Mortes por Covid-19 na Petrobrás mais que dobram em dois meses

A Petrobrás já registrou 7.205 trabalhadores contaminados desde o início da pandemia e 45 mortes por Covid-19. Esses dados são referentes a apenas os empregados próprios da holding. Além destes, outros 40 petroleiros estão hospitalizados em função da doença. 

[Da comunicação da FUP \ Foto: Ag. Brasil]

A contaminação por Covid-19 continua a avançar na Petrobrás. Em apenas dois meses e dez dias, mais que dobrou o número de trabalhadores efetivos mortos pela doença na empresa, segundo o 61º Boletim de Monitoramento Covid-19, divulgado nesta terça-feira (15) pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e atualizado semanalmente. Atualmente, são 45 óbitos registrados nesta semana, iniciada em 14 de junho – uma alta de 125% em relação às 20 mortes por Covid apuradas pelo MME em 5 de abril, no 51º boletim de monitoramento.

Em todas as comparações os resultados são dramáticos. No boletim de número 38, do MME, de 4 de janeiro de 2021 (foi o primeiro boletim de 2021, contendo, porém, dados do ano anterior), a Petrobrás contabilizava 3 mortes. Ou seja, em apenas cinco meses deste ano, a empresa registrou 15 vezes o número de mortos de 2020.

Também aumentou o número de petroleiros infectados pelo coronavírus. Os 7.205 contaminados na Petrobrás desde o início da  pandemia, até o momento, já representam  15,5% do total de empregados efetivos da companhia (46.416). Isso significa que do primeiro boletim do MME deste ano – o de número  38, de 4 de janeiro -, até o mais recente (o  61° boletim , de 14 de junho), o número de casos de contaminação entre contratados da Petrobrás aumentou 78,9%. Do total de vítimas da doença, 6.949 foram recuperados, 216 confirmados em quarentena e 40 estão hospitalizados.

A Petrobrás não detalha os números por unidade de produção. Tampouco contabiliza os trabalhadores terceirizados, que convivem com empregados contratados em unidades operacionais. Porém, estatísticas da Agência  Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) permitem constatar que a grande parte dos infectados são trabalhadores de unidades de exploração e produção (E&P).


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O Painel Dinâmico de Casos de Covid, da ANP, registra, no acumulado de março de 2020 a 10 de junho de 2021, total de 5921 infectados  confirmados, sendo 70% deles (4.232 casos) trabalhadores que acessaram as plataformas  de petróleo. Os dados da ANP não incluem apenas a Petrobrás, mas também as demais petroleiras que atuam em unidades marítimas no país. “No entanto, 83% das unidades de exploração e produção offshore no Brasil são próprias da Petrobrás ou afretadas por ela”, observa o diretor de Saúde e Meio Ambiente do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), Alexandre  Oliveira.

O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, ressalta que   “os números da Petrobrás são subestimados, principalmente porque não registram terceirizados. A FUP já tem notícias de mais de 80 mortes por Covid na empresa”.

Para Bacelar, os números crescentes e assustadores de mortos e contaminados refletem o descaso da  gestão da empresa com a saúde do trabalhador e a ineficiência da política de prevenção à Covid-19 nas instalações da Petrobrás.

Ele lembra que a FUP e sindicatos filiados apresentaram, desde 2020, um conjunto de procedimentos a serem seguidos pela empresa para redução dos riscos de contaminação. Entre eles estão a manutenção de embarque  de, no máximo, 14 dias; garantia de testagem  para Covid-19 na metade do período do embarque (atualmente, o teste é feito apenas no início do embarque), adoção de máscaras de proteção de qualidade para todos os trabalhadores. As recomendações foram avalizadas pelo Ministério Público do Trabalho e pela Fiocruz.  Ainda assim, a Petrobrás insiste em descumpri-las.

Petrobrás recomenda Ivermectina a petroleiros contaminados

A Petrobrás está receitando Ivermectina para tratamento da Covid-19 a seus empregados,  segundo comprova receita fornecida a trabalhadores da empresa contaminados ou com suspeita de contaminação pela doença. O Sindipetro-NF e a FUP vêm recebendo  denúncias nesse sentido.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) condena o uso de Ivermectina no tratamento para a Covid-19; além da comprovada ineficácia, existem os efeitos colaterais. A insistência neste tratamento contraria não só os protocolos dos órgãos de saúde mundial: a própria farmacêutica Merck, que fabrica o medicamento, declarou em comunicado oficial que, na análise de seus cientistas, não há eficácia no uso do medicamento para a Covid-19.

Enquanto o governo federal resiste em cumprir recomendações internacionais da OMS, a Petrobrás adota protocolos internos contestados para o enfrentamento da Covid-19.

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