Rede Brasil Atual
A reação de políticos do PT e dos partidos da base aliada às críticas formuladas pelo PSDB contra a queda no desempenho econômico-financeiro da Petrobras em 2012 veio com força nesta terça-feira (13), um dia depois do debate promovido pelos tucanos no Congresso.
Para o senador Inácio Arruda (PCdoB), desde que foi criada, em 1953, o único momento em que a empresa viveu uma crise foi durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando passou por um processo de abertura de capital e esteve no projeto de privatizações no mesmo momento em que se quebrou o monopólio da estatal na exploração de petróleo.
“A Petrobras está completando 60 anos desde sua homologação e o maior risco que teve foi nos governos neoliberais”, disse o senador. Segundo ele, as críticas sobre aparelhamento e má gestão têm mais objetivos políticos e eleitorais do que preocupação genuína com a saúde econômica da estatal. “Os diretores da empresa são funcionários de carreira e têm feito uma gestão responsável. A Petrobras não é a única empresa do setor que teve quedas nos últimos anos por conta da crise internacional. Outras grandes empresas tiveram quedas maiores.”
A Comissão de Minas e Energia da Câmara aprovou ontem um requerimento convocando a presidenta da Petrotras, Maria das Graças Foster, a prestar informações no Congresso sobre o desempenho econômico-financeiro da estatal em 2012, quando teve queda no lucro em relação aos três anos anteriores, e sobre a construção da refinaria Abreu Lima, em Pernambuco. Esta refinaria é um projeto da Petrobras e a Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA), a estatal venezuelana de petróleo.
O líder do PT na Câmara, José Guimarães, afirmou hoje que não há sinal de crise. “É conversa para boi dormir. São as vozes do além, que no passado queriam privatizar a Petrobras. É inacreditável, uma empresa que defende o Brasil e eles entram numa estratégia de desgastá-la. É para atingir as ações da Petrobras, aqui, e lá fora”, disse o deputado.
Segundo ele, o debate sobre a Petrobras com partidos da oposição é importante para o PT. “Vamos comparar quem quis vender a Petrobras e aqueles que a patrocinam.Vamos para cima. Para defender a Petrobras e mostrar que não há nenhuma crise na empresa”, disse.
O coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antonio de Moraes, afirmou que o PSDB não tem “moral” para fazer nenhuma avaliação sobre a Petrobras. “Esta é a primeira ironia deste debate”, disse. Segundo Moraes, no período em que o PSDB esteve à frente do governo federal (1995-2002) houve um “esvaziamento” da empresa. “Naquela época, não só a Petrobras, mas quase todas empresas estatais foram esvaziadas para depois serem privatizadas.”
Segundo o coordenador da FUP, nos últimos anos houve um grande investimento por parte da empresa e um crescimento das operações da Petrobras. “Hoje, pode haver um problema aqui, outro ali, mas dizer que ela está em crise é demais. No ano passado, o lucro da Petrobras foi de R$ 21,8 bilhões. Poucas empresas no mundo tiveram um desempenho semelhante”, disse.
Em seu Twitter, o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra (2003 – 2005) postou mensagens contestando as denúncias de má gestão e aparelhamento na Petrobras. Dutra foi nomeado para a presidência da estatal pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Quando cheguei na Petrobras em 2003 havia três ex-deputados do PSDB ocupando cargos. Não vou dizer os nomes em respeito a eles”, afirmou na rede social.
Dutra também apresentou informações comparando a produção e o lucro da estatal durante os governo tucano e petista e sobre as denúncias feitas pelo PSDB de que o PT teria “quebrado” a Petrobras. “PSDB diz que PT quebrou a Petrobras, mas só compara 2012 com 2010. Por que não comparam com 2002?”, escreveu. “Produção de Óleo no Brasil: 2012 – 1,5 milhões de barris; 2002 – 1,98 milhões de barris. Investimento: 2002 – R$ 19 bi; 2012 R$ 84,1, Lucro: 2002 – R$ 8 bi; 2012 – R$ 21 bi. Valor de Mercado: 2002 – US$ 15 bi, 15ª (empresa) do mundo; 2012 US$ 113bi, 8ª (empresa ) do mundo”.
