A Frente Brasil Popular, composta por movimentos sindicais, sociais, representantes de partidos de esquerda, divulgou na tarde desta quarta-feira (17) a programação de atos em apoio ao ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, em Porto Alegre. Lula será julgado em segunda instância, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, na próxima semana, na Capital.
A Frente confirmou que a cidade terá acampamento para as caravanas e apoiadores. O local, ainda a ser definido, depende de autorização da Secretaria Estadual de Segurança Pública. A expectativa é de que 50 mil pessoas participem dos atos em Porto Alegre. A maioria vinda do interior do Rio Grande do Sul, mas com confirmação de movimentos de Santa Catarina, Paraná, Argentina e Uruguai.
O grupo também se manifestou a respeito das orientações de segurança. Segundo Claudir Nespolo, presidente da CUT/RS, o movimento terá uma equipe de dois mil seguranças, para manter a organização. Caso sejam identificados mascarados ou infiltrados, eles devem agir para evitar qualquer tipo de tumulto.
“Não nos interessa nenhum tipo de conflito”, afirmou Carlos Pestana, vice-presidente do PT estadual. “Estamos organizando um ato pacífico, ordeiro, em nome do direito do companheiro Lula de ser candidato. Não só o direito da população de votar nele, mas de poder escolher essa agenda”.
O PCdoB, que também integra o movimento, apesar de ter anunciado a pré-candidatura da deputada Manuela D’Ávila para presidência da República, afirma que já está orientando a militância para que não aceite provocações.
“Nossa pauta é a democracia, a exigência de um julgamento justo para Lula, porque [a decisão] pode abrir as portas para o obscurantismo. (…) É obscurantismo, fascismo, ditadura de novo tipo, que se impõe no corte de direitos”, disse Abgail Pereira, vice-presidenta estadual do PCdoB.
Abgail relatou ainda que, em uma reunião entre movimentos e o secretário estadual de segurança, Cezar Schirmer, na manhã desta quarta, o movimento questionou as notícias que vêm sendo veiculadas na imprensa sobre ameaças que estariam sendo feitas a desembargadores do TRF4. A questão foi motivo de encontro do presidente Carlos Thompson Flores com a presidente do STF, Carmen Lucia, e com a procuradora geral da República, Raquel Dodge, na segunda.
“Eu pergunto: ameaçados por quem? Foi registrado um BO? Foi dito, ‘sofremos uma ameaça por telefone?’. Onde está essa ameaça?”, questiona a Abgail. A SSP teria dito que não possui registros de nenhuma suposta ameaça. “Nos preocupa que o TRF4 tenha essa postura, de gerar esse clima de animosidade, assim como o prefeito Nelson Marchezan gerou [ao pedir a Força Nacional e o Exército]”.
A presença do próprio Lula não está confirmada. Pestana disse que a expectativa é de que ele venha, mesmo com o TRF4 rejeitando o pedido da defesa, para que fosse ouvido. De acordo com ele, o ex-presidente irá fazer um esforço para estar em Porto Alegre, mas a confirmação só deve ocorrer na véspera do julgamento.
Para movimentos, decisão define destino da democracia no país
Os movimentos salientaram na coletiva o porquê de vincular o processo de Lula à defesa da democracia. “Não tem nada a ver com a questão eleitoral, temos outra candidatura já definida, da Manuela D’Ávila, a luta vai muito mais além, que é defender a democracia”, defende Silvana Conti, membro da CTB e do PCdoB.
Os movimentos que integram a Frente questionam a rapidez com que o processo foi posto para julgamento no TRF4. Com a sentença definida por Sérgio Moro, em julho do ano passado, o Tribunal passou o processo de Lula e mais sete réus na frente de outros sete recursos, para ser o primeiro julgamento do ano na Corte. Para a Frente, “mais um capítulo do golpe de um projeto neoliberal e conservador”.
“O Poder Judiciário tem agido de maneira arbitrária e seletiva. Justamente, foi no processo democrático que mais se conseguiu conquistar direitos para a sociedade como um todo. Por isso, a UNE, mais uma vez, se posiciona pela defesa da democracia e do estado democrático de direito”, declarou a diretora de comunicação da União Nacional dos Estudantes, Nágila Maria.
A organização teria decidido “abraçar” a pauta em defesa a candidatura do ex-presidente, seguindo a própria história. Nos próximos dias, a sede da entidade será transferida simbolicamente para Porto Alegre.
Confira a programação:
Segunda-feira, 22
– A montagem do acampamento está prevista para o domingo e a segunda-feira. Ainda não se sabe qual o local, a organização não quis divulgar as possibilidades que vem sendo trabalhadas.
-18h: Ato de Juristas e Intelectuais em Defesa da Democracia: No auditório da Fetrafi (Rua Cel. Fernando Machado, 820), juristas e intelectuais debatem o processo e a sentença que condenou Lula, em julho do ano passado. Celso Amorim, Eugênio Aragão, Luiz Gonzaga Belluzo e a ex-ministra da Cultura, Ana Buarque de Hollanda, estão entre os nomes do painel.
Terça-feira, 23
– 9h: Encontro de Mulheres Pela Democracia e com Lula: painel que irá reunir mulheres em debate em torno da conjuntura política e do processo contra Lula. O evento acontece no Teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa. Entre os nomes na programação: a ex-presidenta Dilma Rousseff, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, a deputada e pré-candidata à presidência pelo PC do B, Manuela D’Ávila.
-14h: Ação Global Anti-Davos: Também no Dante Barone, nomes como os senadores Roberto Requião e Paulo Paim, além do líder do MTST, Guilherme Boulos, estarão participando de um debate sobre as reformas e a agenda neoliberal do governo Michel Temer, numa conjuntura mundial. O linguista e cientista político, Noam Chomsky, é um dos nomes previstos no evento.
-16h: Ato de “esquenta” na Esquina Democrática, com previsão de durar até o início da noite.
-19h30, 20h: Marcha com início na Esquina Democrática, até o local do acampamento em apoio a Lula. O evento marcará ainda o início da vigília dos movimentos.
Quarta-feira, 24
– Sem horário definido, os movimentos começam a concentração para sair em marcha até o local mais próximo do TRF4 onde for permitido que se concentrem.