DIEESE: mulheres chefiam 50,8% dos lares, mas ganham menos e sofrem mais com desemprego

Foto: Marcelo Camargo/AGÊNCIA BRASIL

Boletim Especial do Dieese mostra que trabalhadoras nada têm a comemorar nesse 8 de março, Dia Internacional da Mulher. As mulheres também lideram a taxa de desemprego, desalento e subutilização

[Da redação da CUT]

A maioria dos domicílios no Brasil é chefiada por mulheres, mas elas lideram as taxas de desemprego, desalento e ganham menos que os homens e, portanto, também em relação ao mercado de trabalho elas não têm nada a comemorar no dia 8 de março, Dia Internacional das Mulher, revela o Boletim Especial 8 de Março, Dia da Mulher, divulgado, nesta segunda-feira (6), pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), revelou que dos 75 milhões de lares do país, 50,8% tinham liderança feminina, o correspondente a 38,1 milhões de famílias. Já as famílias com chefia masculina somaram 36,9 milhões. As mulheres negras lideravam 21,5 milhões de lares (56,5%) e as não negras, 16,6 milhões (43,5%), no 3º trimestre de 2022.

Confira aqui e aqui outras análises do Boletim do Dieese sobre a inseção das mulheres no mercado de trabalho em geral e por setores da economia.

As dificuldades das mulheres chefes de família no mercado de trabalho, entre elas a falta de equidade de gênero, são muitas, mostram os dados do Boletim.

Do total da força de trabalho no Brasil, 44,0% eram mulheres, grupo que lidera a taxa de desemprego com 11,0% contra 6,9% dos homens, segundo

O boletim mostra ainda que, do total de pessoas fora da força de trabalho, 64,5% eram mulheres. Desse percentual, 5,7% delas estavam em situação de desalento – quando a pessoa quer trabalhar, está disponível, mas acredita que não vai encontrar uma vaga. Do total de desalentados, 55,5% eram mulheres.

Do total de mulheres ocupadas, a proporção de subocupadas, ou seja, que trabalharam menos de 40 horas, mas gostariam de trabalhar mais, foi superior à dos homens: 7,8% delas estavam nessa condição, enquanto entre os homens, o percentual ficou em 5,1%.

Entre as trabalhadoras negras, a situação é pior: o percentual de trabalhadoras negras subocupadas foi 9,3% maior do que o registrado entre as não negras, que ficou em 6,1%.

Com taxas maiores de desalento, desocupação e subocupação, a subutilização das mulheres foi de 25,3%, enquanto para os homens, estava na casa de 15,9%. Entre as negras, a taxa ficou em 30,2% e, entre as não negras, em 19,2%.

As mulheres também ganharam, em média, 21% a menos do que os homens – o equivalente a R$ 2.305 para elas e a R$ 2.909 para eles.

Por setor de atividades, mesmo quando as mulheres eram a maioria, elas recebiam menos, em média.

Nos serviços domésticos, as trabalhadoras representavam cerca de 91% dos ocupados e o salário foi 20% menor do que o dos homens.

No grupamento educação, saúde e serviços sociais, elas totalizaram 75% dos ocupados e tinham rendimentos médios 32% menores do que os recebidos pelos homens.

A análise da renda das chefes de família no mercado de trabalho apontou que, em média, 75,5% da fonte de renda das famílias eram oriundas do trabalho; 18,2% de aposentadoria e pensão; e 2,6%, de benefícios e programas sociais.

Para o conjunto das famílias que receberam até 1/2 salário mínimo, 71,1% eram rendimentos do trabalho; 13,8%, de aposentadoria e pensão; e 12,0%, de programas e benefícios governamentais.

De acordo com o Boletim do Dieese, cresceu o número de arranjos de casais sem filhos, núcleos unipessoais e famílias monoparentais com filhos ou parentes. Houve queda nos arranjos de casal com filhos, que passou de 43,8% para 40,2%, entre os 3º trimestres de 2019 e de 2022. Os casais sem filhos saíram de 18,3% para 19,0% nesse mesmo período.

Os arranjos unipessoais masculinos e femininos representaram 9,1% e 7,4%, respectivamente, no 3º trimestre de 2022, superiores aos percentuais de 2019 (8,1% para os homens e 7,0%, para as mulheres).

As famílias monoparentais com filhos e chefia feminina representaram cerca de 14,7% dos arranjos – muito mais comuns do que aquelas com chefia masculina, que representavam 2,3% em 2022.

Entre as chefes femininas, 34,2% eram de arranjos familiares com filhos, 29,0% de famílias monoparentais com filhos, 14,6% de casais sem filhos e 14,6% de famílias unipessoais, no 3º trimestre de 2022.

Em termos de renda média do trabalho da família, na média, os domicílios de casais com e sem filho receberam os maiores valores (R$ 4.987 e R$ 4.898, respectivamente), no 3º trimestre de 2022.

Os menores valores foram registrados entre os domicílios monoparentais com chefia feminina (R$ 2.833) e unipessoais femininos (R$2.913).

A renda das famílias negras foi sempre menor que a das não negras, independentemente do arranjo familiar. No caso das famílias chefiadas por mulheres negras com filhos, a renda média foi de R$ 2.362,00.

Em termos de renda do trabalho per capita, foi nos domicílios monoparentais chefiados por mulheres com filhos que se observou a menor renda: R$ 789, pouco mais do que meio salário mínimo por pessoa. No arranjo monoparental com filhos e chefia masculina, o valor per capita foi de R$ 1.198. A renda per capita média dos domicílios no 3º trimestre de 2022 foi de R$ 1.336 e nos lares com chefes mulheres foi equivalente a cerca de 71,6% do recebido nos domicílios liderados por homens.

