João Antonio Felício, secretário de Relações Internacionais da CUT
A bem da memória e da verdade, e para fazer justiça aos nobres ideais de Nelson Mandela e à sua vida de lutas e sacrifícios em prol dos valores mais dignos da Humanidade, é necessário fazer um registro do papel nefasto que tiveram no passado os governos dos EUA, Inglaterra e Israel na sustentação política, econômica e militar ao apartheid. Verdades que hoje são olimpicamente ignoradas ou mascaradas pelos grandes conglomerados privados de comunicação, que também cumpriram o seu papel desinformativo em prol da segregação racial. Barbárie que só foi derrotada quando as forças democráticas promoveram uma campanha mundial de boicote aos produtos da África do Sul.
Além das inúmeras votações na ONU, em que impediram por inúmeras vezes qualquer sanção ao regime sul-africano, EUA, Inglaterra e Israel colaboraram durante décadas com os racistas, com quem nutriam profundas afinidades e recebiam reciprocidades.
Conforme o próprio The New York Times, desde o encarceramento de Mandela em 1962, a CIA teve um papel destacado na perseguição e prisão do líder, infiltrando um agente no Congresso Nacional Africano (CNA) e repassando todas as informações à polícia sul-africana. Até 2008 o ex-presidente da África do Sul, principal líder do continente negro e prêmio Nobel da Paz constou da lista de “terroristas” do governo dos Estados Unidos, alcunha também reverberada pelas lideranças da Inglaterra e de Israel.
Da mesma forma que atuou em apoio ao genocídio dos indígenas guatemaltecos, onde inclusive instalou uma fábrica de munições, Israel vendia armas para o governo sul-africano, com quem manteve uma aliança militar por anos, apesar do boicote generalizado de quase todas as nações do planeta. Os sionistas só vieram a somar-se ao embargo decretado pela comunidade internacional ao apartheid em 1987, 10 anos depois, quando o regime já era praticamente um pária.
Na reunião internacional do Commonwealth (Comunidade de Nações integrada pela África do Sul até 1994, com o fim do apartheid) em outubro de 1987, a Inglaterra foi terminantemente contra a adoção de quaisquer sanções aos racistas. A associação de estudantes conservadores, filiados ao partido da primeira ministra Margaret Thatcher, foi além e distribuiu manifesto proclamando: “Enforquem Nelson Mandela e todos os terroristas do CNA! São carniceiros”. A dirigente inglesa recusou qualquer encontro com o CNA até a libertação de Mandela, em fevereiro de 1990.
Que o exemplo de Mandela seja seguido com sinceridade por todos os governos do mundo e não somente agora. E que, juntos, viremos a página do apartheid de Israel contra o povo palestino.