Negócio da China

Foto: Agência RBS

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Depois de anunciar que o casco da plataforma P-71 não continuará sendo construído na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, mas na China, a Petrobrás anunciou a venda do que já tinha sido construído até o momento no estaleiro da Ecovix como sucata para a Gerdau. São mais de 35 mil toneladas de blocos que estão espalhados no dique seco e nas áreas adjacentes do estaleiro, acabando com os empregos no polo naval de Rio Grande e no estaleiro que criou. Segundo nota da estatal, “por questões de ordem técnica e econômica, a alternativa de aproveitar os blocos já fabricados não é a que melhor atende aos interesses da Petrobrás e de seus parceiros”.

De acordo com o portal Petronotícias e o estudo realizado pela Ecovix, a venda estimada do material sucateado distribuído na proporção de 80% para a Petrobrás e 20% para a Ecovix, resultará em R$ 12 milhões para a Petrobrás e R$ 3,2 milhões para Ecovix. O que representa uma perda líquida para a Petrobrás de quase R$ 125 milhões, sem qualquer aproveitamento econômico ou lógico.

Acontece que metade do casco da P-71 já foi concluído no Estado, porém a atual gestão da Petrobrás, que é fechada com o mercado internacional e principalmente com os chineses, resolveu encomendar uma obra na Ásia, pelo estaleiro CIMC Raffles. As obras foram interrompidas em dezembro de 2016, logo após a posse do atual presidente da empresa, Parente Entreguista. De acordo com ele, “não foram identificados no Brasil estaleiros com capacidade de atender à demanda de construir um novo casco deste porte”. O casco, que tem previsão de entrega no final de 2019, será encaminhado para o Espírito Santo, onde será feita a integração dos módulos da planta de processo prevista para ser realizada no estaleiro Jurong.

Para o coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros, José Maria Rangel, é lamentável o que está sendo feita com a população brasileira, que está perdendo seus empregos. Para ele é claro o golpe que está sendo dado dia após dia no país: “o Brasil está saindo de uma política de conteúdo local, para conteúdo internacional. Esta é uma ação orquestrada para desmontar a nossa indústria naval. Assim como a P-71, vão no rastro a P-69, P-75 e P-77. Não se vê ações que impeçam esse desmonte, por parte dos deputados e governantes que apoiaram o golpe”.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande e São José do Norte e as frentes parlamentares em defesa do polo naval tentam evitar que a estrutura de casco já feita no estaleiro gaúcho da Ecovix seja vendida como sucata. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande e São José do Norte, Benito Gonçalves, que também é vereador em Rio Grande pelo PT, esteve em Brasília esta semana para participar de reuniões no TCU e MPF sobre o assunto.

Cidade devastada

De acordo com o prefeito de Rio Grande, Lindenmeyer (PT), no pico do polo naval, 23 mil trabalhadores estavam empregados diretamente. Hoje esse número está reduzido para cerca de 400. De acordo com ele, foram investidos mais de 6 bilhões de dólares na indústria do Estado, o que inclui empresas de Marau, Nova Hamburgo, Caxias, Charqueadas, Canoas, Passo Fundo, entre outras cidades, que forneciam bens para essa indústria. “Infelizmente, o impacto que está sendo gerado é devastador. Nós saímos de um orçamento, em 2009, de pouco mais de R$ 200 milhões, para que, em 2016, tivéssemos alcançado pouco mais de R$ 700 milhões. Somente em 2017, nós tivemos uma retração entre R$ 50 e R$ 70 milhões a menos para os cofres públicos”.

Para o diretor da FUP e presidente do Sindipetro RS, Fernando Maia, há interesses muito estranhos e preocupantes com essa decisão. Segundo Maia, o sucateamento das estruturas já feitas e entregues a preço vil para a empresa Gerdau, é mais um efeito do golpe de 2016. “A alegação do atual presidente da Petrobrás, que não há estaleiros com capacidade de atender à demanda é uma mentira e vem carregada com uma nuvem de suspeitas, afinal já foram entregues, só de Rio Grande, pelos estaleiros QGI, ERG e EBR, plataformas com qualidade comprovada e que a cada dia estavam com custos menores, conclui.

FUP