou sua militância na faculdade de direito da única universidade do país que ministrava cursos para negros. Em 1943, Mandela aderiu ao Congresso Nacional Africano (CNA), partido socialista anticolonial e antirracista, onde foi um dos fundadores da Liga da Juventude e tornou-se o principal líder nos anos 50. Acusado de comunista, ele foi preso em 1952, em 1956 e em 1962, passando a atuar na clandestinidade, até ser detido definitivamente em 1963, com ajuda da CIA. Os Estados Unidos foi um dos grandes aliados do regime de apartheid. Até bem pouco tempo, Mandela ainda figurava na lista de terroristas do governo norte-americano, que só em 2008 retirou essa alcunha do líder hoje cultuado como “pacifista”.
Sua biografia, portanto, não pode ser resumida ao fato de ter sido o primeiro presidente negro da África do Sul e de ter recebido o Prêmio Nobel da Paz. Ele defendeu intransigentemente os princípios da revolução cubana, país que desde o início apoiou ativamente a luta dos sul-africanos contra a dominação branca. Mandela também fez críticas contundentes à invasão do Iraque pelos Estados Unidos, às sanções impostas contra a Líbia de Muammar Khadafi e em defesa de um Estado palestino soberano.
O historiador marxista britânico, Perry Anderson, considera Nelson Mandela e Lula como os maiores líderes populares do mundo contemporâneo, por terem se dedicado a causas intrinsecamente relacionadas ao fim da exploração e da opressão impostas pelo capitalismo. Na autobiografia que escreveu na prisão, Mandela dedica o último parágrafo a uma reflexão sobre a importância da luta diária e incansável na construção de uma sociedade justa: “Eu caminhei essa longa estrada para a liberdade. Mas eu descobri que depois de escalar uma grande montanha, há outras montanhas a serem vencidas. Eu descansei por um instante para apreciar a incrível vista que me cercava. Olhei para trás e vi a distância que percorri. Mas só posso descansar por um momento. Porque com a liberdade vêm outras responsabilidades. E sequer me atrevo a demorar a continuar. A minha caminhada ainda não terminou”.