Mais rigor da Justiça ou casuísmo contra governo identificado com a classe trabalhadora?

Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

A determinação do STF para a execução imediata das penas de condenados na Ação Penal 470, antes mesmo que seus recursos tenham sido julgados, constitui casuísmo jurídico e fere o princípio da ampla defesa.

Num país onde Paulo Maluf e Brilhante Ustra estão soltos, enquanto Zé Dirceu e José Genoino dormem na cadeia, qualquer um percebe que as coisas estão fora de lugar e não se sabe o que virá pela frente.

A situação mais preocupante é de Genoino. Ilegalmente encarcerado em regime fechado, ele está numa situação de violação de direitos humanos.

O ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF, sabe que a sua saúde é frágil. No final de julho, Genoino teve aneurisma da aorta. Quase morreu. Será que o presidente do STF vai completar o que a ditadura começou?

Em nota, José Dirceu resumiu o sentimento de todos: “Não importa que me tenham roubado a liberdade: continuarei a defender por todos os meios ao meu alcance as grandes causas da nossa gente, ao lado do povo brasileiro, combatendo por sua emancipação e soberania”.

O rigor adotado pelo Supremo nesse proces¬so chegou ao absurdo da condenação sem provas. Esse rigor vai existir no julgamento do mensalão tucano? Do caso Carlinhos Cachoeira e Marconi Perilo? Ou foi apenas uma vingança de quem não aceita as vitórias de Lula e Dilma?

A História mostrará se este julgamento é de fato o resultado de maior rigor em relação aos chamados crimes de colarinho branco ou se não se trata apenas de casuísmo jurídico, preconceituoso em relação a um governo democraticamente eleito e identificado com as causas dos trabalhadores.

A história já julgou esses companheiros

Zé Dirceu

Foi líder do movimento estu­dantil na década de 1960, quando organizou passeatas gigantescas contra a ditadura. Encarcerado pelo regime militar em 1968, foi um dos 15 presos libertados em troca do embaixador norte-americano. Bani­do do País, trabalhou e estudou em Cuba. Retornou clandestinamente e viveu no interior do Paraná de 1974 a 1979. Um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, Zé Dirceu representou o PT no Comitê Intrapartidário Pró-Eleições Diretas para Presidente. Foi eleito deputado federal três vezes.

Trabalhou na apuração de irregularidades que levaram ao impeachment de Fernando Collor. Dirceu sempre atuou nas greves da categoria, participou de debates no Sindicato e contribuiu com os Meta­lúrgicos do ABC quando chamado. Em 1995 assumiu a presidência nacional do PT e foi reeleito por duas vezes.

Integrou a coordenação das campanhas de Lula à Presidência da República em 1989, 1994 e 1998, sendo o coordenador-geral em 2002. Assumiu a Casa Civil da Presidência da República de 2003 a 2005, quando retornou à Câma­ra dos Deputados. Em 2013, foi homenageado na festa de 30 anos da CUT.

Genoino

 Ingressou no PCdoB, partido que defendia a luta armada contra o governo militar, em 1968, aos 22 anos. Após o AI-5, em dezembro de 1968, passou a viver na clandestini­dade. Em 1970 foi para Goiás com o objetivo de lutar na Guerrilha do Araguaia, a principal ação do PCdoB contra a ditadura. Capturado pelos militares em 1972, foi barbaramente torturado e quase morreu na prisão, onde ficou até 1977. Anistiado em 1979, em 1982 foi eleito para seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados, onde ficou até fevereiro de 2003.

Em todo este período parti­cipou dos principais embates da categoria, dando cobertura parla­mentar contra a repressão em várias greves, além de organizar cursos de Formação para a base. Participou da Campanha das Diretas e da Constituinte, atuou de forma ativa no pro­cesso de Impeachment do Collor. Em 1998 foi reeleito ao seu quinto mandato de deputado federal, com 307.000 votos, a maior votação do País. Nas eleições de 2002, Genoino foi o candidato do PT ao Governo de São Paulo, quando teve mais de 8 milhões de votos. Em dezembro de 2002, Genoino assumiu a presidência nacional do PT. Sua atuação foi vital para o início do processo de transformação do País.