Por Deyvid Bacelar, Coordenador Geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP)*
A notícia de que a Petrobras foi excluída da carteira de empresas da B3 que compõem o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) para 2022 não surpreende. A estatal frequentou o ISE somente durante o ano de 2021. Bastou o índice passar por mudanças estruturais e ficar mais rigoroso —seguindo nova metodologia baseada numa pontuação ESG (ambiental, social e governança) das empresas— para a Petrobras ser banida da carteira.
O curto espaço de tempo em que a estatal participou do índice foi suficiente para evidenciar, também para o investidor do mercado de capitais, o equívoco cometido pela atual gestão da Petrobras na área de sustentabilidade. Na contramão da tendência mundial, dos alertas dos especialistas sobre o aquecimento global e dos compromissos da COP 26, a direção da Petrobras vem adotando medidas contrárias ao desenvolvimento sustentável e ao próprio futuro da empresa.
É cada vez mais necessário acelerar a transição energética como caminho para a economia de baixo carbono.
É também crucial que as empresas incorporem em suas culturas organizacionais aspectos ambientais, sociais e de governança.
Alheia a tais conceitos, a Petrobras anunciou no final do mês passado seu plano estratégico para o período de 2022 a 2026, com investimentos de US$ 68 bilhões. Desse total, US$ 57 bilhões serão destinados à exploração e produção (E&P), sendo 67% desse valor no pré-sal.
O plano sinaliza o encolhimento pelo qual passará a empresa nos próximos anos.
Em planejamentos anteriores, o investimento não ficava restrito ao pré-sal. Era direcionado também aos campos produtores, ao refino e à transição energética, vislumbrando uma Petrobras mais integrada. Eram feitos investimentos em biocombustíveis, em energias renováveis, como eólica e solar, e em pesquisa e desenvolvimento de novas fontes de energia limpa ou renovável.
Isso se perdeu nesse plano, que mostra uma Petrobras apequenada, focada em exploração e produção e com a metade de sua capacidade de refino. Está se tornando uma empresa suja ambientalmente, cortando investimento na contramão do que as grandes empresas do setor de óleo e gás fazem hoje.
A Petrobras investe menos de 1% na área de transição energética. É um atraso de décadas, que condena a perenidade da companhia.
O plano estratégico 22-26 deixou de fora temas importantes, como os trabalhadores da empresa.
Incluído no Acordo de Paris, em 2015, o conceito de transição justa —que visa garantir que ninguém fique para trás nessa “revolução verde”, incluindo trabalhadores— não foi incorporado na Petrobras.
Não há dúvidas sobre o imenso impacto nas formas de trabalho e nas carreiras profissionais que as revoluções verde e digital já estão trazendo. Entretanto, quando as companhias —incluindo as de óleo e gás— anunciam planos para acelerar sua descarbonização energética e produtiva, pouco se vê o que planejam fazer para que as pessoas sejam incorporadas às novas e futuras formas de produção, com oportunidades de requalificação profissional e de incorporação de conceitos de sustentabilidade.
Quando olhamos apenas para o Brasil, em particular para a Petrobras, o desestímulo é ainda maior. A estatal está abandonando todos os seus projetos de investimentos em fontes renováveis de energia, vendendo usinas eólicas e sua produtora de biodiesel. Um balde de água fria tanto no processo de limpeza da matriz energética do país como na formação de profissionais em áreas “verdes”, e na requalificação de seus empregados.
*Publicado originalmente no portal UOL