O relógio luminoso do Conjunto Nacional marcava 19 horas e oito minutos quando irrompeu das caixas do caminhão de som a voz de Adoniran Barbosa cantando “Despejo na Favela”. A música embalava naquele momento o protesto do MTST, da CUT e de outros movimentos sociais diante do prédio que abriga o escritório da Presidência da República na avenida Paulista, capital de São Paulo.
A parada era uma das mais importantes da manifestação feita na noite batizada de Quinta-Feira Vermelha. Ali, na esquina com a rua Augusta, o protesto reivindicou a imediata liberação das verbas para a terceira fase do programa Minha Casa Minha Vida. Moradia é o principal objeto de luta do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, que convocou o ato.
Porém, não o único. Os milhares de manifestantes que começaram a se reunir desde as 17 horas no vão livre do Masp – os organizadores calculam em 50 mil o total de participantes – estavam ali principalmente para se posicionar contra a ofensiva da direita em curso no Brasil atualmente.
Foram condenadas várias iniciativas da agenda conservadora. Terceirização sem limites, ajuste fiscal que retira direitos dos trabalhadores, redução da maioridade penal, contrarreforma política que constitucionaliza financiamento empresarial para campanhas eleitorais e o projeto do senador José Serra que pretende retirar da Petrobrás a prerrogativa de ser a operadora única dos campos do petróleo da camada pré-sal.
O Congresso Nacional foi duramente atacado pelos dirigentes, ainda diante do Masp. Detalhe: poucos dirigentes ao microfone e falas bastante breves se comparadas ao que se vê em manifestações organizadas pelas centrais sindicais.
“Esse sem-vergonha do Eduardo Cunha, esse sem-vergonha do Renan Calheiros”, vociferou o coordenador do MTST, Guilherme Boulos, que deu ênfase ao projeto de redução da maioridade penal. “Isso não é para proteger o filho do rico, é para prender filho de pobre”, disse.
O vice-presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, lembrou que a manifestação tinha por objetivo maior a defesa da democracia. E a Petrobrás faz parte disso. “Um senador, que em nome das companhias petroleiras internacionais, quer entregar de bandeja as riquezas do Brasil”, falou, em referência ao projeto de lei 131/2015 apresentado por José Serra.
Douglas também falou da possibilidade de se construir uma greve geral no Brasil, em conjunto com os movimentos sociais, caso ataques aos direitos, como é o caso do projeto de liberar geral a terceirização do trabalho, avancem.
Carregando faixas e bandeiras ostentando nomes de ocupações urbanas como Carlos Marighella, João Cândido, Paulo Freire e Faixa de Gaza, os manifestantes – cuja visível maioria era de jovens – seguiram em direção à avenida Faria Lima, para um protesto diante do sede da federação nacional dos bancos. Lá, a mais forte crítica foi ao fato de as instituições financeiras lucrarem com aquilo que penaliza a população e os serviços públicas: a dívida interna.
Fonte: CUT