Mulheres Petroleiras: “Ser feminista não é uma escolha, é uma necessidade”

 

A técnica de operação da Refinaria Duque de Caxias, Andressa Delbons, 32 anos, enfrenta diariamente os desafios de ser mulher em um ambiente de trabalho majoritariamente masculino. “Ser feminista não é uma escolha, é uma necessidade no meu dia a dia”, afirma.

Andressa ingressou na Petrobrás em 2008, aos 21 anos de idade, quando assumiu logo em seguida o cargo de técnica de operação na segunda maior refinaria do país. Percebeu logo que precisava reagir contra as discriminações e precarização das condições de trabalho que atingem em cheio as mulheres petroleiras. Foi assim que começou a participar das atividades sindicais.

Em seu segundo mandato no Sindipetro Caxias, ela é também uma das oito mulheres que integram a Diretoria Plena da FUP, o que representa 22% do total de integrantes. “As petroleiras precisam ocupar mais os espaços de representação, mas esse avanço só virá com a participação ativa das trabalhadoras junto aos seus sindicatos”, declara.

Esse é um dos desafios de Andressa, que acaba de assumir a Coordenação do Coletivo de Mulheres Petroleiras da FUP: “Espero contar com a colaboração das petroleiras para que juntas possamos avançar, não só nas pautas específicas das mulheres, mas também na representação de toda a categoria. A perspectiva dos próximos anos é de ataques à classe trabalhadora e precisamos estar unidas para barrar possíveis retrocessos, barrar as privatizações e garantir a manutenção dos nossos direitos conquistados com luta, sangue e suor”. Confira abaixo a entrevista com ela:

Como estão os preparativos para o 7º Encontro Nacional de Mulheres Petroleiras?

O Encontro Nacional de Mulheres Petroleiras acontece anualmente e os sindicatos da FUP se revezam na organização do evento, que neste ano acontecerá entre os dias 5 e 7 de abril em Vitória, no Espírito Santo. É um encontro organizado por mulheres, para mulheres. Em breve, divulgaremos mais detalhes sobre o evento.

Como é ser feminista em uma empresa majoritariamente masculina, como é o Sistema Petrobrás?

Ser feminista não é uma escolha: é uma necessidade no meu dia a dia. Eu trabalho no chão de fábrica, ambiente majoritariamente masculino. Junto com uma colega, fomos as primeiras técnicas de operação da primeira unidade de processo em que trabalhei na Reduc.

Muitas mulheres lutaram para que hoje eu pudesse votar, estudar e trabalhar sem precisar da anuência de um homem. Tenho a obrigação de valorizar isso.

Estar desempenhando a função que exerço hoje na Petrobrás é fruto da ideia de que homens e mulheres devem ter oportunidades iguais, e isso é uma das ideias propagadas pelo feminismo.

Houve mudanças importantes para as mulheres no ambiente de trabalho desde que você ingressou na Petrobrás?

Houve um tempo em que as mulheres não podiam sequer se inscrever no concurso para o cargo que exerço na Petrobrás. A função era estritamente masculina. Hoje, o número de mulheres na área operacional vem aumentando, inclusive em posições de liderança. Infelizmente, as ações para acolhimento das mulheres nem sempre são efetivas e por isso recebemos muitas denúncias de assédio moral e sexual, mas acredito que aos poucos estamos avançando. Já houve adequação em várias áreas da Petrobrás para atender às demandas as mulheres, como implantação de vestiários femininos nas unidades operacionais, instalação de salas de amamentação, designação de camarotes femininos nas plataformas, coisas que há alguns anos atrás seriam impensáveis

Hoje as mulheres são 22% da diretoria da FUP. É a maior representação feminina da história da entidade. Dá para avançar mais? Como está hoje a participação das petroleiras no movimento sindical?

Eu entendo que o movimento sindical idealmente deve ser reflexo da categoria que representa. E isso só se dá com a participação ativa dos trabalhadores e trabalhadoras junto aos sindicatos. Com o aumento da quantidade de mulheres nas bases do sistema Petrobrás, devemos ter um aumento também no percentual de mulheres nas direções dos sindicatos, federações, confederações e centrais. Na CUT, por exemplo, que é a central à qual o meu sindicato é filiado, a direção é composta por 50% de mulheres. Então penso sim, que existe espaço para avançar e reitero que esse avanço só virá com a participação ativa das trabalhadoras junto aos seus sindicatos.

Quais os desafios do Coletivo de Mulheres Petroleiras nesse momento de tantos retrocessos sociais?

Nossos objetivos centrais são formar e organizar as mulheres petroleiras pelo país, barrar as privatizações, garantir o efetivo exercício dos direitos contidos na CLT e no nosso Acordo Coletivo de Trabalho e avançar na construção de um ACT que garanta melhor qualidade de vida para petroleiras e petroleiros. Não aceitaremos retrocesso, independente de quem estiver no governo. Nosso lema continua sendo “Nenhum direito a menos!”.

[FUP | Edição Especial Dia Internacional das Mulheres]