A Petrobras respondeu ontem (13), por meio de nota divulgada pela assessoria de imprensa, as críticas feitas ontem pelos tucanos à gestão da companhia feitos durante o ato político “Recuperar a Petrobras é o nosso desafio – a favor do Brasil, a favor da Petrobras”, realizado na Câmara dos Deputados.
Lideranças do PSDB acusam o governo de gerir a Petrobras de maneira partidarizada e aparelhada pelo PT. Os tucanos afirmam que o aumento do investimento no refino de petróleo causa prejuízo. “A Petrobras enterra em refino um terço de seu orçamento. Em 2012, foram R$ 32 bilhões. Mas a contribuição da área de refino nos resultados da empresa tem sido negativa”, afirmam, também em nota.
A Petrobras afirma que a equação tucana não leva em consideração a economia do país como um todo e o crescimento da economia verificado nos últimos 12 anos. “Entre os anos de 2000 e 2012 o consumo de gasolina no país cresceu 68%, o de diesel, 46%, e o de querosene de aviação (QAV), 58%, reflexo evidente do crescimento da economia, da melhora das condições de emprego e renda da população e da ascensão das classes sociais”, afirma. “Diante de um mercado que cresce muito mais do que a média mundial, fica clara a necessidade de ampliação do parque de refino, retomando os investimentos em novas unidades, o que não era feito desde 1980, 33 anos atrás”, afirma a companhia.
Segundo a Petrobras, a eficiência de sua gestão nos últimos dez anos se revela no fato de que “o Brasil atingiu a autossuficiência em petróleo em 2006 e a produção de petróleo no país equiparou-se ao volume de derivados consumidos à época”.
A empresa reconhece, porém, que houve um descompasso entre a demanda por derivados e a produção no país. “Entre 2007 e 2012, no entanto, a demanda por derivados cresceu 4,9% no Brasil, contra um crescimento de 3,4% na produção de petróleo”, esclarece a nota. A companhia prevê que a partir de 2014 a produção de petróleo no Brasil voltará a “atingir a autossuficiência volumétrica, ou seja, volumes iguais de petróleo produzido e de derivados consumidos, contando a produção da Petrobras + parceiros + terceiros”.
A nota explica ainda que o Brasil “nunca foi autossuficiente em derivados”, “sempre importou e continuará importando derivados até que entrem em operação as novas refinarias previstas no Plano de Negócios e Gestão 2012-16 da Petrobras”. De acordo com as previsões da companhia, sua curva de produção apresentará um crescimento contínuo, até atingir 2,5 milhões de barris por dia em 2016 e 4,2 milhões de barris por dia em 2020. “A produção de petróleo passará então a superar a produção de derivados, o que dará ao país, também, autossuficiência em derivados”. Em janeiro de 2013, a produção foi de 1,965 milhão de barris/dia.
Confiança e mercado
De acordo com os tucanos, a empresa perdeu em dois anos 47,7% do seu valor de mercado, e é vista, atualmente, com desconfiança por esse mesmo mercado. A companhia reconhece a queda, mas diz que o valor de mercado da Petrobras era de R$ 398 bilhões e, no último dia 11 (segunda-feira), de R$ 234 bilhões. A perda, portanto, foi de 41,2%, segundo os cálculos oficiais.
No seminário de Brasília, os tucanos disseram que a Petrobras, hoje, “é a imagem da desconfiança e de prejuízos”.
“Não há desconfiança”, responde a companhia. “A Petrobras tem grande facilidade de acesso ao mercado de dívida, a baixos custos, por meio de diversas fontes. Portanto, são justamente estes investimentos elevados que irão gerar retornos para nossos acionistas. A Petrobras é hoje reconhecida pelo mercado como a empresa que dispõe do melhor portfólio de ativos de petróleo e gás dentre todas as companhias de capital aberto no mundo”.