Movimentos sociais discutem igualdade, integração de culturas e combate à especulação para o desenvolvimento sustentável

CUT

A plenária “Trabalho, por Outra economia e Novos Paradigmas de Sociedade”, na Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo (RJ), seguiu na tarde deste domingo (17) com a apresentação de propostas dos movimentos sociais, principalmente lideranças sindicais, indígenas e feministas.
Ao final do dia, a coordenação destacou entre os eixos de luta o combate ao trabalho escravo, inclusive no âmbito doméstico, a definição de outra relação com a natureza e o fim da financeirização dos recursos naturais. Os militantes também querem acabar com a criminalização dos movimentos sociais e propuseram a construção de formas de organização que não repitam o formato do atual modelo econômico.  

A necessidade de criar outra definição para a chamada economia também ganhou destaque, já que o termo é utilizado por quem deseja apenas pintar o capitalismo de uma cor diferente.

O combate à mercantilização da vida, do meio ambiente e das pessoas, a mudança nas relações entre homens e mulheres, com a inserção do elemento da igualdade, defender a soberania alimentar e o agronegócio – com reforma agrária –, e pensar a sociedade baseada na solidariedade e na harmonia e não no consumismo foram os outros itens definidos na pauta.

Nesta segunda (18), os movimentos sociais voltam a se reunir no mesmo local para apresentar o resultado final dessa plataforma.

Assembleia sindical

Após a intervenção pela manhã do presidente da CUT, Artur Henrique (clique aqui para ler), a Central voltou a participar da assembleia, desta vez compondo uma mesa com o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo.

O dirigente gaúcho lembrou a II Assembleia do Movimento Sindical, que reuniu mais de 400 lideranças e 66 representações da classe trabalhadora, e apresentou as principais reivindicações do documento acordado entre os participantes: estimular entre os sindicatos o debate sobre o desenvolvimento sustentável, cobrar do governo a aplicação da Justiça tributária – com taxação da renda e das transações financeiras – e a recuperação dos bens comuns apropriados pela iniciativa privada.
A boa governança – com gestão transparente e participação popular –, a seguridade social como condição para o desenvolvimento e progresso, o trabalho saudável e protegido e a unidade entre as entidades completam essa lista.

Porém, lembrou Nespolo, o movimento sindical isolado não conseguirá colocar em prática todas essas reivindicações. Por isso a necessidade de ampliar a mobilização ao lado de quem acredita nos mesmos valores.

“A unidade e a aliança é possível e necessária entre os movimentos sociais para impedir o avanço daqueles que querem o Estado em farrapos e acabam provocando a miséria do povo”, definiu.

Regras gerais

Da mesma forma que na II Assembleia Sindical, a plenária da cúpula cobrou regras internacionais para o mundo corporativo para promover os direitos humanos e socioambientais, co sanções para empresas e os diretores dos grupos que não cumprirem.

O rompimento do vínculo com lobistas, tão presentes nos encontros da Organização das Nações Unidas (ONU), e o crescimento da participação da sociedade civil também foram contribuições citadas na mesa.

Representante da Coordenadoria Andina de Organizações Indígenas Miguel Palacim exemplificou como aqueles que lutam pelo mero esverdeamento do atual modelo de produção e consumo, mascaram o processo de transição para uma economia justa sem que isso realmente aconteça. “Estão querendo incorporar o termo mineração sustentável na discussão da Rio+20. Como pode uma atividade que degrada o solo ser sustentável”, questionou.

Atacar a especulação

Diretor do instituto Focus on the Global South e ex-embaixador da Bolívia na ONU, Pablo Solon, citou a importância de uma campanha contra a financeirização do capital como urgente para os movimentos sociais, cuja atuação acaba por aumentar o preço de produtos e alimentos. “Não vamos construir uma nova sociedade sem atacar o campo financeiro e especulativo.”
Por fim, a coordenadora da Marcha Mundial de Mulheres, Nalu Faria, alertou para as tentativas de o sistema capitalista combater a mobilização por meio da redução da economia ao mercantil e do político ao espaço público.

Ela alertou, porém, que o patriarcado, responsável por excluir e violentar as mulheres, não está apenas presente nas empresas, mas também nas famílias, seja na invisibilidade do trabalho doméstico, seja na hegemonia de um modelo de relação sexual viril e heterossexual. “Incorporar a crítica feminista é incorporar a crítica a esse modelo de família.”

Para ela, a referência que temos de vida em sociedade deve mudar. “O lucro deve deixar de ser o foco para dar lugar ao cuidado com a vida humana.”

Comunicação 

Também na plenária sobre bens comuns, a CUT marcou presença com a secretária de Comunicação, Rosane Bertotti. Lá, a dirigente defendeu em uma das mesas a ideia do acesso universal à cultura como um direito aos povos, tal qual o direito à água e à saúde qualidade.

“O que vemos na velha mídia é uma colonização da comunicação que impõe uma cultura onde não há respeito a quilombolas e mulheres, que vende a falsa ideia de uma economia verde. Precisamos retomar a ideia da cultura e do direito à liberdade de expressão como uma forma de valorização dos povos”, ressalta.