“Mais do que uma vergonha, o apartheid de Israel é um crime contra a Humanidade”

Afirmou João Felício, secretário de Relações Internacionais da CUT, em visita de solidariedade à Palestina…





 

CUT

Em visita de solidariedade à Palestina, o secretário de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT), professor João Antonio Felício, participou ao lado da secretária-geral da Confederação Sindical Internacional (CSI), Sharon Burrow, das comemorações do 1º de Maio em Ramalah. Em entrevista ao Portal do Mundo do Trabalho, o líder cutista fala da alegria e da calorosa recepção palestina, denuncia o roubo de 80% da água dos territórios ocupados ilegalmente por Israel e dos mais de 800 quilômetros de muro construídos pelos sionistas para segregar a população árabe. “Vi de perto a determinação de um povo que resiste a ser expulso do seu próprio país, que resiste à diáspora, e reafirmei a minha convicção de ampliarmos a mobilização e a luta para colocarmos abaixo o vergonhoso muro com que Israel reproduz, em pleno século 21, a política de apartheid contra os negros adotada pela África do Sul no século passado. Mais do que uma vergonha e uma agressão ao povo palestino, o apartheid de Israel é um crime contra a Humanidade”. Segundo a OIT, mais de 70% dos palestinos encontram-se desempregados e dois terços da população vivem com menos de dois dólares diários.

Como foram as comemorações do 1º de Maio na Palestina?

Foi um ato extremamente expressivo em Ramalah, onde todos manifestaram uma alegria muito grande pela presença de um representante da CUT, com quem já estiveram tantas vezes compartilhando em nossos congressos no Brasil, e também da secretária-geral da Confederação Sindical Internacional (CSI), Sharon Burrow.

O que mais chamou achou atenção nestes dias de visita a um país ocupado?

Uma coisa é ouvir falar, a outra é presenciar. Ao longo dos percursos onde se erguem inúmeras barreiras militares que impedem o deslocamento e fazem com que trajetos curtos virem horas, temos uma visão nítida, bastante clara, de que a ação do Estado de Israel é criminosa. Por outro lado, vi de perto a determinação de um povo que resiste a ser expulso do seu próprio país, que resiste à diáspora, e reafirmei a minha convicção de ampliarmos a mobilização e a luta para colocarmos abaixo o vergonhoso muro, de mais de 800 quilômetros, com que Israel reproduz, em pleno século 21, a política de apartheid contra os negros adotada pela África do Sul no século passado. Tive a oportunidade de andar em Jericó e em Nablus, cidades de milhares de anos, e vi muro para todo o lado. Não é só para impedir que os palestinos circulem, sob o argumento de segurança para os israelenses, é para pressionar para que as pessoas deixem a sua casa, o seu terreno, o seu país. É algo extremamente indigno e que merece um olhar da ONU e de todo o mundo para que se faça pressão sobre Israel a fim de que reconheça de uma vez por todas o Estado palestino. Mais do que uma vergonha e uma agressão ao povo palestino, o apartheid de Israel é um crime contra a Humanidade.

Como avalias a recente unificação de bandeiras do Fatah e do Hamas?

Os palestinos deram inúmeras demonstrações de que aceitam conviver em paz com Israel dentro das fronteiras de 1967. A unificação do Fatah e do Hamas é uma importante demonstração de unidade, que soma para libertar seu país da ocupação estrangeira. Obviamente, os brucutus da direita reacionária israelense de tudo fazem para que não ocorra esta união de forças pela libertação. Dirigentes israelenses chegaram a declarar que ou o Fatah – que dirige a Autoridade Nacional Palestina (ANP)-, faz a paz com Israel ou com o Hamas. Ou seja, querem expulsar os palestinos de todo jeito e apostam na divisão das suas lideranças.

Fale um pouco sobre a agenda de visitas e reuniões.

Estivemos presentes em várias atividades com ministros, prefeitos e governadores da região que nos expuseram sobre a gravidade da situação econômica devido ao cerco imposto pelas tropas israelenses e do significado importantíssimo da solidariedade internacional. Quando chegamos em Jericó, por exemplo, notamos a falta de água, pois Israel bloqueia a nascente e só deixa chegar 20% às torneiras palestinas. Depois de assaltar este bem precioso, ainda mais numa região desértica, os israelenses vendem a água aos palestinos. É um tipo de agressão criminosa a um povo que mora lá há milhares de anos.

CUT e CSI se somaram na denúncia à política do apartheid…

Em todos os encontros, a CUT e a CSI reiteraram a solidariedade contra essas violações e do nosso empenho em fortalecer uma alternativa negociada que acabe com a ocupação e garanta uma Pátria ao povo palestino. Precisamos assegurar condições de vida e trabalho dignas, salário mínimo, consolidar a seguridade social, direitos, ampliar a participação. Mas com um país ocupado tudo isso fica inviabilizado. O que fica evidente é a disposição do governo de Israel de exterminar o povo palestino. Isso pode ser visto pelo avanço do muro, pela destruição das casas palestinas, pela inutilização econômica de regiões inteiras. Em visita à Telavive, ao contrário da riqueza e da beleza de uma arquitetura antiga, como se vê em Ramalah, Jericó ou Jerusalém, podemos ver que é uma cidade americana encravada no mundo árabe. Israel é um país construído pelos europeus e americanos, seu governo é dominado por religiosos de extrema direita que contam com apoio financeiro das grandes potências para se manter ali. A linha deles é: dane-se os palestinos.

Diante de tudo isso, quais os próximos passos da solidariedade?

Em conversa com os dirigentes sindicais, acordamos realizar no mês de novembro uma Conferência Sindical na Palestina, que debaterá temas pontuais como o desenvolvimento regional, a seguridade social, os direitos da juventude. Acho que esse evento vai somar e multiplicar as mobilizações internacionais, dos movimentos social e sindical, em defesa dos direitos humanos do povo palestino. No Brasil, a CUT vai dialogar com a Coordenação dos Movimentos Sociais sobre a realização de uma ação nacional de solidariedade, com maior envergadura, para dar maior projeção ao tema.

Um balanço final…

Fazendo um balanço, posso dizer, sem qualquer exagero, que foi uma das viagens mais bonitas que fiz ao longo de toda minha vida. Vamos relatar tudo o que vivemos intensamente nestes dias para que esta experiência abra portas para um futuro de paz, justiça e desenvolvimento para o povo palestino, que merece viver num país livre.