Justiça demorou tanto que um dos herois da limpeza do Rio Iguaçu faleceu sem ter seu caso julgado…
Justiça demorou tanto que um dos herois da limpeza do Rio Iguaçu faleceu sem ter seu caso julgado
José Marcondes da Luz foi uma das vítimas de acidente de trabalho durante a limpeza do vazamento de quatro milhões de litros de petróleo nos rios Barigui e Iguaçu, em 2000. Ele fez parte do batalhão de trabalhadores contratados às pressas para retirar o óleo que pintou de preto dois dos principais rios do Paraná.
A correria para limpar a água e, assim, minimizar os efeitos ambientais, apaziguar a repercussão negativa do caso e tentar ludibriar o Ibama para reduzir o valor da multa, causou prejuízos humanos irreparáveis. As condições de trabalho oferecidas aos que encararam a “bronca” eram muito precárias. Os equipamentos de proteção individual, como luva, roupas de borracha, botina e máscara, não foram fornecidos a todos. Muitos se enfiaram no petróleo sem a mínima segurança necessária para atuar naquela situação.
Dias após ter trabalhado imerso em petróleo, em contato direto com substâncias tóxicas, José Marcondes, assim como Juraci Francisco da Silva, ficou paraplégico. “Quando comecei [a trabalhar na retirada de óleo], estava perfeitamente bem”, contou José em reportagem a jornal impresso na época. Quando esteve no rio, sentiu dores de cabeça e enjoos por causa do forte cheiro e o nariz sangrava com frequência. Dois dias depois de parar de trabalhar, sentiu fortes dores no peito e nas costas. Foi ao médico, que lhe receitou catorze injeções. Chegou a tomar quatro delas. No dia seguinte, ao tentar se levantar da cama, as pernas já não respondiam.
A empresa não solicitou exame admissional antes do início do trabalho, o que dificultou ainda mais o estabelecimento da causa da doença. A luta pelo estabelecimento do nexo causal prossegue até hoje para os dois casos.
O Sindipetro Paraná e Santa Catarina sempre foi sensível à causa das vítimas do trabalho na limpeza dos rios. Prestou solidariedade aos acidentados e colocou sua assessoria jurídica para trabalhar nos casos. Infelizmente, a Justiça tardou e tardou muito para Marcondes. O contato com as substâncias tóxicas, além da paralisia, causou ferimentos e acabou por deformar seu corpo. Ele não viveu tempo suficiente para ver seu caso julgado em definitivo, faleceu no dia 02 de novembro.
Espera-se que Juraci tenha melhor sorte, e que os usuários de toga sejam mais conscientes em seu caso. Já a Petrobrás lava as mãos, enquanto os trabalhadores que se intoxicaram com o óleo falecem sem ver a justiça se feita.