Mino Carta, Pedro Serrano e Paulo Pimenta debatem os pilares do golpe

Em exposição no XVII Confup, na mesa de debate da tarde desta sexta-feira, 04, o jornalista Mino Carta, editor da revista Carta Capital, afirmou que “a mídia contribui de forma decisiva para a afirmação da Casa Grande”. Ele participou do painel “Os Pilares do Golpe Jurídico, Parlamentar e Midiático no Brasil”, ao lado do jurista Pedro Serrano e do deputado federal Paulo Pimenta (PT/RS).

Mino provocou a reflexão sobre as relações de poder no Brasil: “De uns tempos para cá, Lula começou a falar muito em Casa Grande. Isso, confesso, me agrada muito, pois ele deve saber que com a Casa Grande não há acordo possível. Só pode haver briga, até as últimas consequências. Nós temos de pensar que se a Casa Grande é inevitavelmente responsável pelo atraso no Brasil e se manifesta de mil formas, temos que reconhecer que este é o momento de repensar em muitas coisas e fazer um profundo exame de consciência. Até que ponto a dita esquerda brasileira funcionou a contento? Eu acho que não funcionou, porque só um grande partido de esquerda e sindicatos aguerridos, prontos para a luta, podem levar o povo à consciência de cidadania”.

O deputado Paulo Pimenta fez uma análise da conjuntura econômica internacional que, segundo ele, levou ao golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. De acordo com o parlamentar, o Capitalismo, historicamente, quando se vê em crise precisa promover uma ruptura para se sustentar. “O sistema capitalista por natureza vive de ciclos econômicos desde o período da Revolução Industrial. A cada momento de crise do capitalismo houve algum tipo de ruptura para ser reinventado”, afirmou.

Ele sustenta que a primeira opção das forças internacionais, antes de 2014, nem mesmo era um golpe no Brasil, mas o retorno ao poder pela via eleitoral, com Aécio Neves, o que explica a grande aliança conservadora em torno do candidato tucano, mas o plano da Direita não deu certo.

“Acredito que o golpe não era a primeira opção no Brasil. O modelo clássico é o da Argentina, onde ganharam com [Maurício] Macri. Mas em que pese toda aliança que eles montaram, nós ganhamos a eleição com a Dilma, ganhamos a eleição contra a lógica do que exigia o Capitalismo mundial para o Brasil”, disse.

Professor de Direito Constitucional da PUC-SP, Pedro Serrano fez uma análise sobre democracia, estados de direito e de exceção. “Vivemos um momento de perda de direitos, provocada por lapsos de ditadura e ascendência do fascismo”, destacou. Esse cenário está diretamente lincado com a crise do capitalismo. “Nunca houve tanta desigualdade social no mundo. Na Ásia, diminuiu a fome, mas a desigualdade permanece”, ressalta, lembrando que a violência está diretamente associada às desigualdades. “Da década de 90 pra cá, quadruplicou-se o número de presos, hoje estamos com 600 mil presos. Hoje nós temos 60 mil pessoas por ano mortas pelo Estado indiretamente, gente pobre matando gente pobre, trabalhador matando trabalhador”, afirmou.

Para Serrano, o golpe contra a democracia no Brasil, com o respaldo do Poder Legislativo e o apoio do poder judiciário, é resultado de toda essa conjuntura, mas não explicita a ascenção de um novo governo, como no caso de um golpe violento de tomada de poder. “Esse mesmo poder judiciário passa a agir de acordo com a lógica da mídia e a lógica da política” para tentar a construir uma base social que dê sustentação ao golpe, o que alguns autores chamam de “ralé”, (que podem ser ricos e pobres conflitantes entre sí, mas buscam um resultados políticos, esse nomeclatura surgiu para nominar os primeiros nazistas). “E a ‘ralé’ vai atrás sempre de uma figura que simbolize a pessoa com capacidade de acabar as divisões, de transformar a sociedade em algo puro e unitário, que ‘não são contaminados pelos pecados da política’ para buscar ordem”, revela o jurista, alertando que “não há democracia sem pluralidade e divisão social, e quem nega isso é o fascismo”.

Textos: Imprensa Sindipetro-NF, Sindipetro-PR/SC e Sindipetro-CE/PI | Edição: imprensa FUP | Fotos: Diego Villamarin