Multidão vermelha toma as ruas de Caracas em apoio a Chávez

 

 

CUT

Escrito por Leonardo Severo e Vaness Silva, de Caracas- Venezuela

“Sim, podemos ajudar o mundo/ mudar a história em um segundo/ a ajuda te fará crescer/ teu coração é bom/ se és um líder da vida/ mudar o mundo é alegria/ está na moda fazer o bem/ eu não sou Deus para te dizer o que fazer/ o que sei é que juntos vamos vencer/ e vamos salvar o mundo/ vive a tua vida/ dê a ela alegria/ escute bem o que estou dizendo/ sem barreiras ao sentimento, Chávez coração do povo”.

A música símbolo da campanha à reeleição de Hugo Chávez à presidência da Venezuela embalou a multidão que tomou completamente a Avenida Bolívar e transbordou de compromisso e alegria suas principais vias de acesso na tarde desta quinta-feira. Mas foi exaltando a bravura do povo venezuelano que Chávez entrou no palco. Entoando o hino da Venezuela cantado à lapela e com um coral de centenas de milhares de pessoas que lotaram sete avenidas de Caracas: Bolívar, Universidad, México, Lecuna, Fuerzas Armadas, Urdaneta e Baralt, Chávez conseguiu realizar uma mobilização jamais vista em termos de quantidade de manifestantes neste espaço, visivelmente superando mobilização feita por Henrique Capriles no domingo, em seu último comício na capital.

Exaltando o bom combate pelo humanismo e a solidariedade, a contagiante festa logo foi convertida em carnaval, com o vermelho vencendo o cinza das nuvens que trouxe a chuva implacável. Apesar do boato feito pela oposição de que a militância bolivariana estaria sendo paga para comparecer ao comício, na rua era possível ver a alegria de um povo que acredita no processo de mudanças que está sendo implementado no país.

Apesar do pé d’água, efeito do “cordonazo de San Franciso” – fenômeno que, segundo a sabedoria popular venezuelana acontece no dia de São Francisco de Assis –jovens, idosos, pais e mães com crianças de colo não arredaram o pé. Afinal, estavam ali para manifestar o seu apoio ao candidato da Pátria, das missões sociais e da valorização do salário mínimo, que enfrentou o locaute petroleiro, tentativas de assassinato e toda sorte de adversidades para defender o projeto bolivariano contra os traidores, neoliberais e privatistas. A turma que se alinha de fio a pavio com a candidatura do oposicionista Capriles. Assim, lembrando o santo que abdicou de sua riqueza para servir aos pobres, Chávez minimizou o efeito da chuva: “fomos banhados pela água bendita do ‘cordonazo’ de São Francisco”.

Caracas se fez pequena

No alto de um dos tantos caminhões de som espalhados pelas proximidades do palanque central, em vias onde posteriormente Chávez passou, acenando e cumprimentando as pessoas, lentamente em carro aberto, pulsava a felicidade e o amor à participação política. Casais dançavam e sorriam, tendo ao fundo uma coleção de novos prédios em construção, frutos do projeto Gran Missión Vivienda e gigantescos guindastes, numa fotografia do que é a Venezuela atual.

Em contraposição ao discurso do ódio que destila a candidatura do marionete dos Estados Unidos, Henrique Capriles, em cada palavra, o líder bolivariano exortou a multidão a fortalecer o caminho do amor e da união “em defesa da Pátria”. Chávez ressaltou que unidade e mobilização são fundamentais para acelerar o desenvolvimento “e abrir os portões do futuro que conquistamos”.

O presidente resgatou a história de Guacaipuro, líder indígena que comandou as tribos teques e caracas contra o colonizador espanhol, como um dos símbolos da determinação dos venezuelanos de não se submeter: “graças a Deus, graças a vocês, esta batalha contra a dominação tem mais de 500 anos. Todos somos Guacaipuro e todos ecoamos seu grito de guerra contra o império espanhol. Temos raízes na resistência aborígene, indígena e negra, que impulsionam a luta dos explorados de sempre em defesa de uma terra de homens e mulheres livres”, acrescentou.

Lembrando a trajetória de combate dos primeiros patriotas contra o colonialismo, Chávez ressaltou que o povo venezuelano honrará sua trajetória nas urnas, no próximo domingo, 7 de outubro. “Somos resultado de uma longa jornada. Somos os filhos das colunas guerrilheiras, seu coração e seus braços. Somos os filhos de 4 de fevereiro [data do levante popular contra o desgoverno de Carlos Andrés Perez. Somos os filhos de 500 anos de batalha e de luta pela libertação”, disse.

“Saímos de uma morte coletiva e agora que a Venezuela ressuscitou e a Pátria vive. Não vamos permitir que voltem a aniquilar o nosso país. Nas nossas mãos não se perderá a vida da Pátria. Meu próximo governo inicia já no próximo 8 de outubro”, exaltou, levando a multidão ao delírio.

Embora seja um lago de petróleo inundado por petrodólares, lembrou Chávez, a Venezuela era um país faminto, onde o povo não tinha emprego, salário decente, educação nem moradia digna. “Nós baixamos o desemprego de 20% para 7% e vamos, em seis anos, garantir o pleno emprego. Nós construímos 22 universidades públicas nos últimos dez anos e vamos criar mais 10 nos próximos seis. Somos o quinto país com mais universitários matriculados no mundo e caminhamos para ser o primeiro”, acrescentou.

Contra o imperialismo

Há 13 anos comandando a revolução bolivariana,Chávez faz uma autocrítica do processo que vem sendo consolidado por ele: “tenho cometido erros, mas quem não erra?”, perguntou, para logo emendar: “mas falhei com vocês no 4 de fevereiro? – quando arriscou sua vida em defesa do povo venezuelano – Falhei quando enfrentei a prisão? Por acaso Chávez se vendeu à burguesia? Se dobrou ao imperialismo?”, questionou o presidente, com a multidão respondendo em coro: “Não”.

Em meio a um mar de aplausos, sorrisos e lágrimas, o presidente encerrou o ato convocando a todos a trabalharem como “formiguinhas para que não fique ninguém sem votar no domingo”. Diante da magnitude do enfrentamento com a reação de direita pró-EUA e seus conglomerados midiáticos, o presidente venezuelano exortou a militância chavista do Comando Carabobo – mesmo nome da batalha decisiva que abriu caminho à derrota definitiva do exército espanhol – a não se deixar tentar pelo triunfalismo.

Como o voto não é obrigatório, o dirigente bolivariano conclamou aos venezuelanos para que se mobilizem a fim de que haja “uma avalanche de votos” e se esmague qualquer tentativa contra a democracia no país. “Viva a Venezuela! Viva Bolívar! Até a vitória sempre”, concluiu.

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