A participação da renda feminina do trabalho representou, em média, 37,0% da renda do trabalho do domicílio, no 3º trimestre de 2022, resultado semelhante ao do mesmo período em 2019. Quando se analisa por raça/cor, o rendimento da mulher foi de 38,2% da renda total do trabalho nas famílias chefiadas por pessoas não negras e de 36,0% entre as famílias lideradas por pessoas negras.

Nos lares com chefia feminina, no 3º trimestre de 2022, recebiam até 2 salários mínimos 63,9% das famílias lideradas por negras e 43,7% por não negras. A desigualdade de gênero e raça/cor no mercado de trabalho afeta intensamente a qualidade de vida de todos os membros das famílias e impõe, muitas vezes, a necessidade da inserção precária de filhos e outros parentes, para compor a renda familiar.

As mulheres chefes de família monoparental com filhos

Os arranjos mais vulneráveis são os da chefia feminina com filhos sem cônjuge, principalmente porque a renda do trabalho do domicílio e a renda per capita foram as menores entre os arranjos analisados. No 3º trimestre de 2022, esse tipo de arranjo somou 11,053 milhões de famílias, 61,7% chefiadas por negras (equivalente a 6,8 milhões) e 38,3%, por não negras (que representavam 4,2 milhões).

Entre as famílias chefiadas por negras, 43,9% das mulheres estavam fora do mercado de trabalho, quase 3 milhões de pessoas, e, entre as lideradas por não negras, a proporção era semelhante, 44,2%, ou 1,9 milhão de mulheres, no 3º trimestre de 2022. A taxa de desocupação das chefes negras foi de 13,0% e das não negras, de 8,8%, repetindo padrão do conjunto de mulheres no mercado de trabalho, quer dizer, as negras sempre têm taxa de desemprego maior. No período analisado, eram 498 mil mulheres chefes negras e 207 mil não negras.

Entre as ocupadas, uma em cada quatro (25,3%) mulheres chefes de família negras eram empregadas domésticas; 16,6% estavam nos setores de educação, saúde humana e serviços sociais; e 15,1% no comércio. Entre as não negras, 22,3% trabalhavam em educação, saúde humana e serviços sociais; 17,5%, no comércio; e 15,8%, nos serviços domésticos.

A posição na ocupação comprova a vulnerabilidade dessas chefes de família. Do total de chefes negras, 20,6% são trabalhadoras domésticas sem carteira; 15,1% trabalhavam sem carteira no setor público ou privado; e 17,6% eram autônomas sem CNPJ. Ou seja, mais da metade dessas mulheres não tem acesso a nenhum benefício trabalhista (53,3%). Entre as não negras, essa proporção era menor: 41,0%. Dessas, 11,9% eram domésticas sem carteira; 8,9% estavam no setor privado sem contrato assinado; 2,8% no setor público também sem carteira; e 17,4% eram autônomas sem CNPJ.

Em termos de rendimento, 22,4% das famílias monoparentais chefiadas por mulheres não tinham rendimento do trabalho; 25,6% ganhavam até 1 salário mínimo; e 22,3%, entre 1 e 2 salários. A proporção de famílias chefiadas por negras que ganhavam 1 salário mínimo ou menos foi de 53,7%, enquanto ficou em 38,8% entre as lideradas por não negras, no 3º trimestre de 2022.

O rendimento médio do trabalho no 3º trimestre de 2022 ficou em R$ 3.922 paras as famílias lideradas por não negras e em R$ 2.468, para as chefes negras. No caso das mulheres que estavam no trabalho doméstico (com e sem carteira), os valores foram de R$ 2.144 para as não negras e de R$ 1.720 para as negras. Entre as domésticas sem carteira, as negras ganharam R$ 1.541 e as não negras, R$ 1.883.

De acordo com o Dieese, “os indicadores mostraram o que se vivencia na prática: um contingente de mulheres que ganha menos se insere de forma precária e leva mais tempo em busca de colocação no mercado de trabalho”.

“Esse quadro”, prossegue o Dieese, “faz com seja perpetuada a situação de vulnerabilidade não só da mulher chefe de família, mas de todos os familiares, com a transferência de milhares de crianças e jovens da escola para o mercado de trabalho, para que contribuam com a renda da família”.

Os técnico do Dieese ressaltam que “os últimos anos foram de retrocessos no país, devido à falta de investimentos e políticas capazes de garantir emprego, saúde e até mesmo a vida das mulheres. O caminho para uma sociedade mais justa e com igualdade de gênero parece ter ficado ainda mais longo. A desigualdade de gênero no mercado de trabalho reproduz e reafirma esse desequilíbrio já existente em todas as esferas da sociedade, sob a forma do machismo”.

“A partir dos papéis atribuídos a homens e mulheres, negros e negros, desenham-se as desigualdades e as relações de poder, seja econômico, sexual ou político. E o caminho para a mudança passa por refazer pactos, reforçar políticas transversais de igualdade de gênero, garantir igualdade de oportunidades no mercado de trabalho, reduzir a desigualdade econômica e aumentar o número de mulheres em posição de liderança, entre outras ações. É preciso que o país cresça e gere renda e emprego de qualidade, mas é necessário também enfrentar as desigualdades de gênero e raça/cor e que as mulheres tenham mais voz na sociedade, via negociação coletiva e políticas públicas”, conclui o Boletim do Dieese.