Na Antártica, assim como na Bacia de Campos







 Os petroleiros mais atentos aos noticiários perceberam rapidamente as semelhanças entre a tragédia que matou dois militares brasileiros na Estação Comandante Ferraz, na Antártica, no último sábado, e as condições de insegurança na Bacia de Campos.

Em ambos os casos, são antigos e frequentes os avisos. E em ambos os casos as vozes oficiais procuram amenizar os alertas. A Marinha disse, sobre o incêndio da Estação, que “modernizou o sistema de monitoramento e alarme de incêndio e que fez uma série de melhorias na estação”, e que “o acidente não ocorreu em razão de falta de investimentos na estação”, como registrou matéria do Portal G1. Muito parecido com o que costuma dizer a Petrobrás nas notas que são divulgadas para a imprensa após os acidentes e interdições. 

Mas, para pesquisadores que estiveram na Antártica, a realidade da base era bem diferente. Os equipamentos de combate a incdêncio e as instalações foram criticadas pelos profissionais. Relatório de 2005, feito por inspetores internacionais, já registrava que a Estação começava a dar “sinais de velhice” e recomendou a revisão urgente nos equipamentos de combate a incêndio.

“O Brasil respondeu dizendo que já tinha um plano para substituir os extintores e mangueiras e atualizar todo o sistema de combate a incêndio”, disse o G1, mas nada foi feito, apesar de a base dispor de um orçamento que chegou a R$ 27 milhões em 2009.

“O pesquisador Patrick Simões Dias, que estava na estação na hora do incêndio, reclama da falta e do mau funcionamento dos equipamentos para combater o fogo. ‘Não tinha equipamento de proteção de respiração, não tinha equipamento de resistência ao fogo mesmo, macacões próprios, luvas próprias para todo mundo’. O professor Alexandre Lerípio, especialista em gestão ambiental, esteve várias vezes na estação brasileira e informou a Marinha e o Ministério do Meio Ambiente sobre riscos no local”, registrou a reportagem.

Esta negligência para com a segurança, muito familiar aos petroleiros, reflete uma cultura de descarte humano, de subvalorização da vida, com o emprego de recursos apenas no que parece ser mais lucrativo ou “produtivo” em curtíssimo prazo, deixando ao acaso a possibilidade de tragédia.

No médio e no longo prazos, esta omissão cobra a sua conta, em vidas e, também, em prejuízos. Além da morte dos dois militares e da perda instimável de pesquisas científicas, estima-se que o governo brasileiro terá que arcar com aproximadamente R$ 20 milhões apenas para limpar a área e iniciar a reconstrução. Na semana passada, matéria do Nascente mostrou justamente que o mesmo ocorre com a Petrobrás.