No 23º dia da greve de fome e depois que a militante Zonália Santos passou mal e foi atendida pelos médicos que cuidam do grupo, mais dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Barroso e Rosa Weber, decidiram receber os grevistas, nesta quarta-feira (22).
Os sete militantes de movimentos sociais, que estão em greve de fome por justiça para o ex-presidente Lula e contra a miséria desde o dia 31 de julho, querem que a Corte Suprema cumpra a determinação do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) de que o Estado Brasileiro garanta a Lula os direitos políticos e a participação nas eleições presidenciais deste ano.
Exigem também que o STF paute as Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs) 43 e 44, que tratam da prisão após condenação em segunda instância, como é o caso de Lula, mantido preso político na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba (PR), desde o dia 7 de abril.
Lula foi condenado pelo juiz Sérgio Moro no caso do tríplex do Guarujá, sem crime nem provas de qualquer ato ilegal. O que foi comprovado é que o apartamento não pertence ao ex-presidente e, sim, a construtora OAS. Mesmo assim, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) confirmou a decisão de Moro.
Os grevistas querem que Lula responda o processo em liberdade até o caso ser decidido na última instância da Justiça. Eles acusam o Poder Judiciário de violar a Constituição e impedir o povo de escolher pelo voto, soberanamente, nas eleições deste ano, o próximo Presidente da República.
No primeiro dia da greve de fome, os ativistas pediram audiências aos 11 ministros do Supremo. Até o momento, foram atendidos pela presidente, ministra Carmen Lúcia, que ouviu um dos grevistas; pelo ministro Ricardo Lewandowski, que recebeu todos os ativitas, e pelos funcionários do ministro Gilmar Mendes.
Nesta quarta, serão recebidos pela ministra Rose Weber e pela chefe de gabinete do ministro Luís Barroso os grevistas Frei Sérgio Görgen e Rafaela Alves, ambos do Movimento dos Pequenos Agricultores ( MPA), Luiz Gonzaga, o Gegê, da Central dos Movimentos Populares (CMP); e Jaime Amorim, Zonália Santos e Vilmar Pacífico, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); além de Leonardo Soares, do Levante Popular da Juventude.
Militante passou mal
Na terça-feira (21), no momento em que era realizada uma mobilização em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, organizada pela Frente Brasil Popular, uma das ativistas do grupo, Zonália Santos, 48 anos, passou mal e foi atendida pelos paramédicos do SAMU e encaminhada para o Hospital regional Asa Norte. Ela é assentada da reforma agrária em Rondônia. Após receber atendimento médico, Zonália retornou ao Centro Cultural de Brasil, onde permanece em repouso e segue em observação.
Revolta
A situação de risco à vida dos sete ativistas tem sido alertada pelos médicos que acompanham a greve de fome, mas eles continuam irredutíveis e prometem ir até às últimas consequências até que o STF se sensibilize com as reivindicações.
Líderes de movimentos que apoiam o protesto expressaram repúdio à insensibilidade de ministros do Supremo. Maria Kazé, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) culpa o STF pela situação.
“O Supremo não demonstrou até agora um mínimo sinal de sensibilidade para com os companheiros e companheiras que estão há 23 dias esperando dolorosamente para serem recebidos por um ministro, por uma ministra”.
Os militantes já perderam mais de 10 quilos e apresentam problemas como alteração na glicemia e queda na pressão arterial e temperatura corporal. Mas todos eles reforçam que a greve só acaba quando a ministra Carmen Lúcia coloque em votação as ADC´s.
Os grevistas
Frei Sérgio Görgen, 62 anos, gaúcho, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), diz que os ministros do STF precisam voltar a ter algum tipo de conexão com a população brasileira.
Rafaela Alves se manifesta por meio de versos: “A situação está extrema / Para onde vai a nação? / Com epidemias, desemprego / Sem saúde, educação / Políticas Sociais extintas / Resta abandono destruição. / Contra negros, jovens, mulheres / A violência só alimenta / Os preços desenfreados / O povo já não aguenta / A mídia segue mentindo / Nossas redes a enfrenta”.
Completando 68 anos em meio à Greve de Fome, Gegê Gonzaga, paraibano radicado em São Paulo, representa a Central dos Movimentos Populares (CMP), tem uma vida inteira dedicada à luta social. Segundo ele, “a resposta precisa começar de baixo pra cima e não de cima para baixo, somente assim o pobre, o trabalhador, o negro, o indígena, o camponês vão ter espaço de representação”.
Já a avó-coragem, Zonália Santos, 48 anos, assentada da reforma agrária em Rondônia, não hesitou em deixar a rotina junto dos filhos e netos para agregar a força e a garra da mulher sem-terra na greve de fome. “Nós não estamos aqui nos manifestando apenas pelo direito do presidente Lula em ter um julgamento justo, nós estamos manifestando nossa contrariedade com a volta da fome, da miséria da exploração”.
O pernambucano Jaime Amorim, 58 anos, dirigente do MST e da Via Campesina, diz que o ato reafirma sua opção política e coloca em destaque denúncias que têm sido ignoradas pelo Poder Judiciário, que tem se mostrado subserviente ao grande capital.
“Passar fome nesta greve é uma opção militante, colocamos nossas vidas aqui para que se possa evitar que milhões de brasileiros e brasileiras passem fome por não ter comida na mesa, passem fome por não ter opção”, afirmou.
Também militante do MST, Vilmar Pacífico, 60 anos, veio do Paraná, falou sobre a indignação de um povo que enfrenta diariamente a pressão e a agressão por parte das forças do estado. “A justiça deveria servir ao povo, deveria ser o lugar onde pudéssemos nos socorrer, mas a verdade que temos observado a cada dia é que ela também está se prestando ao serviço do capital e virando as costas para aqueles a quem deveria cuidar”.
Já Leonardo Soares, 22 anos, do Levante Popular da Juventude, que aderiu à luta em 6 de agosto, diz que “essa greve de fome tem a função de fomentar a participação e a organização do povo”. Segundo ele, a luta que os ativistas empreendem é por uma causa justa, que aglutina o povo e propõe a organização como ferramenta principal na disputa que se configura no atual processo.
[Via CUT com informações da Comunicação da Greve de Fome e TVT]