Ministro das Comunicações mente em rede nacional para defender venda dos Correios

Em nota, a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (Fentect) critica duramente a fala do ministro em rede nacional de rádio e TV nesta segunda (2)

[Da redação a CUT, com informações da Fentect]

Na véspera da reunião marcada na Câmara dos Deputados para discutir a Projeto de Lei nº 591/2021 do governo de Jair Bolsonaro, que abre caminho para a privatização dos Correios, o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD-RN), mentiu em rede nacional para defender a venda do patrimônio dos brasileiros.

A afirmação é da direção da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (Fentect), que divulgou nota criticando duramente a fala do ministro em rede nacional de rádio e TV nesta segunda-feira (2).

Faria disse em seu pronunciamento que a privatização dos Correios “é a última oportunidade de garantir a sobrevivência dos Correios”.

A nota da Fentect rebate: “O desgoverno Bolsonaro ataca a todo custo e ainda utiliza dinheiro público para propagar mentiras e destruir o patrimônio do povo brasileiro”.

O que você tem a ver com isso?


Leia aqui e entenda como a privatização dos Correios vai afetar a sua vida


Faria disse que a empresa teve lucro de R$ 1,5 bilhão em 2020, mas que são necessários R$ 2,5 bilhões em investimentos todos os anos para manter a estatal competitiva.

O ministro das Comunicações disse ainda que os Correios devem ganhar “eficiência, agilidade e pontualidade” e podem expandir serviços no exterior com a privatização. Segundo ele, “o volume de cartas tem se reduzido dia após dia, enquanto a demanda por encomendas e investimentos em tecnologia e logística só aumenta”.

Mais uma mentida, diz a nota da Fentect: “Os Correios já são premiados com diversos recordes. Somente a nossa empresa consegue integrar toda a região do país. Os Correios precisam de mais investimentos! A venda da nossa empresa só atende ao interesse escuso de um grupo político”.

“A privatização dos Correios não gerará mais emprego, a nossa empresa não ganhará mais eficiência, agilidade e nem pontualidade. É mais uma fake news descarada!”, diz trecho da nota.

De acordo com os sindicalistas, a privatização dos Correios gerará desemprego, o serviço postal será precarizado e passará a ser para poucos, assim como Bolsonaro tem feito com políticas públicas, ao contrário de outra afirmação do ministro no proncunciamento de que o governo bancará para quem não puder pagar.

Faria disse que o governo assumiu a responsabilidade de manter os serviços universais e que o texto em discussão na Câmara prevê uma tarifa social para quem tem dificuldade em pagar pelas entregas.

Fábio Faria mente! Bolsonaro quer destruir a soberania nacional! Vamos juntos na luta contra todos esses ataques de uma tropa que busca entregar o país. Não à venda dos Correios!

– Nota da Fentect

Leia mais: 18 motivos para lutar contra a privatização dos Correios


O que os Correios fazem pelos brasileiros?  

Os Correios atuam em todos 5.570 municípios brasileiros fazendo entrega de correspondência e produtos, além de prestarem vários serviços à população em suas agências, como:

. emissão, regularização e alteração de CPF;

. emissão de certificado digital;

. entrada no seguro por acidente de trânsito (DPVAT);

. distribuição de kit da TV Digital;

. pagamento a aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), especialmente em cidades pequenas que não têm agências bancárias;

. emissão de carteira de identidade, este no estado do Rio Grande do Norte;

. emissão de Carteira de Trabalho, em São Paulo;

. recadastramento escolar na cidade de Belo Horizonte, (MG) – esse serviço pode ser expandido.

Quais os impactos da privatização

Um dos primeiros impactos da privatização da estatal será na qualidade do atendimento, principalmente nas cidades do interior. Outro será a alta dos preços cobrados pelos serviços.

A a razão é simples. A privatização acaba com o subsídio cruzado que permite que as cidades maiores, com maior movimento nas agências dos Correios, mantenham abertas as agências das cidades pequenas.

Já sobre os preços, todos sabem que as empresa privadas só visam o lucro, além disso não vão querer prestar serviços em locais distantes.

“A população dos grandes centros vai sentir mais a privatização no valor do frete, da entrega de mercadorias, que vai aumentar. Já a população das pequenas cidades vai sentir duplamente, na demora da chegada das correspondências e também no aumento dos preços”, diz o secretário-geral da Fentect-CUT, José Rivaldo da Silva.

Segundo ele, atualmente, as empresas privadas de entregas de mercadorias utilizam os serviços dos Correios para fazer chegar até a população que mora em locais mais distantes, pacotes de encomendas.

“Essas empresas não atravessam dois, três dias de barco o Rio Amazonas, tampouco atravessam de ônibus o sertão do país, para entregar uma encomenda. Sai mais barato utilizar os serviços dos Correios. Então, de certa forma, elas terceirizam a entrega para nós. Essas empresas não terão esse trabalho para entregar uma simples carta, sem pagamento de frete”, critica o dirigente, afirmando que a consequência imediata será o aumento dos preços.

Entenda o projeto de privatização dos Correios

O projeto do governo Bolsonaro quebra o monopólio dos Correios para a entrega de cartas, telegramas e malotes, que ainda respondem por grande parte da receita da estatal (40%). As encomendas representam o restante.

Pela lei, mesmo que o plano da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, seja vender 100% da empresa, regras para universalização – a garantia de que correspondências cheguem a todo Brasil – devem constar na lei que irá regimentar o processo. Quem bancará esse custo?

A equipe da Economia quer publicar o edital de privatização dos Correios até o fim do ano e realizar a operação até março de 2022.

Mas, para aprovar o projeto o governo possivelmente terá que ceder em alguns pontos, principalmente em relação aos empregados dos Correios —uma das preocupações de líderes partidários.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, se posicionou, no começo de julho, contra a privatização dos Correios. Segundo ele, a Constituição não permite a prestação indireta dos serviços postais e do correio aéreo nacional.