Metalúrgicos da Ford conquistam licença remunerada para participar de curso de formação no Sindicato

É a primeira vez que um programa de formação sindical com esse formato acontece no Brasil. ..





CUT

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a Ford do Brasil assinaram na tarde desta terça, dia 13, acordo que garante que os trabalhadores da empresa tenham um dia de licença remunerada por ano para frequentar um curso de formação político-sindical. As aulas vão acontecer nas dependências da entidade sindical.

A assinatura do acordo, na sede do Sindicato, contou com as presenças do presidente da CUT, Artur Henrique, do Sindicato, Sérgio Nobre, e do presidente da Ford do Brasil, Marcos de Oliveira.

É a primeira vez que um programa de formação sindical com esse formato acontece no Brasil.

Essa conquista veio através de convenção coletiva assinada durante a Campanha Salarial 2009, e vai abarcar os 13 sindicatos de metalúrgicos da CUT no Estado de São Paulo e vai beneficiar aproximadamente 200 mil trabalhadores. A primeira empresa a formalizar o acordo foi a Mercedes, no dia 28 de junho.

O curso, que já vem sendo chamado pelos sindicatos de Programa de Formação da Base, vai acontecer na sede dos sindicatos. Apesar de o princípio da licença remunerada já estar garantido, a participação no curso será escolha de cada trabalhador ou trabalhadora. O conteúdo daquele que pode ser considerado o primeiro módulo do curso vai se concentrar no tema convenção coletiva – como se constroem as pautas, como são encaminhadas e negociadas, e a importância de cada trabalhador nas conquistas e consolidação da representação sindical.

Os sindicatos continuam fechando, empresa por empresa, detalhes da participação dos trabalhadores – datas e quantidade de pessoas.

Enquanto isso, os componentes das Comissões Sindicais de Empresa (CSE), nome que os metalúrgicos cutistas dão à Organização no Local de Trabalho (OLT), estão passando por um período de preparação, com ajuda das subseções do Dieese que atuam nas entidades sindicais. É pelas CSE’s que passa o trabalho de convencer os trabalhadores e trabalhadoras a participar.

As comissões, na verdade, estão na raiz desse projeto. Funcionando como uma espécie de subsede dos sindicatos no interior das empresas, com integrantes eleitos pelos companheiros das fábricas, as comissões tem autonomia e poder político para tratar diretamente com as direções das empresas os assuntos de interesse cotidiano dos funcionários. Esta é vista como a maneira mais aprimorada de aproximar o sindicato da base – e o Programa de Formação da Base tende a ampliar o número e o alcance dessas comissões. No ABC, por exemplo, existem 96 empresas com CSE.

"Esse é um passo importante para espraiar a democratização das relações de trabalho no Brasil, bandeira histórica da CUT", afirma o presidente da Central, Artur Henrique.

"Nosso objetivo é que cada vez mais os trabalhadores tenham a oportunidade de se qualificar, e que nossa organização sindical fique cada vez mais fortalecida", resume Valmir Marques, o Biro-Biro, presidente da FEM-SP (Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT).

Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, a iniciativa insere-se na luta para que a base se aproprie cada vez mais de seu papel cidadão. "O curso vai ajudar o trabalhador a entender sua relação com a empresa, o que está em jogo além do que o cotidiano permite ver, e investi-lo de mais autonomia na busca por seus direitos".

A meta de consolidar esse programa de formação foi estabelecida em 2003, em resolução aprovada pelo 4º Congresso dos Metalúrgicos do ABC, que tem atuado na proa do projeto. E não deve parar por aí. "Nos permitimos sonhar com a construção de uma faculdade dos trabalhadores", diz Walter Souza, diretor do Sindicato do ABC e coordenador do Programação de Formação da Base. O Sindicato, inclusive, já adquiriu um prédio em São Bernardo, com esse objetivo.

Enquanto o prédio está em reforma, a previsão é que a sede da FEM, na capital paulista, receba 400 trabalhadores por mês, em duas turmas semanais. "À medida que o programa evoluir, é possível prever volume de aulas para a maioria dos dias do ano", calcula Souza, considerando também a elaboração de novos conteúdos.